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Pensamentos

O sujeito dá aleluia, mas não dá esmola, denuncia a homoafetividade, mas não denuncia a fome, ora com mãos levantadas aos céus, e as recolhe para agir na terra, evita a bebida alcoólica, mas não evita a maledicência, dá o dízimo, mas sonega o imposto, foge da fornicação, mas morre na masturbação, amarra satanás, mas desamarra sua ira, veste roupa sóbria, mas despe a intimidade da alma dos outros, come o pão na Ceia, mas nega o mesmo pão ao faminto, não aceita o divórcio na justiça, mas divorcia-se do cônjuge na cama, diz que vê os anjos, mas é incapaz de ver os mendigos, luta contra demônios, mas não luta contra a injustiça, decora os versículos da bíblia, mas desconhece os direitos humanos, vai para o culto no domingo, mas desfaz o que lá aprendeu na segunda, ouve a Palavra, mas não ouve o bom senso, fala língua estranha, mas não estranha usar a mesma língua para difamar os outros, adora mandar pessoas para o inferno, mas vive no inferno dentro de sua própria casa, é exemplar no trabalho da igreja, mas réprobo no trabalho da empresa, abraça a moral estética, mas afasta-se da prática ética! Desculpa, mas vocês querem me convencer que isso aí é o Evangelho?


Em minha experiência na fé, nestes 35 anos de caminhada, constato que não são os mais qualificados que executam tarefas difíceis, nem os mais cultos os que ensinam conteúdos complexos, nem os mais fortes que dão sustentação nas crises, nem os mais inteligentes que trazem as melhores propostas. Sim, não são os mais ricos que fazem generosas doações, nem os que possuem os melhores recursos que acolhem os que sofrem, não são os críticos que promovem as grandes revoluções, nem os disponíveis que se comprometem com agendas de serviço. Nestes tantos anos, acabei percebendo que não são os que mais leram a bíblia os que a colocam em prática, nem os que mais jejuam que se tornam santificados, as melhores mensagens que ouvi não foram pregadas em púlpitos e os livros que mais me impactaram foram escritos com sangue e suor de gente anônima e sem pedigree. Jesus afirmou que muitos eram chamados, mas poucos escolhidos, e os escolhidos não o foram porque estavam marcados para a salvação, mas porque se deixaram marcar pelo amor que se desdobra em serviço solidário e compaixão misericordiosa. A barba branca e as rugas nos olhos me fizeram enxergar melhor, currículo religioso não me chama a atenção, gente que fala muito, faz pouco, críticos, jamais levantam a bunda da cadeira, quem se arvora a dizer que tem “X” anos de convertido, via de regra, deixou de ser combativo, gente que quer cargo, foge do tranco, quem posa no “altar”, escorrega na coxia, quem muito bajula, quer deferência, quem dá “dízimo gordo”, quer privilégios, quem almeja ser ordenado, jamais entenderá o que é ser enviado, quem levanta muitos as mãos no culto, não raro, as encolhe ao necessitado, o músico sabe todas as canções, mas poucos encarnam o que catam, quem ora em alta voz, em língua estranha, não consegue discernir o grito de socorro do necessitado, o profeta nunca profetiza para si mesmo. Sim, eu poderia escrever livros sobre o que vi e vivi dentro de igreja, essas experiências são a minha riqueza, são um convite para que eu ande com humildade e faça o bem, para que me desvie do mal e aprenda com os simples de coração..

Eu não quero que haja igualdade entre homens e mulheres, quero que haja equidade, não desejo que mulheres ocupem determinados lugares na sociedade só por serem mulheres, mas por serem capazes, gosto do fato de homens e mulheres serem diferentes física e emocionalmente. O machismo é a prova de como uma ideologia pode ser perversa, aí as mulheres imaginaram que o problema se resolveria criando uma outra ideologia para combate-lo. Resultado: tornaram-se iguais a tudo o que reprovam, ficaram raivosas, intransigentes, orgulhosas e intolerantes...


O “Conde de Monte Cristo” fica bem na ficção, mas, na vida real, não. A Escritura afirma que bem-aventurado é aquele que tem “Fome e Sede de Justiça”, não de vingança, onde exacerba-se o desejo de vingança, dilui-se a possibilidade de justiça. A vingança é passional, a justiça é racional, a vingança não tem limites, a justiça caminha nos trilhos da lei, a vingança é movida pelo ódio, a justiça pela verdade, a vingança vinga aquele que sofreu o dano, a justiça disciplina a sociedade. Lembre-se: conforme o Evangelho, a sua justiça deve exceder em muito a dos políticos e religiosos deste tempo, “Do Outro Lado do Paraíso” que a vingança tenciona proporcionar, só existe um inferno para alma e um dano eterno ao coração... 

“E vós, quem dizeis que eu sou?”. Mt. 16:15. Jesus nunca se preocupou em se auto-definir diante das inquietações das multidões e de seus próprios seguidores. Em seu tempo, como sabemos, havia muitas correntes de pensamento secular, como a filosofia dos estóicos e dos epicureus, as seitas de mistérios, as crenças gnósticas, além, obviamente, das “denominações” do judaísmo, como os fariseus, os saduceus, os herodianos, os essênios, sicários e zelotes. Mas Jesus não cabia em caixinhas, nem se apresentava como intelectual, abraçando assim a sofisticação do pensamento helenista, nem como ativista político de esquerda, comprometido com a libertação do jugo romano e com a proposta de uma pseudo transformação social, nem como religioso, participando do sindicado do sinédrio e preso à liturgias e ritos da fé de Israel. Jesus era do Evangelho e era o Evangelho, não podia ser enquadrado dentro dos limites da razão humana, nem se prestava a estar preso a dogmatismos ou ideologias, ele era Livre e nos chamou a andar nessa liberdade de ser, tendo a consciência pacificada pela Graça. Por isso, em Jesus, não há rótulos, nem logomarcas, nem bandeiras, nem nada que nos coloque dentro do aquário das tendências humanas pois, em Jesus, nós adquirimos o direito a possibilidade de existir para além das questões de etnia, credo, cor, raça, gênero, condição social, crença religiosa, filosofia política, formação intelectual ou qualquer outra corrente que tente nos designar como sendo qualquer coisa, que não, apenas, Filhos de Deus...

Deus não quer dirigir você, ele quer lhe mostrar uma direção, não quer decidir por você, quer lhe dar valores para fazer escolhas, não quer agir por você, quer lhe dar a motivação certa para agir em favor dos outros, não quer pensar por você, quer lhe dar a consciência do Evangelho para que pense de forma correta, não quer viver por você, por isso lhe deu uma vida para que faça com ela o melhor que puder, mas quis morrer por você, para que todas estas coisas acima pudessem estar ao seu alcance. Quem afirma: “Deus está no controle” e abre mão de existir, sem perceber, torna-se marionete nas mãos não de Deus, que não manipula ninguém, mas da religião e daqueles que buscam os seus interesses. A soberania de Deus é justamente lhe deixar viver e, ainda assim, nada sair do seu domínio, pois, ainda que você escolha o mal, ele conspira para lhe colocar, novamente, no caminho do bem.


Evangelizar não é falar sobre Jesus é fazer como Jesus, não é compartilhar uma informação é repartir uma consciência, não é ensinar uma doutrina é encarnar um estilo de vida. Evangelizar não tem nada a ver com distribuir panfletos no sinal de trânsito, mas em distribuir comida para os transeuntes que estão nas esquinas do mundo, o papel impresso com um texto não fará nada por ninguém, o pão entregue com espírito solidário matará a fome e demonstrará respeito e amor pelo outro. É triste ver que a igreja transformou Jesus num produto que precisa de publicidade, de propaganda, é preciso dizer às pessoas que Jesus faz isso, ou aquilo, que ele resolve problemas, cura doenças e refaz casamentos gangrenados, algo como um “cartão de visitas” para dar credibilidade a mensagem. Ora, onde na bíblia você vê isso? Pedro não disse: “Aceite Jesus porque ele vai resolver os seus problemas.”, mas afirmou: “Arrependam-se de seus pecados e serão salvos!”. Ele não transformou a mensagem num discurso marqueteiro, mas falou a Verdade e foi por conta disto que o Espírito Santo compungiu o coração daqueles que estavam ouvindo e cinco mil pessoas se converteram. O que vejo neste tempo é gente se tornando membro de uma agremiação religiosa, não pessoas tendo a consciência de que fazem parte do Corpo de Cristo, e para você entrar no clube, vale tudo: pregador de sucesso, banda de música gospel, luzes, pirotecnias, gelo seco, apelos melodramáticos, chantagens, manipulações, é o show dos horrores, mas a igreja chama isso de “culto de evangelismo”. Não seria exagero afirmar: “Se alguém está na igreja, nova criatura é, as coisas velhas já passaram, tudo se fez novo”, pois é este tipo de estelionato que se faz nos templos e catedrais no mundo inteiro, divulga-se uma marca denominacional, não a marca do Sangue do Cordeiro tingida sobre mentes e corações, "venha para a igreja" – eles afirmam – ao invés de dizer "venha a Jesus!".

Só para lembrar: a igreja serve a Jesus, não Jesus a igreja, e aqui temos um descomunal problema: Jesus não cabe na igreja! Sim, para ele caber na igreja precisa fazer dieta comportamental, aeróbica doutrinária, musculação de etiquetas, plástica de consciência para entrar nas vestes da religião. Convenhamos, Jesus é um problema, pois fica difícil falar em “santidade”, com ele comendo e bebendo em roda de pecadores, fica difícil falar em dízimos, quando ele vivia de ofertas, fica difícil falar em templo, uma vez que ele era um homem do Caminho, ou falar de ministérios hierarquizados, tendo ele dito que entre os discípulos todos eram apenas amigos e o maior serviria os demais. Que incômodo, não! Aí, para satisfazer nosso apetite religioso, nós “convertemos” Jesus ao cristianismo, transformamos ele num católico romano. Depois, nós o obrigamos a fazer profissão de fé e aí ele virou protestante reformado. Contudo, não satisfeitos ainda, nós ensinamos Jesus a falar em língua estranha e então ele passou a ser renovado, virou pentecostal! Jesus já foi gnóstico, essênio, agostiniano, ortodoxo, pietista, calvinista, anabatista, valdense, wesleyano, evangélico, liberal, da libertação, já foi G12, da missão integral e neopentecostal. Mas o que ninguém deixa é que Jesus seja Jesus, tenha a sua identidade respeitada, seja o Alfa e o Ômega, a Estrela da Manhã, o Lírio dos Vales, a Raiz de Davi, o Cordeiro de Deus, o Leão de Judá, o Primogênito entre os irmãos, seja Homem-Deus e Deus-Homem. E você? Em que “caixa” pôs o "seu" Jesus? Qual foi a "arte" que você fez para ele caber dentro da tua igrejola?


O “Caminho”, em Jesus, é diferente do “caminho”, na religião. Sim, pois na religião o “caminho” é sempre o mesmo, depende de códigos, de etiquetas, de liturgias, de catecismos, de sacrifícios, de purgações, de oferendas, de serviços prestados, de obras meritórias, de jejuns ascéticos, de orações renitentes. Esse “caminho” está posto, determinado, é trilha traçada, rota de desova da alma humana. Mas em Jesus, “Caminho” é outra coisa, pois o chão no qual se pisa ainda não existe, é feito pela fé, vai se construindo à medida que se caminha, um passo de cada vez. No “Caminho”, não importa a silhueta da estrada, se tem curvas perigosas ou retas fustigantes, o importante não é chegar, é ir sem cansar, pois quem faz da estrada a sua morada, não tem pressa de encontrar o por do sol. E assim, tornar-se é que é o grande desafio, ninguém está pronto na partida, vai sendo feito e refeito enquanto aprende que o solo sagrado da vida é pra ser percorrido pelo lado de dentro, por fora, seja qual for o chão, a gente acaba chegando, desde que a trilha do coração seja feita com a reverência de quem pôs os pés em terreno santo...

Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder o seu sono? Ora, coisa boa é deitar e dormir cheio de contentamento, puxar sobre si as cobertas da misericórdia e aquentar o coração na esperança. O sono dos simples é regado de sonhos bons, enquanto os aflitos injetam tranquilizantes na alma, para amortecer a realidade crua da vida, pecadores justificados pela fé deitam e descansam pacificados de suas guerras, sim, quem está em paz deita e dorme, quem a perdeu, ou nunca a achou, deita e sofre...

Quer impactar o mundo com sua religião? Então, ao invés de prender o cabelo, prenda sua língua, ao invés de aumentar o tamanho da sua saia, alargue o tamanho do seu coração, ao invés de condenar pessoas ao inferno, ajude-as a alcançar o céu. Sim, pare de ler a bíblia e passe a vivê-la, pare de profetizar e torne-se a profecia, para de lutar contra o diabo e passe a lutar contra a injustiça, pare de orar e passe a agir, ninguém muda o mundo na vigília, mas dentro da favela. Você quer mesmo impactar a sociedade com a mensagem de Jesus? Então, ao invés de abraçar os "irmãos" ao final do culto, abrace indigentes e invisíveis sociais, ao invés de tomar a Santa Ceia, com pão e vinho, seja pão para o faminto e derrame o vinho da alegria na vida dos depressivos, ao invés de dar dízimos ao templo, dê assistência ao pobre e ao invés de cantar canções de artistas gospel, seja a canção que acalenta os órfãos e consola as viúvas. Se você fizer isso, então eu passarei a acreditar na mensagem que você anuncia...


Desviado, para Jesus, é aquele que entregou sua alma ao diabo, aquele que não deseja o arrependimento. O indivíduo que deixa uma denominação religiosa, que se afasta de um “templo”, ou que sai do convívio dos irmãos, é apenas alguém que está exercendo seu livre direito de ir e vir, tanto garantido pela Constituição, quanto pelo próprio Senhor, que afirmou que, nele, nós poderíamos “entrar e sair e encontrar bom pasto”. Portanto, pare de chamar de “desviado” aquele que resolveu tirar umas férias da bizarrice de certas igrejas. Ao invés disto, chame o cara de “enviado”, aquele que deixou o gueto para se diluir no mundo, aquele que optou por dar novos sabores às vidas que se encontrarem, em amor, com a sua própria vida. Congregar tem que ser algo bom, do contrário, vira punição compulsória, congregar não é para contrariar, mas para pacificar. Se não é esse o caso, como se diz aqui no nordeste: “Pega o beco!”...


Há três tipos de espiritualidade neste tempo: a primeira é aquela marcada pelas manifestações físicas; o sujeito precisa sentir, ele precisa tremer, rodar, cair, ver coisas, ouvir vozes, se arrepiar, ficar com as pernas trêmulas, aflorar calafrios. No dia em que ele deixa de sentir estas coisas, essa divindade ligada aos músculos, tendões, nervos e pele, morre, a ausência das manifestações espasmódicas atesta a morte de “Deus”. A segunda forma de espiritualidade é a emocional, algo que reverbera através da psique do indivíduo, é a religião da alma, do choro convulsivo, da catarse histérica, da melancolia profunda, da tristeza sem razão. Se eu não me emociono, então, “Deus” deixou de falar comigo, se não dou rizadas estridentes ou me prostro em lágrimas incontidas, é porque meu coração congelou e minha fé para nada mais aproveita. O terceiro tipo de espiritualidade é aquela descrita por Paulo, que não depende nem do físico, pois o corpo está sujeito aos impulsos da carne, nem das emoções, uma vez que o coração do homem é enganoso, mas apenas do Espírito, que fala da parte de Deus e nos torna aptos a discernir as Verdades que dele provém. Gente que anda conforme o Espírito tem um centro de gravidade profundo, olha diferente, fala diferente, age diferente. Nem se dá a trejeitos e contorcionismos, nem a gritarias e melodramas, anda na plenitude da razão e guarda quebrantado o coração, veste-se de bom senso e adorna-se com a fé que justifica o justo


No Velho Testamento, o sacerdote tinha tantos paramentos em suas vestes que ficava difícil fazer outra coisa que não o ofício do sagrado. Era algo para o diferenciar dos demais, para impor respeito e admiração, para destacar e sublinhar seu ofício. Mas no sacerdócio de Jesus, segundo a ordem de Melquizedeque, a pompa foi deixada de lado, as vestes extasiantes e os adornos foram trocados pela simplicidade, pela humildade e pelo serviço, não tinha como identificar Jesus em meio a um ajuntamento de pessoas, por isso Judas o beijou para que os soldados pudessem prendê-lo. Sim, o requinte de Jesus era amar, sua sofisticação estava em seus gestos, no acolhimento do caído, no abraço do leproso, no perdão da prostituta, ele não era homem de cerimônias, não tinha a empáfia de Herodes nem as vestes de Caifás, vestia-se de justiça e misericórdia. Deus é escandaloso, ele choca pela forma de nos mostrar que o que importa não aparece, está no armário do coração, e é nessa dimensão onde somos visitados pelo Espírito, para que nossas motivações possam ser provadas. Creia: quanto mais alguém é de Deus, mas se humilhará, quanto mais tiver comunhão com Deus, mais desejará não estar em evidência, quanto mais se alimentar do Evangelho, mais dirá “Convém que ele cresça e que eu diminua”...


O demônio não tem uma face definida, aparece com a “cara” que melhor nos convém. Sim, o demônio está na soma de todos os nossos medos, das nossas hipocrisias, dos nossos desprezos, da nossa maldade. Ele é, também, subproduto de nossas crenças religiosas, da cultura na qual vivemos e ainda das nossas heranças e tradições familiares. O “meu” diabo é sofisticado e gentil. Ele fala comigo sempre com requinte intelectual, me leva a racionalizar minhas culpas, a ser autoindulgente com os descasos que cometo, a justificar a minha insensatez com o peso da minha agenda. O “meu” diabo tenta me seduzir me aplaudindo e dizendo que eu sou “o cara”, ele sabe ondem dormem as minhas fraquezas, conhece bem o que é a vaidade, reconhece que é um caminho sem retorno. O “meu” diabo sempre aparece sorrindo, ele nunca diz não, e tenta me mostrar que as coisas poderiam ser de outro jeito, bastaria, para tal, fazer pequenos ajustes na vida... O “meu” diabo não tem chifre, nem tridente, não rosna, não gira a cabeça, não é descabelado, não tem sangue na boca, nem unhas sujas, ele senta comigo no domingo, antes da mensagem, e me diz que eu não preciso ser tão enfático, que falando a verdade não vou juntar gente... Talvez, se o “meu” diabo fosse feio, sujo e sacana, fosse mais fácil combatê-lo... O diabo se apresentou a Jesus de várias formas em muitos momentos, uma delas foi no final dos seus dias, na figura de Judas, com cara de homem, um dos que comiam com ele a mesa. “... Aí vem o príncipe do mundo; e ele nada tem em mim”. Às vezes, o diabo é mais íntimo do que imaginamos, está tão perto que até podemos sentir seu cheiro... E você? Qual a cara do “seu” diabo?

O amor ao púlpito é a raiz de todos os males. Sim, essa é uma palavra para pastores e líderes, para os que se viciaram em microfones e cargos, para os que ficaram cegos pelo brilho dos elogios e pelas pompas da religião. Ah, como encontro gente tentando mudar a instituição, eles brincam de ser profetas no templo, lutam com uma engrenagem que não pode ser vencida. No fundo, não querem sair, nem desejam mudanças, mas apenas ser reconhecidos, sabem a verdade, mas não estão dispostos a vive-la com todas as suas implicações. Status quo religioso vicia, é como uma droga, um alucinógeno, quando você se dá conta, está transformando pedra em pão no pináculo do templo, vivendo de performance, e os reinos da Terra se prostram aos seus pés. Há muito fetiche nestes ambientes, crente adora idolatrar gente viva, endeusam pastores e bispos como se eles fossem entes metafísicos, gente que não toca no chão, o super-homem do sagrado. E a doença se alastra quando você aceita esta posição, quando você vira um totem dentro de um ambiente religioso, o modelo da perfeição espiritual. A metástase atinge todo mundo, é difícil escapar. Eu sei bem o custo disto... O sujeito ganha as pessoas e perde a sua alma, vira estrela na constelação denominacional, no olimpo da igreja institucional, e transforma o ser num buraco negro de angústias e dissimulações. Liberta-te, enquanto ainda há tempo! Digo-te, portanto, o que Jesus falou para tantos enfermos que encontrou no caminho, pois viver desta forma constitui-se doença: “Levanta-te, livra-te dos cargos e dos encargos, e segue-me”...

Minha teologia tem cheiro de gente e rosto de rua, é aplicável ao cotidiano, desvenda a existência crua, analisa o fenômeno, propõe ações, olha a notícia e faz as conexões com a Palavra, implica abraçar a vida para, de alguma forma, materializar a fé. Toda teologia que se projeta para o céu foge ao seu propósito, pois o Deus em que cremos abandonou os céus para encarnar na Terra como homem. Teologia, portanto, tem que propor um chão, um caminho, deve evitar percorrer as veredas da especulação filosófica, pois Evangelho é encarnação, prescinde que o que se alojou na consciência se desdobre em atos de bondade e justiça. A boa teologia não necessita de sofisticação, uma vez que não trabalha com sistematizações ou argumentos retóricos, o convencimento não é alcançado pela via da razão, antes, é o coração quem discerne a voz que o chama ao arrependimento. A Palavra, que um dia já foi texto, se faz vida na vida de quem está para além do verbo, pois a simples leitura não pode produzir salvação, nem são justos os que a ouvem nos templos e catedrais. Só quando a letra se agarra as vestes de quem se deixa gastar no chão dos dias, é que as metáforas e alegorias do escrito sagrado ganham cheiro e sabor, as histórias se transportam das páginas para as calçadas, a doutrina ganha significado porque alcança concretude, se faz graça e misericórdia na existência do meu igual. A teologia de Jesus foi feita de encontros nas esquinas e poeira no caminho. Ele não se utilizou nem da Lei Romana, nem da Ética Judaica, nem da Filosofia Grega, estava propondo não um teorema, nem uma nova ciência, não se fez protagonista de revelações inusitadas ou se deteve a prestigiar mistérios, não quis ser fundador de uma nova religião, tudo nele era simples, com um sorriso e um abraço, Deus se fez entender, pois um Deus que não fosse capaz de andar com pescadores, para que aproveitaria? Minha teologia? Não preciso explicar; olhe para mim e você a verá. E se não pode ver, de que serve?

Deus não interferiu no fato do homem, no Éden, por conta da liberdade que possuía, fizesse suas próprias escolhas e, sendo assim, optasse pelo pecado, o que alterou dramaticamente o seu destino e o de toda a criação na Terra, porque ele interferiria fazendo a escolha do homem ou da mulher com quem você vai se casar? Dá para entender o tamanho da discrepância e do absurdo de tal possibilidade? "O que Deus uniu não separe o homem" não é aquilo que Deus, por iniciativa própria, patrocinou, mas o que foi feito considerando-se os princípios do Evangelho, é o casal buscando a Graça do Senhor para abençoar aquilo que eles já validaram no coração. Quem é adulto não foge das responsabilidades da vida nem das escolhas que temos de fazer no chão de cada dia, delegando a tarefa para a divindade-cupido. Quem atingiu a maturidade anda em fé e na dependência do Pai, mas assume quem é e o que faz, pois cada um dará conta de si mesmo a Ele. Príncipe? Princesa? Coisa de criança que ainda não superou a Disney...


Parafraseando Zygmunt Bauman, vivemos o tempo do “Evangelho Líquido”, uma espécie de loção pós-banho para a alma com vistas a anestesia-la. Sim, nesta era, a Palavra perdeu a consistência, foi diluída com “doutrinas da igreja”, fizeram alquimia com o solvente da maldição hereditária, aditivaram doses do querosene da batalha espiritual, colocaram os dejetos da teologia da prosperidade, mexeram tudo, e o resultado é servido como se fosse o genuíno leite espiritual. Triste geração que ouve essa mensagem, de tão rarefeita, evapora após o culto do domingo, não dura, sequer, até a segunda feira. O “Evangelho Líquido” é aquele que conforma-se a qualquer fôrma, assume a forma que caiba nos propósitos de quem o utiliza – uma denominação, um pregador famoso – é o fenômeno do self made gospel, a religião sob medida, criada para consumo humano. Ah como eu gostaria de beber a Água da Fonte da Vida, aquela que Jesus ofereceu a mulher samaritana no poço de Jacó, mas só encontro lama de esgoto: tóxica, putrefata e mortífera...

A mensagem de Deus é existencial e não “dominical”, ou seja, ela não trata de algo gestado por pastores academicistas em suas teologias profissionais, ou pior ainda, por estelionatários escriturísticos, que estupram o texto para que seus propósitos sejam alcançados. A mensagem, creia, é a encarnação da Vida, tem a ver com aquilo que o mensageiro existencializa no chão da alma como verdade para o coração. Mesmo que se pregue sobre Moisés ou Abraão, o texto precisa ter sincronicidade com o hoje, o aqui e o agora, precisa saltar das páginas da história para invadir a minha história, implica criar aplicativos reais, e não apenas teorias vazias, prescinde materializar-se, e não virar compêndio intelectual na biblioteca da mente onde, pela cauterização da consciência, nenhum proveito terá. Não me chame para ouvir ninguém que, no púlpito, use uma hermenêutica rebuscada, com apelos, dramaticidades e eloquências, mas em sua alma só exista um profundo vazio deixado por uma retórica religiosa que não se sustenta diante da realidade do cotidiano debaixo do sol. Não me convide para ir assistir nenhum príncipe da oratória que faz uma teatralização do texto bíblico com vistas a emocionar uma plateia demente, de tal forma que ela sinta calafrios e arrepios por uma hora e saia, após o culto, totalmente dormente para viver a vida. Eu só creio na pregação que tem suor e sangue, e só ouço mensagens que se entranharam na vida do pregador, de outro modo, prefiro ler Veríssimo ou Fernando Pessoa, ouvir Pink Floyd ou Led Zeppelin, andar de Cherokee e observar o por do sol. Eu não tenho mais idade nem saco para me excitar com verborragia de domingo enquanto a vida real agoniza pedindo um pouco de sentimento e um punhado de reverência com a realidade dos dias. Se você quer se entreter, vá para o teatro ou para o cinema, mas se quer ouvir a Deus, ouvindo um profeta, que seja um que não tenha amarras de microfone e síndrome de púlpito, mas que faça da mensagem a roupa que se veste para encarar a dureza da vida...

20 Coisas simples que você precisa aprender enquanto caminha...

01 Igreja não salva ninguém, você é salvo pela fé em Jesus. Portanto, se decidir não frequentar nenhum lugar de ajuntamento, ainda que não seja a melhor decisão, isso não fará de você um “desviado” ou, muito menos, comprometerá sua vida com Deus. Qualquer lugar onde dois ou três se reúnam em torno de Jesus é igreja.

02 Cobertura espiritual é uma mandinga pseudo teológica inventada por coronéis da igreja para manter gente simples e ingênua sob o seu cabresto. A autoridade sob sua vida é a Palavra de Deus, o Espírito Santo e todo aquele que, em amor, lhe servir como irmão. Se desejar mandar em você ou lhe manipular, caia fora!

03 Dízimo é algo que não se aplica na realidade da igreja do Novo Testamento. Você não é obrigado a dar nada se não desejar. Se assim o fizer, Deus não vai te castigar, nem nenhum “devorador” vai destruir tuas finanças. Quem afirma isso quer passar a mão na sua carteira. Dê o quanto desejar, onde desejar e se desejar. Lembre-se, apenas, que comunidades possuem despesas recorrentes e, se você tem responsabilidade com um grupo, não se esquive em ajudar.

04 A Ceia do Senhor é um chamado a consciência e a ação solidária, é sermos pão para o faminto e vinho - alegria - para o oprimido de alma. Quem reparte o pão, reparte, simbolicamente, o alimento espiritual que é a Palavra, e quem toma o cálice se compromete a ser a redenção da dor do seu irmão. Os elementos, portanto, são símbolos que apontam para estas realidades materiais. Tomar a Ceia, domingo após domingo, sem este entendimento, é pecar por omissão contra o necessitado, é fazer do rito uma liturgia sem qualquer utilidade para a vida.

05 Conversão não é levantar a mão no culto, ou ser preparado como catecúmeno para o batismo, nem mudar de roupa, ou alterar a fala, decorar versículos bíblicos e frequentar cultos. Quem se converter assim, no máximo, aceitou o manequim da religião para andar e viver conforme as doutrinas da agremiação. Conversão é aceitar o perdão oferecido pela Graça de Deus sem se deixar jamais encabrestar por nada, nem jugo humano, nem ditames eclesiásticos, pois ninguém pode aprisionar numa jaula quem já nasceu com a consciência pacificada e o coração livre para caminhar com alegria e reverência sincera por ter recebido tão grande salvação.

06 Templo é um lugar sagrado de habitação do Espírito Santo. Esse lugar não tem paredes nem é feito de tijolo, mas é o seu próprio interior. Sim, o melhor lugar para erigir um templo para Deus é o coração e a consciência. Sacralizar espaços e dar reverência a objetos como altar, púlpito, cálice, ou qualquer outra coisa é pecar contra o Evangelho e tornar a reverenciar aquilo que, em Jesus, foi desfeito. Os que adoram a Deus o fazem em Espírito e Verdade, pois todo lugar é santo para os santos e todo dia é dia de culto e celebração pelo perdão.

07 Altar não é uma mesa de madeira, por mais adornada e revestida que esteja. Altar é a vida do meu irmão, conforme me ensina Jesus na Parábola do Bom Samaritano. Sim, a vida do meu semelhante é que é objeto do meu serviço ao Pai e da minha ação solidária e generosa. Deus desejou ser amado e servido no outro, pois aquele que não ama a quem vê, como poderá amar a Deus, a quem não vê?

08 O batismo não é uma ação estanque, realizada por meio de um rito numa celebração dominical. Que adianta ser batizado na igreja, a certa idade, e não ser batizado em Cristo? Quantos são batizados na igreja e vivem totalmente distantes de uma imersão em Cristo? Ora, você batiza o bebê na fé dos Pais, e se os pais lhe ensinarem a viver conforme o Evangelho, ele crescerá sendo batizado em Cristo. O mais é apenas a crença pagã de quem acha que água e palavras podem mudar o coração. Quem anda pela fé, todavia, está livre de ritos, pois vive na esperança da Graça Eterna!

09 A bíblia é a Palavra dos homens acerca de Deus, validada pela inspiração do Espírito Santo e pelo testemunho dos apóstolos e profetas. Jesus é a Palavra de Deus enviada ao mundo, nele, e não num livro, estão todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento do Pai. O que em Jesus foi validado pelas Escrituras, fica, o que estiver esclerosado pela caducidade da letra, sai. Assim, há textos inspirados e textos expirados, conforme nos ensina a carta aos Hebreus, o que é sombra se revela com clareza no Filho, nosso único e eterno Sumo-Sacerdote.

10 Batismo com o Espírito Santo é um revestimento da Graça e do Poder de Deus para o testemunho da fé. Ele acontece juntamente com o novo nascimento e pode ser seguido, ou não, da manifestação imediata de dons espirituais. Falar em línguas é apenas uma das operações do Espírito Santo, e não a única, portanto, ela não é o instrumento de validação do Espírito em nós. Todo aquele que é nascido de Deus tem o seu Espírito e frutifica para o amor e a justiça, conforme está descrito nas Escrituras.

11 O ministério profético se encerra em João Batista, e isso é óbvio, pois, diante de Jesus, não há mais necessidade de previsões, tudo se consuma nele! Quando Paulo fala em suas cartas em dom de profecia, não está tratando de adivinhações personalizadas nem de predições apocalípticas, mas de toda revelação que aponta e é conforme o Evangelho, que converge, exclusivamente, para o que Jesus ensinou. Quem anda atrás de profecia é menino na fé, gente que ainda guarda o sincretismo da cultura como herança religiosa, que se assemelha, em sua crença, ao paganismo dos ciganos, das cartomantes, dos astrólogos, dos místicos, feiticeiros e esotéricos. Eu não preciso saber de nada do meu futuro, pois o meu futuro já foi escrito na Cruz, eu não sou um cidadão do tempo, mas um ser da eternidade.

12 O jejum não é o “Espinafre do Popeye”, nem serve como um suplemento espiritual com vistas a tornar alguém mais ungido, mas destemido na sua luta contra o diabo. O Jejum de Jesus foi feito como preparação para a oferta de si mesmo ao mundo, portanto, correlatamente, ele deve ser algo que aguça a consciência e fortalece o coração para a ação solidária e generosa com o outro no chão da vida. O jejum tem, sim, esse poder de nos mover para fora de nós mesmos, ele leva a fixar o olhar para o que está no entorno, para as realidades dramáticas que nos cercam, como a dor, a miséria e a injustiça contra aquele que é nosso igual. O único jejum que agrada a Deus é aquele que você faz para o benefício do outro, um jejum que remove a lepra da alma para torná-la sensível ao sofrimento humano, o jejum que traz algum proveito alimenta o coração de solidariedade, move mãos e pés na direção dos indigentes da terra, dos esquecidos e soterrados sem qualquer esperança.

13 Santidade é o processo de escolha livre do amor e da paz no acordar de cada manhã. Santidade é uma resposta daquele que se aproxima de Deus de viver conforme o seu querer, não é resultado da castração da vontade, nem da supressão do desejo, fosse assim, qualquer sujeito, mesmo sem acreditar, poderia tornar-se santo pela adoção da cartilha comportamental moral da religião e das reprimendas ascéticas devotadas ao corpo. Ser santo é uma resposta em fé ao apelo de Deus, o santo não é santo por aquilo que faz, mas por aquilo que crê, é essa convicção que santifica a consciência e pacifica o coração no chão da vida.

14 Toda espiritualidade sadia desemboca em expressões de normalidade na vida. Sim, toda afetação existencial remete a um desequilíbrio, ainda que esta exacerbação aponte para comportamentos religiosos. Por isso Paulo afirma que aquele que conhece a Deus tem a “mente de Cristo”, ou seja, age e vive de forma simples e natural, nem se deixando contaminar pela maldade, nem fugindo das dinâmicas próprias da vida. Portanto, manifestações baseadas em gritarias, contorcionismos, caras e bocas, orações histriônicas, línguas esquisitas, espasmos corporais, choros nervosos e coisas semelhantes, remetem para o fato de que o indivíduo portador de tais ações ainda é infantil quanto às questões sérias da fé.

15 Jugo desigual não é um evangélico casado com uma católica. Conheço crentes casados, que frequentam a mesma igreja, que leem a mesma bíblia, que cantam as mesmas músicas gospel e estão em jugo totalmente desigual, pois não há entre eles uma ligação de alma, de entendimento da vida, de percepção do mundo. Que adianta sentar no mesmo banco no templo e viver separado na cama? Que adianta andar de mãos dadas no pátio da igreja e com consciências separadas no chão da vida? Jugo desigual é alguém ter olhos para ver o bem, enquanto o outro só consegue discernir o mal, é a alegria de um sendo sufocada pela moralidade castrante do outro, é um querer inovar na cama e o outro, cheio de pudores e não me toques, gostar de um sexo broxante. Jugo desigual é um apreciar o teatro e o outro se privar da diversão por questões doutrinárias, é um desejar dançar e o outro vê pecado numa "sala de reboco", é um adorar um bom vinho e o outro fazer a gestão da felicidade por causa da legislação da igrejola. Ao invés de procurar uma mulher calvinista, procure uma que goste de conversar e contar piada, ao invés de procurar um marido pré-milenista, arrume um que leia Fernando Pessoa com você no banco do parque, ao invés de buscar uma mulher de oração, busque uma que tenha coração! Se você quer alguém que lhe complete, procure afinidades em sua alma, não em sua estante de livros teológicos.

16 Jesus disse “Pelos frutos os conhecereis”. Aí você pensa que esses frutos são os “Frutos da Igreja”: ir na vigília de oração, participar do culto de doutrina, tomar a ceia, ler a Palavra, fazer evangelismo, jejuar, ir na escola bíblica, ou seja, os frutos acabam se resumindo a uma agenda eclesiástica, são frutos bichados! Quem dá esse tipo de “fruto”, adéqua-se as regras comportamentais e fica em dia com a medição do “trabalho na obra”, é o Taylorismo do sagrado, nada pode produzir senão engano e tristeza. Por isso vemos tanta gente que já leu a bíblia inteira, mas nada entendeu sobre a mensagem, ou os que fazem orações irretocáveis, com retórica e homilética, mas sem ter experimentado a graça e a misericórdia como expressão do amor que vaza do coração. Fruto, no Evangelho, não é fazer, é ser, pois o bem aventurado é aquele que é! Sim, fruto é paz, alegria, mansidão, generosidade, solidariedade, fruto é chorar pelas dores da Terra, é afeiçoar-se dos excluídos, é vencer preconceitos, é perceber-se como gente do bem, da verdade e da justiça.

17 Faça um autoexame: quando se prefere a ortodoxia a revelação, a Letra ao Espírito, o dogma a liberdade, as tradições a novidade de vida, o clericalismo ao serviço solidário, o templo ao Caminho, o fundamentalismo a consciência, o dízimo a generosidade, o místico a fé, a performance a Verdade de ser, o altar a devoção piedosa, a moral a ética, a Lei a Graça, os usos e costumes a sã doutrina... é um indicativo de que você é evangélico, mas, certamente, está longe do Evangelho.

18 Deixa eu te dizer uma coisa: você pode ser discípulo de Jesus sem ser uma pessoa azeda, estereotipada, presunçosa e obtusa. Sim, é possível viver a experiência do sagrado sem se fixar num gueto, sem práticas esquisitas, sem crenças estranhas, sem hábitos esotéricos. Digo-lhe mais... Você pode ser um discípulo de Jesus e ir a festas, pode fazer tatuagem, pintar o cabelo de azul, desenvolver seu lado cultural, sua sensibilidade para as artes, para a poesia, para a música ou a pintura. Você não precisa ser uma pessoa densa, complexa, enfadonha... Isso não é espiritualidade, é depressão. Trate de sua alma e você sarará para a vida. Mas, por favor, não me venha com seu modelo de pré-defunto querendo que eu ateste que isso tem algo a ver com o Evangelho.

19 “Negar a si mesmo” é um dos conceitos mais mal interpretados da bíblia. A religião ensina que essa negação é uma sublimação em relação à vida, uma espécie de penitência cotidiana onde o sujeito vai abrindo mão de sua humanidade, de seus desejos, até que, depois de muito caminho percorrido, chega ao “nirvana” da fé, torna-se um ser sem sensações ou sentimentos do “mundo”, fica acima do bem e do mal. Na verdade, a crença vem impregnada da ataraxia grega dos Estóicos, uma doutrina que pregava, entre outras coisas, o ascetismo da carne, a subjugação do corpo. Na esmagadora maioria dos casos, todavia, o que este tipo de pensamento provoca é a exacerbação dos instintos, pois a repressão produz todo tipo de pulsão na alma, fazendo aflorar taras, medos, psicoses, neuroses, distúrbios comportamentais, fobias, e outros dramas patológicos emocionais. No Evangelho, o convite do Galileu é para negarmos a nós mesmos e tomarmos a sua Cruz, ou seja, é abrir mão de todo esforço meritório para a salvação, de todo sacrifício purgatório que tenta promover auto-justificação, de toda busca por uma santidade biônica, plastificada, pois é na Cruz do Senhor e na sua Morte e Ressurreição que tudo foi consumado! O Espírito me leva a experimentar o bem e a paz de cada dia, sem culpas, sem castrações, sem amputações inquisitórias que geram fantasmas na mente e tristeza no coração.

20 O único sexo que não é pecado é aquele feito com amor. Sim, qualquer outro tipo, por mais ortodoxo que seja, ainda carrega os vícios da natureza caída do homem: o egoísmo tarado, que busca a satisfação plena em detrimento da aridez do tesão alheio; a fidelidade de ocasião, que faz reverência ao coito com o mesmo corpo, ainda que a mente tenha se viciado em trazer para a cama alguém que não deveria ali estar; e as prescrições da pseudo-moral-ascética, que estabelece os limites do “isso não” e do “aqui não” por medo de sentir desejo. Sexo, onde dois se amam, se respeitam e se entregam, não tem fronteiras, nem pruridos, nem não-me-toques, tudo é gostoso de fazer porque dá prazer ver quem se ama ser feliz.


“... Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia, Samaria e até os confins da Terra”. Atos 1:8. Essa é, sem dúvida, a passagem bíblica, juntamente com a grande comissão de Mateus 28, que mais tem inspirado homens e mulheres ao redor do mundo a obra de anúncio do Evangelho. A igreja, durante séculos, tem feito esforços missionários para atingir povos e línguas ainda não alcançados pela Boa Nova da Salvação em Jesus, contudo, nos tempos atuais, cabe a reflexão do que significa os “confins da Terra”. Sim, porque a esmagadora maioria das igrejas justifica não ter programas de evangelização consistentes em função de não possuir recursos – material humano e dinheiro – para mandar missionários para o Tibet, por exemplo. E assim, como em nosso imaginário os “confins da Terra” é um lugar geográfico, um grande problema se estabelece e, penso eu, ele precisa ser, urgentemente, superado. Ora, e por que afirmo isso? Por que no mundo de Jesus e dos apóstolos os lugares eram alcançados, essencialmente, através de viagens físicas, da navegação em navios, ou mesmo em centenas de milhares de quilômetros percorridos a pé, como as trilhas de Paulo pela Turquia e Grécia. Mas, num mundo onde a informação pode chegar virtualmente, através de mídias sociais e outros meios tecnológicos, estes desafios, simplesmente, não existem! Povos não alcançados podem ser abençoados a distância, com programas inteligentes e estratégias eficazes, até que núcleos locais possam ser constituídos para uma assistência mais efetiva. Mais dramática, todavia, para mim, é a questão de que, os “confins da Terra” podem estar aí do seu lado, na esquina da sua rua, por detrás dos arranha-céus da avenida em que você mora! Sim, há tanta exclusão em nossa sociedade, tanta amputação social, tantos invisíveis agonizando silenciosamente, que o conceito de “confins da Terra” já deveria ter sido revisto há muito tempo! Esse lugar geográfico, imaginariamente distante, é, sem dúvida, um paradigma que precisamos abolir e um conceito que precisamos revisar. Há gente do seu lado que está, hoje, nos “confins da Terra”, e, talvez, você não faça nada por elas ou porque está esperando um chamado para ajudar a África, ou porque, simplesmente, você nem sabe que elas existem! A leitura das Escrituras sem a devida contextualização das verdades nelas contidas tem produzido, cada vez mais, esse tipo de analgesia espiritual. O engessamento da alma e o esfriamento do coração, não raro, está associado a uma leitura tão viciante da Palavra de Deus, sem uma capacidade de abstração maior, que parece que apenas Paulo, Pedro, João e os demais apóstolos foram os únicos responsáveis pela propagação da fé entregue aos Santos. Para mim e você, restou, apenas, ir ao culto, dar o dízimo e esperar a volta do Senhor...

É curioso ver como a igreja e seus púlpitos abandonaram a sã doutrina, com questões como arrependimento, justificação, fé e graça, para adentrar no terreno do que chamo de “teologia da alma”. Sim, a mensagem de hoje é autoajuda embalada com uma leve pitada de Evangelho, tudo gira em torno do indivíduo, nada se diz de Cristo, é o ensino pneumocêntrico ao invés de cristocêntrico. Vejo as mensagens dos “big shots” e elas, quando não tratam de prosperidade - vitória, decretar a benção e vencer o inimigo - tudo associado ao pós-pentecostalismo, discorrem acerca de depressão, ansiedade, medo, trauma, pânico, solidão, ou seja, são as patologias modernas associadas à psique humana.

Santidade é o processo de escolha livre do amor e da paz no acordar de cada manhã. Sim, santidade é uma resposta daquele que se aproxima de Deus de viver conforme o seu querer, não é resultado da castração da vontade, nem da supressão do desejo, fosse assim, qualquer sujeito, mesmo sem acreditar, poderia tornar-se santo pela adoção da cartilha comportamental moral da religião e das reprimendas ascéticas devotadas ao corpo. Ser santo é uma resposta em fé ao apelo de Deus, o santo não é santo por aquilo que faz, mas por aquilo que crê, é essa convicção que santifica a consciência e pacifica o coração no chão da vida. Quem acredita desta maneira, se desembaraça de tudo e, com alegria, entrega-se ao prazer de encarnar a bondade e a justiça como fruto da misericórdia...

O suicida, quando escolhe a morte está, na verdade, escolhendo uma alternativa para a vida, posto que a vida vivida se tornou absolutamente impossível . Sim, é absurdo o que a religião faz enviando o suicida para o inferno de fogo, a ortodoxia não suporta o fato do indivíduo poder fazer sua própria escolha no chão dos dias, ainda que esta escolha nos pareça a pior possível e atente contra a própria existência. Portanto, que ninguém se ponha entre o suicida em desespero de alma e o Deus de toda a misericórdia, pois na mesa onde será celebrada a festa do perdão cabe o impensável e o inconcebível, cabe até mesmo eu e você tomarmos assento e nos acomodarmos no banquete com o Pai...
Desconfie sempre de todo aquele que precisa de uma agenda para fazer o bem. O verdadeiro amor vaza da vida, não tem restrições ou limites, acontece sempre quando a necessidade se encontra com a oportunidade. Esses que assim andam são os que o Pai procura, gente que superou as regras do templo e os ditames da lei religiosa, gente que semeia a alegria e se cobre com vestes de justiça...

Eu meço a espiritualidade de alguém pelo nível de normalidade da sua vida. Sim, toda afetação existencial me remete a um desequilíbrio, ainda que esta exacerbação remeta para comportamentos religiosos. Por isso Paulo afirma que aquele que conhece a Deus tem a “mente de Cristo”, ou seja, age e vive de forma simples e natural, nem se deixando contaminar pela maldade, nem fugindo das dinâmicas próprias da vida. Assim, toda vez que observo alguém se exprimindo no meio religioso através de gritarias, contorcionismos, caras e bocas, orações histriônicas, línguas esquisitas, espasmos corporais, choros nervosos e coisas semelhantes, logo percebo sua infantilidade quanto às questões sérias da fé. Jesus não era homem dado a macaquices pseudo espirituais, ele expulsava demônios simplesmente dizendo: “saia”, curava enfermos sem salamaleques, profetizava sem tremeliques, andava sem trejeitos e falava sem jargões. Acredite: em se tratando do ser humano, quanto mais normalidade, mas espiritualidade...


Eis mais um tabu da religião a ser quebrado. Ora, o que regula uma relação afetiva não é a submissão, mas o amor! O mandamento é amar, não subjugar, é acolher, não amedrontar, é cuidar, não esmagar, pois em meio a essa questão da submissão da mulher o que mais se vê são os exageros e o uso perverso do texto sagrado para justificar desmandos inaceitáveis. Jesus não tratou desta questão, deixando claro, para mim, que o tema deve ser abordado de maneira consensual. Quando Paulo estabelece o postulado, na Epístola aos Efésios, ele trata de um ponto de vista da cultura patriarcal judaica, numa sociedade onde a mulher não tinha outra escolha a não ser aceitar o mando do marido. Seria absurdo, nesta perspectiva, o apóstolo ensinar qualquer outra coisa! Mas alguém vai dizer que esse é um princípio inamovível, inegociável. Bem, olhar para certas passagens das Escrituras requer coragem e bom senso. Nós sabemos que o texto é inspirado, mas também precisamos compreender que, alguns deles, expiraram! É o caso da submissão da mulher. Uma análise básica sobre o extrato social atual já desmonta a doutrina. É dado do último censo do IBGE que, cerca de 60% das famílias das classes C e D hoje, são mantidas pelo trabalho das mulheres. Nos dias de Paulo, mulheres pariam filhos e cuidavam do marido e da casa. Nos nossos dias, elas dirigem nações! Um outro olhar pode lançar alguma luz sobre o tema. Quando Jesus trata da questão da autoridade, ele ensina que quem a exerce deve fazê-lo com a consciência de quem presta um serviço, ou seja, eu cativo a submissão de alguém porque, ante de tudo, cativei a pessoa pelo amor e pelo cuidado para com ela. O próprio Paulo já deixou plantada esta ideia quando usou a metáfora no texto de Efésios 5:25: “Maridos amai as vossas esposas como Cristo amou a igreja e sacrificou-se por ela”. Então, eu penso que este é um tema que deve ser abordado de forma honesta e buscando a luz da verdade para este tempo. Não vejo qualquer problema em haver igualdade de autoridade no lar, pois, onde há amor sincero, os conflitos são sempre resolvidos buscando o melhor para o outro. Onde não há, todavia, o código religioso será usado como mordaça existencial, como instrumento de opressão, como meio de chantagem, e tudo isso em nome de “deus”...


Eu penso que, caso Jesus voltasse hoje, a esmagadora maioria das igrejas desapareceriam sem ser percebidas. Sim, seus membros seriam arrebatados, mas não fariam falta, seriam levados por anjos para o céu, mas deixariam milhares de indigentes desassistidos na Terra, eles sumiriam da vista das pessoas, contudo, sem nunca terem existido em suas agendas. Uma igreja assim não tem propósito de existir, pessoas que se afirmam discípulos de Jesus e não estão envolvidas com os dramas daqueles que estão próximos a si podem ser tudo, menos filhos do Evangelho, pois a Graça de Deus prescinde a compreensão de quem é o outro e move-nos em sua direção. O meu semelhante, como sabemos, é o altar aonde o serviço solidário e generoso deve ser realizado, o Pai assim determinou, ser amado e buscado no próximo. É triste imaginar que igrejas inteiras sumiriam sem deixar vestígios, que tudo que provocariam com seu desaparecimento seria alívio da parte daqueles que nunca acreditaram que naquele lugar houvesse, de fato, a misericórdia e o perdão sendo oferecidos aos que estão distantes e não se adequam ao manequim religioso confessional daquele grupeto. Por vezes, fico me questionando por que Jesus ainda não voltou, se já temos tantos sinais proféticos cumpridos, por que ele não vem buscar os seus? Contudo, quando olho a realidade que me cerca, quando percebo no que boa parte das igrejas se tornou, quando discirno uma massa amorfa de gente em busca de prosperidade e vitória, alheia a dor humana, leprosa de coração, desumanizada e insensível, compreendo o por quê desta volta ainda tardar tanto...

Deixa eu te falar uma coisa: você não foi chamado para “amarrar” as coisas, mas para desamarrar, para soltar, para por em liberdade, conforme Isaías 61. Esse negócio de dizer: “Tá amarrado em nome de Jesus!” é coisa pagã, supersticiosa, é um mantra evangélico que dá uma certa sensação de vitória sobre o mal, ou de intervenção sobre o que ele poderia vir a causar, mas não passa de mandinga e revela a profunda falta de maturidade na espiritualidade desenvolvida pelo indivíduo. Jesus não nos mandou amarrar nada, ele nos chamou para quebrar as ligaduras da opressão, para saltar as amarras do medo, para liberar amor e graça sobre os caídos e oprimidos do diabo. Então, por favor, para de dizer isso, o máximo que você produzirá com essa verborragia é uma falsa sensação de conforto frente às dinâmicas próprias da vida e um ataque de riso em Satanás, que sabe que isso não tem qualquer poder contra o mal...

A igreja pensa, equivocadamente, que se tornou uma espécie de “Arca de Noé”, onde “bichos” raros estão sendo preservados do dilúvio dos dias, impermeabilizados contra a dor pela supressão das experiências da vida, guardados das águas traiçoeiras que cobrem e massacram o mundo pela via da negação do existir. Meu Deus! Ao que podemos comparar isso? Estamos diante do ascetismo da mente, algo tão bizarro que acabou por produzir milhões de pessoas de alma anoréxica e a consciência raquítica. Eu creio que não é trancando as pessoas dentro de suas paredes que a igreja vai conseguir produzir seres humanos melhores, não é negando-lhes a liberdade de ser e escolher que gerará uma raça ariana de crentes, todos puros, castos e santos, ainda que dormentes quanto às realidades perversas que os cercam, resultado irrefreável de um planeta que agoniza sem amor. Não conseguiremos vencer a maldade do mundo nos escondendo nos porões das nossas denominações, mas dando a cara pra vida e pondo os pés no caminho, não influenciaremos pessoas fechando as janelas do templo, por onde deveria vazar a solidariedade, a justiça e o serviço abnegados aos que nada possuem. Enquanto a igreja imaginar que pode castrar pessoas, fazendo circuncisões existenciais no mosaico da vida, impedindo-as de ser sal e luz para esta geração, o que veremos será apenas o cheiro de morte deflagrado dentro de seus pátios, nas salas da EBD e naquele espaçoso galpão que, erradamente, insistimos em chamar de templo...

Dor é algo degustado em silêncio, solidão e reverência. "Out-dor" é a dor lançada em redes sociais, divulgada em vídeo, marketiada em blogs, um self da alma para mostrar aos outros o quanto eu estou sofrendo. Ora, se Deus é minha testemunha de tudo o que faço debaixo do sol, porque tenho que mostrar a alguém o meu drama? Não me faria ele justiça? Tenho respeito pela primeira opção, mas repudio a segunda...

Esse é um tempo muito difícil... De um lado, heteros agonizando em relações purulentas, querendo se separar. Do outro, gays apaixonados reivindicam o direito e o respeito para poder se casar. E a “igreja”, que se arvora ser defensora da moral e dos bons costumes, da ética da estética, não da ética do Reino, não sabe o que fazer, em nenhum dos dois casos...

O que é avivamento? Para a esmagadora maioria das pessoas ligadas a religião, trata-se de uma reviravolta nas dinâmicas da igreja, algo que acontece do “lado de dentro”. Nesse tipo de derramamento, há conversões nos cultos, seguidas de muitos batismos, pessoas recebem o poder do Espírito Santo, com manifestações de línguas estranhas, levantam-se profetas com suas profecias, muitos têm visões, acontecem curas milagrosas e os endemoninhados são libertos de seus grilhões. É curioso ver como esse “avivamento” só produz benefício para quem está dentro da igreja, é um tipo de “chuva serôdia” que só cai nas quatro paredes do templo, nos cultos da agenda eclesiástica, nas programações institucionais. Eu já vi isso tantas vezes, algo que tem muito mais a ver com manipulação e histeria do que com qualquer outra coisa. Você não tem ideia de como é fácil produzir uma catarse na alma de gente árida de mente e coração, como é simples produzir um “avivamento de plástico” em meio ao desespero e a insensatez. Avivamento, conforme as Escrituras, é algo para fora, atinge todas as pessoas, muda estruturas perversas, altera culturas, redime nações. Foi assim o avivamento na Inglaterra, no século XVIII, com John Wesley e George Whitefield, um derramamento do Espírito Santo numa medida tal, que impactou todo o país. Avivamento, para mim, muda o ser por dentro e altera a realidade do lado de fora, há mudança de caráter, nas práticas cotidianas e uma nova matriz na consciência. Eu quero um avivamento no Brasil que faça valer a Constituição, que produza uma higienização no Congresso, que passe um alvejante na mente dos grandes empresários. Eu quero um avivamento que chegue aos pobres, coloque pão na mesa dos famintos e justiça nos tribunais. Por favor, não me fale de nenhum outro tipo de avivamento que fomenta visões e revelações da glória de Deus e não promove convicção de pecado e arrependimento. Não me fale de profecias escatológicas e adivinhações enquanto a verdadeira profecia, que é a denúncia contra a safadeza e a corrupção, é negligenciada porque a igreja é tão suja quanto à política dos políticos. Não me fale de libertação de espíritos imundos, que rosnam e gemem feito monstrinhos de filmes de terror, enquanto não há libertação do egoísmo e do desamor, que são as verdadeiras possessões que matam o indivíduo dessensibilizando-o para a vida. Chega! Não há barganhas! Ou voltamos ao Evangelho, ou viveremos neste circo dos horrores que foi criado para entreter gente boba que deixou de crer, muito antes de deixar de pensar...

Jugo desigual não é um evangélico casado com uma católica. Ora, por favor! Conheço crentes casados, que frequentam a mesma igreja, que leem a mesma bíblia, que cantam as mesmas músicas gospel e estão em jugo totalmente desigual, pois não há entre eles uma ligação de alma, de entendimento da vida, de percepção do mundo. Que adianta sentar no mesmo banco no templo e viver separado na cama? Que adianta andar de mãos dadas no pátio da igreja e com consciências separadas no chão da vida? Jugo desigual é alguém ter olhos para ver o bem, enquanto o outro só consegue discernir o mal, é a alegria de um sendo sufocada pela moralidade castrante do outro, é um querer inovar na cama e o outro, cheio de pudores e não me toques, gostar de um sexo broxante. Jugo desigual é um apreciar o teatro e o outro se privar da diversão por questões doutrinárias, é um desejar dançar e o outro vê pecado numa "sala de reboco", é um adorar um bom vinho e o outro fazer a gestão da felicidade por causa da legislação da igrejola. Conheço casais de diferentes crenças que são harmônicos e perfeitamente enlaçados em amor, enquanto aconselho a centenas de outros, de mesma confissão religiosa, se matando na frente dos filhos e pedindo que Deus “leve” o parceiro para sua Glória. Ao invés de procurar uma mulher calvinista, procure uma que goste de conversar e contar piada, ao invés de procurar um marido pré-milenista, arrume um que leia Fernando Pessoa com você no banco do parque, ao invés de buscar uma mulher de oração, busque uma que tenha coração! É impossível gente que ama e se sente amado não ter graça no ser e música que embala os pés no caminhar do caminho. Um ateu com boa vontade é melhor que um crente amargurado, se você quer alguém que lhe complete, procure afinidades em sua alma, não em sua estante de livros teológicos...

Não bebo, não fumo, não danço e não jogo. Com este comportamento, 95% das instituições ditas cristãs lhe considerarão um modelo de fiel. O pior de tudo é o fato de que, nada disso tem qualquer relação com o que Jesus propôs, trata-se, apenas, do cardápio da religião sendo servido na mesa da igreja. Perceba que esse tipo de ensino faz apologia a espiritualidade do eu, ou seja, um tipo de fé que diz respeito apenas as dimensões da minha vida, nada tem a ver com Deus ou com o outro. Eu sonho com uma igreja e um Evangelho que priorize algo do tipo: não ignoro, não humilho, não cerceio e não manipulo...

Eu vejo, todos os dias, o assassinato de Deus praticado a céu aberto pelos seus seguidores. Sim, o Deus que eles dão vida em seus discursos ocos é uma carranca daquele que discernimos encarnado em Jesus de Nazaré, o qual está relatado nas Escrituras. “Nós o matamos...”, disse Nietzsche, ainda no século XIX, “Vós e eu”. Matamos Deus com nossas atitudes desafeiçoadas, com a desumanização de nossa alma, com a apatia dormente que temos diante da dor do outro, matamos Deus com nosso descaso com a fome, a miséria e o preconceito. Historicamente, cristãos culpam os Judeus por terem assassinado Jesus. Ora, Jesus está sendo assassinado pela igreja cristã há séculos: suas palavras são distorcidas, suas verdades negociadas, seus valores manipulados. Eu vivo num tempo onde os radicais do islã fuzilam pessoas e os radicais da igreja cristã celebram sua morte como juízo do Altíssimo. Quem são os mais loucos? Parafraseando Nelson Rodrigues, a mensagem que ambos me passam é a de que “Toda misericórdia será castigada”...

O conhecimento que é gerado apenas pelo desejo de saber aprisiona, ao invés de libertar. Sim, todo conhecimento que não é resultado da experiência do amor é escravidão debaixo do sol. Paulo asseverou sobre isso quando disse que nem toda a ciência seria capaz de curar a ferida humana se fosse desprovida de amor. Por isso, também, no Gênesis bíblico, a descoberta das profundezas do saber teve apenas como resultado a privação do homem da paz e do bem do Jardim, ou seja, sua alma ficou exposta a complexidades que ele mesmo não estava apto a lidar, posto que a geografia do paraíso ali descrito é muito mais interior do que exterior. O curioso de tudo isso, contudo, é que o saber que lhe sobreveio de súbito revelou apenas sua própria miséria, pois sua nudez era a representação de sua impotência e limitação diante da grandeza do infinito. Quando muito, portanto, ele passou a saber de si mesmo, ainda que nada pudesse fazer a partir disto. Fico, portanto, com as palavras d de Paulo aos Coríntios: “O saber ensoberbece, mas o amor edifica”...

Estamos há 2.000 anos da encarnação de Jesus e a igreja ainda discutindo questões, absurdamente, periféricas. Sim, é a perpetuação do equívoco de adorar a Letra e não discernir o Verbo. Me perguntaram qual o dia certo de fazer o culto, se o sábado, conforme algumas crenças, ou o domingo, conforme outras. Ora, respondi, "Nem no sábado nem no domingo adorareis a Deus, pois o Pai procura aqueles que lhe adorem em Espírito e em Verdade todos os dias da semana!". Imaginar que o Senhor ainda é refém de lugares - Jerusalém ou o Monte Gerizim - ou de dias - sábado ou domingo - é desejar viver, eternamente, a infância da fé. Não sei porque esta moçada não volta a sacrificar novilhos e fazer a circuncisão...

Qualquer um que oferte ou dizime em uma comunidade de fé e não cobre, com rigor, o que se faz com o uso dos recursos é conivente com desatinos e descasos. O fiel que não exige que a maioria das receitas seja destinada para ajudar os pobres, os órfãos, as viúvas, os drogaditos, os inválidos, os desabrigados, os indigentes de alma, é responsável, diante dos Céus, pelo abandono dos tais. O crente imagina, falaciosamente, que dá dinheiro no altar da igreja o exime da responsabilidade sobre o destino do mesmo. Engano! Enquanto o templo está sendo ampliado, a juventude de muitos está sendo encurtada, pois eles são empurrados para o tráfico de entorpecentes por faltar-lhes oportunidade de estudo. Enquanto clubes campestres são comprados para eventos religiosos, gente de carne e osso mora em casas de papelão, sem esgoto e sem energia. São tantos os casos que daria um livro... Diante disto tudo, afirmo que, no dia do juízo, não tenho dúvidas, Jesus dirá a quem assim procedeu: “Eu estava sem saúde, e você fez vista grossa, estava sem educação, e você não me deu oportunidade, estava sem moradia, e você não se importou comigo, estava sem trabalho, e você me evitou”. Tenho afirmado, insistentemente, se fizerem uma auditoria nas contas das igrejas, muitos pastores e bispos serão presos. Se a Fazenda Governamental fizer uma devassa fiscal em instituições religiosas, vamos ter alguns bilhões de reais nos cofres públicos, pois o que não falta é sonegação e desvio. Ontem, líderes religiosos foram para as ruas na dita “Marcha para Jesus” para protestar contra a corrupção no Brasil. Faço um desafio para eles: abram as contas das suas igrejas para a membresia, contratem uma auditoria independente, publiquem balanços regulares e depois vociferem contra os políticos...


Parafraseando o “Capitão Nascimento”, no filme “Tropa de Elite”, afirmo que, neste tempo, “A igreja existe para resolver os problemas da igreja, não para se envolver e ajudar a resolver os problemas da sociedade”. Portanto, não espere, na esmagadora maioria dos casos, que a igreja, ou seus representantes, se manifeste publicamente contra abusos, estupros, preconceitos, violência contra minorias, racismo, homofobia, drogas, miséria, desemprego, epidemias, pois a igreja vive num mundo paralelo, onde apenas as coisas supostamente sagradas importam. A igreja está entretida com batalhas espirituais, não com causas reais, está lutando contra demônios, e não contra a possessão da mente e do coração, que dessensibiliza o indivíduo e o faz inerte diante da dor do outro. Sim, para minha tristeza, a igreja luta para salvar o espírito do homem, mas despreza os dramas e as dores de sua alma, ampara o indivíduo com a doutrina da salvação, mas é incapaz de fazer algo concreto para salvá-lo da miséria e do descaso no qual ele vive. A verdade é que o “deus” desta igreja é Platão, e não Jesus, o que eles vivem é a utopia do mundo das ideias, e não a verdade do Evangelho para o mundo concreto...

Nenhuma conjugalidade sadia esmaga a individualidade do outro. Sim, são um em propósitos, mas dois em singularidades, são um em espírito, mas são duas almas distintas, são um na oração, mas são dois agindo com dons e talentos diferentes. Esmagar a privacidade, sufocando o espaço do outro, não é o caminho para sedimentar nem amadurecer relacionamentos, mas para criar um clima de policiamento comportamental, revela insegurança, não confiança, pois onde há amor, há respeito, há a certeza de que, mesmo não vendo tudo, sei que o meu parceiro age com reverência por minha vida, que faz sempre o melhor para os dois, não apenas para si...

Profissão de fé não se faz com a boca, se faz com a vida, e quando a vida fala, não há mais necessidade de qualquer ato litúrgico para validar aquilo que já foi validado como verdade no coração...

Quando Tiago aconselha a confessarmos nossos pecados uns aos outros ele trata da terapêutica que há na exposição de nossas dores e dramas para alguém que nos compreenda. Sim, muito antes de Freud e da psicanálise a Escritura nos revela o bem que há em abrir o coração e deixar vazar tudo aquilo que não nos faz bem. A confissão aos irmãos, conforme nos ensina o apóstolo, produz cura, assim como a confissão a Deus produz perdão. Portanto, não represe nada, ande sempre na luz, em paz com você, trate bem de sua alma e todo o seu ser agradecerá...

Essa geração busca praticidade operacional, não deseja desenvolver uma profundidade relacional, precisa de uma divindade que resolva problemas, um deus disposto a trabalhar, mas jamais um Deus desejoso de se relacionar e amar. E a igreja, tristemente, adequou-se rapidamente a essa demanda da massa, criou um deus que vai diuturnamente ao escritório, que é o Templo, um deus que dá expediente de domingo a domingo, faz milagre, resolve crises conjugais, dificuldades financeiras, profissionais, distúrbios emocionais e, de quebra, ainda expulsa demônio. Sim, você pode até não ter percebido, mas a igreja tornou-se o gabinete pastoral de Deus, o único lugar onde é possível atender o seu povo. Qualquer espiritualidade que proponha um estilo de vida para além desse espaço físico, ou qualquer tentativa de fomentar um tipo de devoção que ultrapasse as paredes do “lugar sagrado de culto”, fere a ética teológica da elite sacerdotal que conduz, com mão de ferro, gente criada como gado, marcada na alma, a ferro e fogo, com uma marca denominacional. Não duvide, esses mesmos indivíduos, de mentes vazias e corações de pedra, que hoje vão a igreja, não tardariam em ir ao terreiro da esquina, para se perfilarem diante dos demônios, se esses conseguissem resolver suas questiúnculas num curto espaço de tempo. Se o diabo fosse competente, abriria um lugar de adoração ao lado das catedrais e dos mega-templos deste país, e colocaria na placa de neon, na fachada, a proposta irrecusável: “Tudo te Darei se Prostrado me Adorares!”. Ia bombar...

O “Lava-Pés” não é uma cerimônia, o “Lava-Pés” é um estilo de vida! Mas tristemente a igreja, mediada por uma autocracia sacerdotal elitizada, subtraiu essa vocação do serviço aos santos, aos pobres e necessitados. Sim, trocaram água, bacia e tolha por cátedra, báculo e anel no dedo, transformaram o que deveria ser a dinâmica da vida cristã numa cerimônia ritualista que só acontece na Semana Santa, dentro dos templos e catedrais, coisa típica de quem faz da hipocrisia a espiritualidade nossa de cada dia. E assim, o “sacerdote” lava os pés do povo, sempre na quinta-feira santa, enquanto no resto do ano o povo lhe massageia o ego e lhe presta favores na forma do pagamento de impostos-dízimos. Quero uma igreja que lave anonimamente os pés dos miseráveis, que entre nos guetos e acolha os viciados, que ande em misericórdia e pare de perseguir os gays. Não posso acreditar num Evangelho que faz do rito um mito, que faz do culto um evento semanal, que reduz a Palavra a um conjunto de códigos estéticos e que transforma a liturgia do servir num desfile de vaidades e pompas...

Jesus disse “Pelos frutos os conhecereis”. Aí você pensa que esses frutos são os “Frutos da Igreja”: ir na vigília de oração, participar do culto de doutrina, tomar a ceia, ler a Palavra, fazer evangelismo, jejuar, ir na escola bíblica, ou seja, os frutos acabam se resumindo a uma agenda eclesiástica, são frutos bichados! Quem dá esse tipo de “fruto”, adequa-se as regras comportamentais e fica em dia com a medição do “trabalho na obra”, é o Taylorismo do sagrado, nada pode produzir senão engano e tristeza. Por isso vemos tanta gente que já leu a bíblia inteira, mas nada entendeu sobre a mensagem, ou os que fazem orações irretocáveis, com retórica e homilética, mas sem ter experimentado a graça e a misericórdia como expressão do amor que vaza do coração. Fruto, no Evangelho, não é fazer, é ser, pois o bem aventurado é aquele que é! Sim, fruto é paz, alegria, mansidão, generosidade, solidariedade, fruto é chorar pelas dores da Terra, é afeiçoar-se dos excluídos, é vencer preconceitos, é perceber-se como gente do bem, da verdade e da justiça. O mais, digo com tristeza, é apenas a performance da religião sendo exibida no teatro do templo, a nudez da figueira recoberta de folhas, flagrada em plena performance, mas esvaziada dos frutos da vida...

“Dai, e vos será dado...”, disse Jesus, nos ensinando, na mesma afirmação, duas coisas essenciais à vida: a generosidade e a confiança. Sim, só dá quem confia, pois a natureza do homem é ajuntar para si, é guardar o bem, ainda que sem utilidade, é precaver-se, para o dia mau. Só quem confia que não haverá falta é capaz de abrir mão, só distribui que tem o coração aperfeiçoado para o amor dadivoso, pois há uma certeza inequívoca de que o justo vive apenas pela sua fé, não pelas suas posses. E assim, tendo a paz como árbitro no coração, repartir se torna uma alegria e um privilégio no chão do caminho, pois o entulho de bens, num mundo miserável, se torna ofensa contra Deus. E aquele que entender esta graça, receberá, não os juros daquilo que doou, como pagamento dos dividendos do negócio feito com a fazenda celestial, mas a satisfação de poder saciar a fome e a sede do seu semelhante, pois não há bem maior para o homem caído do que perceber que seu egoísmo está sendo tratado por uma ação soberana do Espírito Santo. Sim, receber 100 vezes mais é encher-se de valores para a vida, pois não há tesouro maior do que a transformação do ser...

Cobertura espiritual é o artifício teológico utilizado por coronéis da igreja para manter sob cabresto os favelados de alma e réprobos de razão. Sim, a velha tática da ameaça ainda funciona, sobretudo para os que acreditam que a divindade concedeu poder ao líder para repreender os que ousarem lhe desobedecer. Jesus nunca intimidou ninguém nem exigiu submissão cega de seus “comandados”, pelo contrário, chamou os discípulos de amigos e explicou-lhes que sua autoridade fora dada para o serviço em amor. Líderes que influenciam pessoas andam com bacias e toalhas, lavando os pés dos irmãos, com mansidão e humildade. Se alguém está lhe oprimindo, utilizando o pretexto de ser “Ungido” do Senhor, impondo-lhe dirigir os passos, diga-lhe, com toda a firmeza, “Arreda Satanás!”, pois tudo aquilo que não serve para a edificação deve ser lançado para longe de ti. Melhor você andar sozinho, debaixo da cobertura do Sangue de Jesus, do que mal acompanhado, debaixo do toldo furado de gente que não é capaz nem de cobrir a si mesmo, quando mais a outros. Para mim, cobertura espiritual é agasalhar o que está nu em meio ao frio e reparar o telhado da palafita na favela. O resto é fuleragem de quem gosta de fazer da igreja exército, das pessoas soldados, da bíblia um manual de guerrilha e de Deus um general.


Com toda a certeza, prefiro a “liberdade” irresponsável do Filho Pródigo, que leva o indivíduo a experimentar de tudo e, na dessigifnicação do seu viver, perceber que o que se imaginava ser vida era apenas morte, do que a ortodoxia piedosa e perversa do Irmão Mais Velho, que desenvolveu um recalque de alma pelos serviços “obrigatórios” prestados ao Pai. Sim, na primeira oportunidade que teve, mandou a conta dos anos de trabalho reivindicando juros e correções monetárias... O Pródigo saiu da presença do Pai, mas o afeto e o respeito jamais lhe faltaram, o Mais Velho, todavia, manteve-se na obediência imposta e na convivência fria, que não produziu nem paz nem bem ao coração, nada a não ser um ciúme represado e uma frustração latente pela “perda da vida”... CM

Não consigo entender uma religião onde as pessoas...
Acreditam no Criador, mas não se incomodam em destruir a criação;
Acreditam na vida abundante, mas temem viver com prazer;
Acreditam no galardão futuro, mas querem receber 100 vezes mais agora;
Acreditam no perdão dos pecados, mas vivem sequestrados pela culpa;
Acreditam na ressurreição, mas sentem agonias com medo da morte;
Acreditam no paraíso, mas querem ser prósperos aqui na Terra;
Acreditam que Jesus voltará, mas vivem como se ele nunca tivesse vindo;
Acreditam que haverá um juízo final, mas já sentenciaram muitos ao inferno;
Acreditam que as pessoas acreditam nelas, mas...


Quando se prefere a ortodoxia a revelação, a Letra ao Espírito, o dogma a liberdade, as tradições a novidade de vida, o clericalismo ao serviço solidário, o templo ao Caminho, o fundamentalismo a consciência, o dízimo a generosidade, o místico a fé, a performance a Verdade de ser, o altar a devoção piedosa, a moral a ética, a Lei a Graça, os usos e costumes a são doutrina... é um indicativo de que você é evangélico, mas, certamente, está longe do Evangelho...


Na ação do Samaritano, que acolheu o transeunte ferido na estrada, há duas imagens poderosas que podem passar despercebidas: o óleo e o vinho colocados nas feridas do moribundo. Ambos, como sabemos, são elementos cúlticos e apontam para o fato de que, a melhor adoração não é aquela feita com sacrifícios e música, pois tanto o sacerdote quanto o levita passaram ao largo, ignorando a dor humana, mas a que faz com que meu semelhante se torne o altar no qual o meu serviço solidário é realizado, expressando assim, em forma de amor generoso, o meu compromisso com a vida. Eu sou chamado não apenas para levantar minhas mãos aos céus, nas celebrações da igreja, mas, sobretudo, para estender minhas mãos ao mundo caído, a todo aquele que seja indigente de sonhos e excluído de esperanças...


O ajuntamento de pessoas na forma de igreja é muito mais uma necessidade sociológica do que teológica. Portanto, não me tragam versículos, nem interpretações do Grego, pois eu sei como gente vive e sente, ouço suas angústias e medos, acompanho seus dramas e dores. Se não quer congregar, viva só, mas não faça de sua decisão teorema para outros, nem trate quem congrega como se fosse marionete do sistema, só se deixa manipular quem não compreendeu ainda a Verdade. Jesus não precisava de ninguém para realizar a sua tarefa de pregar o Evangelho, fazer o bem, curar os enfermos e libertar os cativos. Poderia, se quisesse, seguir como um andarilho solitário, mas escolheu um grupo para caminhar e estar com ele: 12 mais íntimos, 70 achegados, 120 que o seguiam. Ao final, na Galiléia, antes de ser assunto aos céus, já eram 500. Ele é minha referência, portanto, eu preciso de um grupo de pessoas para viver a minha fé, para ser suportado em amor, acolhido com misericórdia, ensinado e confrontado com a Verdade, para também cuidar de outros e ajudá-los no Caminho. Quem vive só e está bem com isso, que seja feliz, mas não faça de sua convicção pessoal, doutrina, pois, os muitos que ouço, dizem que estão vivendo assim com dores no coração e angústias na alma, ou por falta de opções, ou por traumas de natureza psicológica, ou ainda por preguiça e conveniência. São raros os casos de quem me diz que está só e de bem com a vida...


Deixa eu te dizer uma coisa: você pode ser discípulo de Jesus sem ser uma pessoa azeda, estereotipada, presunçosa e obtusa. Sim, é possível viver a experiência do sagrado sem se fixar num gueto, sem práticas esquisitas, sem crenças estranhas, sem hábitos esotéricos. Digo-lhe mais... Você pode ser um discípulo de Jesus e ir a festas, pode fazer tatuagem, pintar o cabelo de azul, desenvolver seu lado cultural, sua sensibilidade para as artes, para a poesia, para a música ou a pintura. Você não precisa ser uma pessoa densa, complexa, enfadonha... Isso não é espiritualidade, é depressão. Trate de sua alma e você sarará para a vida. Mas, por favor, não me venha com seu modelo de pré-defunto querendo que eu ateste que isso tem algo a ver com o Evangelho...


Por favor, não me venha com sua sopinha de versículos porque eu já estou nisso há bastante tempo para ficar brincando de teologia sistemática... Se eu quisesse, com as Escrituras nas mãos, faria o que bem entendesse e a maioria acreditaria! Mas saiba: para se pregar o Evangelho, o indivíduo tem de ser, antes de tudo, sujeito-homem! Quem brinca de fazer alquimia de textos para uma igreja que nunca passou do índice da bíblia, vai se ver com aquele que é a Palavra Encarnada no último dia.


Estou cansado... Sim, estou cansado de gente que abusa da falta de bom senso, dos que flertam com o absurdo e fazem sala para a inverdade. Estou cansado de ingenuidades, da falta de compromisso com o que é correto, do descaso com o óbvio, da preguiça de alma que se instalou como aleijão na consciência. Estou cansado desta geração que prefere a performance e o fantasioso ao que de fato pode mudar a vida e fazer melhor o coração. Gente cega se escondendo atrás das vendas da religião, sem querer se enxergar, vivendo uma espiritualidade de ocasião. Perdoem o meu desabafo, mas, de fato, estou muito cansado de tudo isso.


Caridade de ocasião é politicagem...
Caridade com fins religiosos é culpa...
Caridade pela caridade é bondadismo...
Caridade assistencialista é marketing...
Caridade como ideologia é socialismo...
Caridade por amor a dor do outro é o EVANGELHO.


Os crentes tentam transformar a igreja no paraíso perdido do Édem. Que ingenuidade... Imaginam que podem reproduzir um mundinho perfeito, impermeável as realidades exteriores da vida e ao pecado. Tragédia! No paraíso havia, ao menos, a liberdade de ser. Deus estava lá, interagindo ao “cair da tarde”, ensinando o que era bom e fazia bem. Na igreja, todavia, o que existe é a tirania de estar, um código de regras e modos em busca de uma pretensa espiritualidade que tateia tentando encontrar Deus, mas que não o pode achar. Os pastores, desgraçadamente, se transformaram na “árvore do conhecimento do bem e do mal”. São guardiões da verdade, imantados, ninguém os pode tocar, quem o fizer, morrerá. E assim, nesta câmara de angústias e medo, neste gueto do pseudo-sagrado, a vida agoniza em meio a bizarrices sem fim. E a “serpente”, que a tudo vê e percebe, continua dando risadas, seduzindo os incautos bem debaixo de seus narizes. E viva a loucura!


A doutrina da imposição de mãos é citada, dentre outros lugares, em Hebreus capítulo 6 como sendo um ensino elementar da fé. Percebemos nas Escrituras, sobretudo no Novo Testamento, a imposição de mãos sendo usada na transferência de autoridade, em ministrações de cura, para recebimento do Espírito Santo, na repreensão de espíritos imundos e como instrumento para abençoar vidas. A prática pode ser fartamente vista nos Evangelho e nas epístolas, e é a consecução de crenças universais antigas, de vários povos, sendo também percebida nos textos do Antigo Testamente entre os Hebreus. Portanto, ela nem foi criada por Jesus nem pelos apóstolos. Você a encontrará entre os da Índia, nos magos brâmanes, no Egito, nas práticas dos sacerdotes de Isis, e depois entre Gregos e Romanos, como foi o caso de Hipócrates. Contudo, em se tratando do Evangelho, ninguém transfere para o outro o que lhe é próprio, senão aquilo que pertence ao Pai, por Sua exclusiva Graça, por Seu infinito poder, pois, segundo Tiago, tudo o que é bom e faz bem vem do Pai das Luzes! Portanto, no que é concernente a fé, é o Espírito Santo quem age por intermédio de homens santos que levantam mãos santas na intenção de realizar o serviço do Reino de Deus. Quando cogitamos transferir para outros àquilo que é nosso, ou seja, o espírito do próprio homem, aquilo que carregamos como conteúdo de nossas almas – emoções, sentimentos, etc – e também de nossa consciência, através da experiência sensorial, estamos tratando de uma prática muito mais espiritualista e “mágica” do que do Evangelho. Com isto não estou negando que tais ações não possam realizar coisas extraordinárias, por sua própria fenomenologia, tanto para o bem quanto para o mal, mas tão somente afirmando que, assim sendo, não temos algo que siga o ensino do Evangelho e o que vemos em Jesus. Não há, no Novo Testamento, ninguém transferindo o seu próprio espírito a outrem, mas outorgando aos que creem o Espírito Santo de Deus, o qual é livre para realizar tudo aquilo que lhe apraz.



“Negar a si mesmo” é um dos conceitos mais mal interpretados da bíblia. A religião ensina que essa negação é uma sublimação em relação à vida, uma espécie de penitência cotidiana onde o sujeito vai abrindo mão de sua humanidade, de seus desejos, até que, depois de muito caminho percorrido, chega ao “nirvana” da fé, torna-se um ser sem sensações ou sentimentos do “mundo”, fica acima do bem e do mal. Na verdade, a crença vem impregnada da ataraxia grega dos Estóicos, uma doutrina que pregava, entre outras coisas, o ascetismo da carne, a subjugação do corpo. Na esmagadora maioria dos casos, todavia, o que este tipo de pensamento provoca é a exacerbação dos instintos, pois a repressão produz todo tipo de pulsão na alma, fazendo aflorar taras, medos, psicoses, neuroses, distúrbios comportamentais, fobias, e outros dramas patológicos emocionais. Ora, é bizarro imaginar que Jesus queria isso, pois se assim fosse, não precisaria combater as tradições dos fariseus em seus banhos litúrgicos, suas reprimendas e etiquetas ligadas ao comportamento, sua preocupação com a higiene e a ingestão de alimentos, tudo ligado ao afloramento de uma pseudo santidade na vida. No Evangelho, o convite do Galileu é para negarmos a nós mesmos e tomarmos a sua Cruz, ou seja, é abrir mão de todo esforço meritório para a salvação, de todo sacrifício purgatório que tenta promover auto-justificação, de toda busca por uma santidade biônica, plastificada, pois é na Cruz do Senhor e na sua Morte e Ressurreição que tudo foi consumado! Em mim, portanto, atua o poder da sua Vida, e o Espírito me leva a experimentar o bem e a paz de cada dia, sem culpas, sem castrações, sem amputações inquisitórias que geram fantasmas na mente e tristeza no coração...



O deprimido, no meio religioso, sofre uma discriminação sem precedentes, é tratado como crente de segunda classe, alguém sem fé, sem coragem, um indivíduo que está amarrado por satanás. Já vi de tudo nesta área, do bizarro ao irresponsável, do sujeito subir no monte para expulsar o “espírito da depressão”, até aquele que deixa a medicação acreditando na profetada recebida no “culto de oração”. Trágico! Negar a condição humana é especialidade de toda religião autofágica, aquela que faz com o que o indivíduo se alimente de si mesmo, e não de Deus. Ora, toda tentativa de ignorar nossas fraquezas desemboca, irremediavelmente, na composição de um psiquismo adoecido, o qual torna superlativo todo tipo patologia emocional, da ansiedade ao pânico. Ignorar a depressão como enfermidade da alma, atribuindo-lhe uma fenomenologia espiritual, é manter um tipo de ignorância incompatível com o tempo em que vivemos. Na idade média, muitos foram exorcizados e outros tantos trancafiados em hospícios por causa de distúrbios totalmente tratáveis em nosso tempo, como a bipolaridade e a esquizofrenia. E sabe quem mediava tudo isso: a religião! Hoje é impossível lermos as Escrituras sem perceber a depressão de Jacó, após a “perda” de José, a depressão de Davi, depois do adultério com Bate-Seba, a depressão de Jó, em pele osso e somatizações, a depressão de Jeremias, nu num calabouço sombrio, a de Paulo, sentindo-se só no final da jornada, e a de Jesus, antevendo a Cruz, no Getsemani, quando afirmou: “Minha alma está abatida até a morte”. Tenho reverência pela dor do deprimido, pois sei que sua enfermidade não é visível, não deforma o corpo, mas faz sucumbir à mente em meio à aridez de sonhos e esperanças. Mas eu creio num Deus “que faz forte aos cansados e multiplica as forças dos que não tem nenhum vigor”, que levanta o caído e consola o destroçado de espírito. Contudo, e não menos, também creio, concomitantemente, na ciência, pois sei que a Graça de Deus inspira médicos e cientistas em pesquisas e na criação de medicamentos para aliviar a dor humana. Portanto, seja por que caminho for, a glória é sempre de Dele!



“Duro é esse discurso, quem o pode ouvir?”. Essa foi a conclusão da plateia de admiradores de Jesus após ele confrontá-los sobre verdades inamovíveis do Evangelho. Mas o Galileu não esmoreceu um milímetro, ele sabia que o amor tem de ser firme! Nós fazemos parte de uma geração afrescalhada, que não pode ouvir nada mais duro, que foge do confronto, que evita o “não”, que teme o olho-no-olho. No lugar da Verdade que Liberta, nos entregamos a fábulas positivistas, doutrinas triunfalistas e ensinos beliciosos. Esse é um tempo de negação da dor, somos a geração do ansiolítico, fugimos da realidade a qualquer preço, nada pode nos contrariar ou entristecer. Precisamos de teorias que fortaleçam nosso ego, anabolizantes para a mente, esteroides que criem um ambiente fantasioso, onde tudo é azul. Triste mundo perdido, de gente que agoniza debaixo do sol, sem se perceber, sem admitir seus recalques, sem discernir suas mazelas, indivíduos adultos vivendo como meninos, incapazes de construir algo consistente, eternos moleques fugindo da vida e da dureza de existir no teatro do real...



Vivemos num mundo onde as pessoas tem medo de se tocar porque esta atitude pode render um processo de assédio sexual. Não obstante isso, desenvolvemos equipamentos touch screen, pois é mais fácil ter reações satisfatórias de uma máquina do que de um ser humano. Sim, as Escrituras falam desse esfriamento do amor, desses seres de geladeira que nos tornamos, dessa glaciação da sociedade contemporânea. Vítimas da virtualidade, estamos nos tornando, definitivamente, engrenagens, em nossas veias não corre sangue, mas óleo diesel, nossos nervos são de aço, somos a geração dos homens sem alma, que amam aparelhos, mas que não conseguem amar gente de verdade...



Diz o Salmista: “Em paz me deito e logo pego no sono...”. Eis o sonho de consumo de boa parte da população mundial: deitar e dormir – sem pílulas, sem uísque, sem o cansaço de quem se entregou com volúpia ao trabalho para arrebentar a alma e chegar ao limite do corpo. Sim, não há desgraça maior do que a insônia dos que não tem paz, a falta de sono dos ansiosos, que aguardam com espasmos do coração o que será do dia de amanhã, ou a noite que não tem fim dos depressivos, que se amarguram pelo que podiam ter feito ontem, ou ainda a agonia notívaga dos perdulários, que gastaram de forma frívola a única coisa que vale a pena, que é esse dia chamado hoje. Deitar e dormir parece coisa simples, e houve um tempo em que o homem podia desfrutar deste hábito, mas nós ficamos tão sofisticados, tão avançados tecnologicamente, tão complexos que não conseguimos, sequer, fazer as coisas básicas: comer, rezar e amar. Dormir um sono tranquilo é um luxo, pois a esmagadora maioria dorme angustiada, apreensiva, com medo do sol que insiste em vir a cada manhã, com medo de tudo, do novo e do mundo, com medo da vida, da presente e da que ainda há de vir...



“Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”. Em Jesus, a única propriedade que importa é aquela que, sendo roubada de nós, não há mais como recuperar. Sim, você pode ganhar e perder bens, pode ganhar e perder prestígio, pode até ganhar e perder amigos, mas não há como ter de volta a perda de sua alma, pois, nesse caso, além de desencontrar-se de si mesmo, você também vagará no deserto do egoísmo humano totalmente dessensibilizado, impermeável ao amor de Deus, que pacifica o coração e realiza em nós todo o bem da vida. Quem perde a sua alma perde a o gosto pelo o belo, perde o olhar terno, perde as sensações e a emoção. Perder a alma é perder o chão, é arrastar-se pela mesmice do cotidiano sem encontrar os significados mais profundos de ser, é tratar gente como coisa e fazer do dinheiro e do poder a razão do existir. Portanto, cuide de sua alma, ensine-a a amar, a crer, a esperar e a agradecer pela dádiva de cada manhã, pois quão tristes são os dias de alguém que se entulhou de bens e se esvaziou de propósitos...



“O que faço para herdar a vida eterna?”, foi à pergunta do Jovem Rico a Jesus, preocupado que estava em saber se investia esforços na direção correta. Ora, toda crença que trata a vida após a morte como um objetivo a ser alcançado ou um prêmio a ser recebido, revela a imaturidade do que crê, além de fazer mover a mecânica da religião meritória, aquela que leva o indivíduo a cumprir cartilhas comportamentais com vistas a pagar a prestação para entrar no gozo final. No Evangelho, todavia, tudo já foi feito, tudo está consumado, por isso o ladrão agonizando na cruz, sem tempo para mudar de vida e realizar boas obras, ouviu do Senhor: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso!”, e isso por ter apenas crido. Na verdade, para os que são da fé, a Vida Eterna já começou, pois, o que pode ser melhor, no mundo por vir, do que desfrutar da Graça do Pai, do amor do Filho e da Comunhão do Espírito? Ora, qualquer paraíso sem isso, para mim, não passa de um inferno com ar condicionado, mesmo que nele haja anjinhos voando e tocando harpas...



“Em nome de Jesus” é uma espécie de mantra, muito utilizado em orações no meio evangélico, algo como um “abracadabra” mágico dito sempre ao final de alguma frase. “Senhor, prospera o meu negócio, em nome de Jesus!”, “Demônio, sai, em nome de Jesus!”, “Eu determino a benção sobre a tua vida, em nome de Jesus!”, são alguns dos exemplos da aplicação prática do mito. Ora, quando Jesus afirmou que nós orássemos pedindo alguma coisa em seu nome, obviamente, ele estava afirmando que tinha de ser algo conforme a sua vontade, feito da perspectiva dele, o que ele próprio faria em seu lugar. Ele não lhe deu uma chave para destravar problemas, mas uma chave para abrir a sua consciência quanto ao que pedir ao Pai. Então, peça em nome de Jesus o que ele pediria, e peça em seu próprio nome aquilo que concerne a você, pois, usar o “Nome de Jesus” para dar uma "carteirada" em Deus não fará com que ele ouça a sua petição... CM

"E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve". 1a. Jo. 5:14

Toda crença que se baseia em castigos e proibições é infantil. Acho curioso as pessoas não comerem alimentos na vida diária ou em datas específicas para não desagradar a divindade a qual servem. Sim, o costume é pagão, ligado a crenças do mundo antigo de oferecer comida aos ídolos, ritual também encontrado em religiões de matriz africana, mas desprovido de significados e desdobramentos para a vida. Ora, em Jesus, tudo é recebido com ações de graças e alegria, pois o que contamina o homem é o que sai do coração, não o que entra pela boca.


Adão foi o primeiro ser vivente racional a andar debaixo do sol, mas Jesus foi o primeiro homem. Sim, João afirma que ele é o Unigênito Filho de Deus e Paulo, o primogênito entre muitos outros que viriam após ele. Portanto, nós não nascemos homens, conforme o propósito de Deus, mas podemos nos tornar homens tendo a Jesus como referência de humanidade perfeita. Desta forma, é possível alguém ser criado, mas jamais se tornar gente, ser apenas existente, um ser com fôlego de vida, mas sem propósitos para viver ou significados para existir...


Conversão, conforme o Evangelho é um ato de decisão pessoal, consciente e espontâneo, não tem nada a ver com apelos melodramáticos, pirotecnias circenses, coações retóricas, oportunismo, manipulações, ou qualquer outro método usado pela igreja para tornar o visitante um prosélito, membro de facção. Em Jesus, conversão é algo natural, que acontece no chão da vida, no encontro humano com o sagrado, quando o coração se aquece pelo convencimento de pecado produzido pelo Espírito Santo. Sim, foi assim com Zaqueu, que afirmou diante de todos que queria viver de forma diferente, com o Cego de Jericó, que clamou por Jesus a beira do caminho, com o Aleijado de Cafarnaum, trazido a sua presença pelos amigos, ou a Mulher do Fluxo de Sangue, que o procurou em meio à multidão. Também foi assim com Nicodemos, que buscou o Galileu à noite, em meio a angústias sem fim, ou ainda o Leproso, que após ser curado retornou para dar glória a Deus, além de tantos outros casos relatados nos Evangelhos. Portanto, conversão não é levantar a mão no culto, ou ser preparado como catecúmeno para o batismo, nem mudar de roupa, ou alterar a fala, decorar versículos bíblicos e frequentar cultos. Quem se converter assim, no máximo, aceitou o manequim da religião, para andar e viver conforme as doutrinas da agremiação. Quem, todavia, aceitou o perdão oferecido pela Graça de Deus, jamais se deixará encabrestar por nada, nem jugo humano, nem ditames eclesiásticos, pois ninguém pode aprisionar numa jaula quem já nasceu com a consciência pacificada e o coração livre para caminhar com alegria e reverência sincera por ter recebido tão grande salvação...


Bullying religioso é quando você segrega seu irmão por ele não ter, supostamente, seu pedigree espiritual, por não falar em línguas estranhas, ou por não saber citar textos - com capítulo e versículo, ou ainda pelo fato de que seu gosto, em termos de roupas, não se adequa ao cabide da alta costura de sua denominação. Sim, o lugar onde eu vi gente ser mais discriminada foi na igreja, por ser solteiro, ou por ser gay, por fumar, beber, ser tatuado, ou qualquer outra coisa que nada tem a ver com uma relação de intimidade com Deus. Na verdade, a religião é como a Lenda de Procusto que tenta, a todo custo, nivelar os indivíduos. Sim, ao invés de celebrar a singularidade, exerce poder para serializar tudo, ao invés de lidar com diferenças, tenta igualar todo mundo pelo padrão da mediocridade. Jesus nos fala sobre sermos “um”, quando trata da questão da comunhão, mas também nos ensina que somos “únicos”, no que tange ao amor de Deus e a salvação. De minha parte, prefiro estar entre pagãos que me aceitam do que entre crentes que me julgam por causa do que aparento, e não em função daquilo que, de fato, sou...


É curioso ver como o Deus da religião se preocupa mais com brinco, batom, comprimento de saia, tatuagem e cor do cabelo do que com avareza, inveja, egoísmo e ambição. Ele mais se parece com uma divindade grega, que privilegia a estética, do que com o Deus dos Hebreus, que demanda que o homem possua ética. Disse o Senhor a Samuel: “Deus não vê como vê o homem...”, mas nós preferimos nos apresentar diante dele com exterioridades performáticas do que com interioridades factuais. Sim, este é um tempo de muito carisma e pouco caráter, de rostos irretocáveis e mentes sujas, de almas vaidosas ao invés de espíritos quebrantados. Olhando para uma geração semelhante a nossa, Jesus afirmou: “Ide compreender o que significa: misericórdia desejo, não holocaustos”, ou seja, prefiro os que fazem o bem e andam em humildade do que quem me traz dízimos e canta louvores sem devoção na alma, pois de nada aproveita o serviço feito em nome do sagrado quando o sagrado não acontece como paixão reverente e dadivosa no coração e na consciência...


Não me preocupo com quem traga um cigarro, sobretudo se ele respeitar o ambiente no qual estou, mas me preocupo com aqueles que tragam a alma do outro, que fumam o indivíduo com seu preconceito e o excluem de ser alcançado pelo bem de Deus na vida. Sim, tem gente que jamais colocou um cigarro na boca, mas carrega na língua toda desgraça que segrega o seu semelhante ao juízo de andar sem esperança debaixo do sol. É melhor ter fumaça no pulmão do que ódio no coração, melhor morrer de infarto pelo fumo do que de gangrena pela arrogância da consciência...


Não importa o que está sendo pregado nas igrejas, as pessoas não tem condições de discernir um palmo adiante do nariz, se o conteúdo é Palavra de Deus, do Homem ou do Diabo. Sim, elas não conseguem perceber se a mensagem está aditivada, adulterada, manipulada ou enfeitiçada. E acredite: desde que a engrenagem funcione, ninguém irá reclamar de nada, pouco importa o que se diga ou o que se faça...


“Eu Sou!”, disse Deus a Moisés. Como seres relativos, é impossível tentarmos compreender a Deus, mas Ele, em sua misericórdia e sabedoria, nos deu uma forma viável de mediar nossa experiência com o sagrado ao nos permitir “criar” para nós um Deus que caiba em nossas crenças e necessidades. Isso pode ser melhor percebido em Jesus, quando ele afirma: “Eu sou o Pão da Vida”, “Eu sou a Luz do Mundo”, “Eu sou a Porta das Ovelhas”, “Eu sou o Bom Pastor”, “Eu sou a Videira Verdadeira”, “Eu sou a Ressurreição e a Vida”, ou seja, eram todas representações de Deus para ajudar as pessoas na compreensão das Verdades da Fé. A igreja, portanto, deveria ser um importante canal de “modulação” de Deus para o mundo, ajudando àqueles que não compreenderam nem creram a perceber a bondade de Deus. Mas a igreja insiste em sair do mundo e em não discerni-lo em suas questões mais dramáticas e, sendo assim, a partir desta ideia profundamente equivocada de santidade, onde ao invés de sermos santos no mundo nos tornamos “santos” sem o mundo, perdemos a oportunidade de apresentar aos que não creem o único Deus que pode dar sentido e significados para a vida... CM


“Tudo isso já tenho feito, desde a minha mocidade”, foi a resposta do Jovem Rico para Jesus após ser desafiado a andar por fé, e não pelas riquezas. Sim, ele estava tão condicionado a cumprir os ditames do judaísmo, a seguir as cartilhas comportamentais das tradições, a se submeter aos ritos ocos e sacrifícios mecânicos, que imaginou que o pedágio já estava pago e o acesso à eternidade garantido. É um erro crasso imaginar que a rotina religiosa pode melhorar algo em nós, mesmo aquela que fazemos desde tempos imemoriais, pois o que aperfeiçoa o coração e torna melhor a consciência é o viver pacificado com Deus e com o próximo, algo que as crenças da igreja não privilegia. Sim, a igreja lhe desafiará a jejuar, orar, evangelizar e ir ao culto, coisas importantes à fé, mas sem qualquer proveito para quem ainda não compreendeu que tudo já foi consumado, não há mais agendas a cumprir nem trabalhos a realizar, pois o justo viverá pela sua fé, não pelos seus feitos...


A religião, desgraçadamente, propõe que o sujeito viva num mundo paralelo onde se é impossível viver. Ora, foi por isso que Jesus pediu ao Pai que não tirasse ninguém do mundo, mas que os livrasse do mal, sobretudo, esse mal que se traveste de piedade e que leva o indivíduo a se achar melhor do que os outros em função de sua cartilha comportamental. O que sucede, todavia, é que a pessoa, arrancada da vida real, e não tendo possibilidade de viver como um manequim de loja, sem vontades ou sentimentos, passa a existir como um embuste entre o idealizado e o possível. Sim, a religião não faz ninguém singular, pelo contrário, cria um personagem em série que vive a eterna angústia de crer em algo que não se pode encarnar no chão dos dias. Por isso, observe, todo religioso é raivoso, pois esse é o saldo que surge na alma em função da agressão que se faz a psique. E assim, tentando equilibrar esta conta que nunca fecha, ele nem aproveita o supérfluo da vida, nem muito menos a alegria e a paz de ser conforme o Evangelho....


Fazer missões é enviar as pessoas com sementes de paz e alegria, graça e misericórdia para o cotidiano da vida. Quem pensa que só se faz missão enviando um sujeito para a África ainda não entendeu nada. Como podemos querer salvar pessoas em outro continente se nossos vizinhos de porta estão sofrendo sem Deus no mundo?


"Ao erguer os olhos, a ninguém mais viram, senão somente a Jesus". Mt. 17:8. Essa é a única "visão" que você deve seguir, pois ela está acima das leis e das profecias. Se sua igreja prega qualquer outra, ela fala do que é próprio a religião, da ideologia de um líder, ou dos interesses de uma denominação, mas nada disso é conforme o Evangelho. Uma "visão" que não comece e termine em Jesus, ainda que seja de anjos, para nada aproveita, e não te levará a lugar algum, apenas produzirá angústias e sofrimento de espírito...


“Gravarei as minhas leis na sua mente e as escreverei em seu coração”. Hb. 8:10.
Jesus é a Palavra encarnada que dá significado e produz entendimento a palavra encadernada. Por isso, no sermão do monte, ele afirmou: “Ouvistes o que foi dito...”, e, logo em seguida, “Eu porém vos digo...”. Mais do que base bíblica para afirmar algo, eu preciso de referencial em Jesus, pois é nele que eu encontro a Palavra para além do código. Ora, se a Lei fosse suficiente, não seria necessário o Verbo se tornar Carne, eu poderia viver pelas regras e pelos ditames das prescrições e dos ascetismos judaicos. Mas as Novas Leis, do Espírito e da Vida, foram talhadas no coração e na consciência, e não mais na pedra ou no papiro, elas seguem a Verdade Revelada e não a interpretação cauterizada, tornam o texto multiforme, e não mais uniforme, pois a sabedoria e a graça abrangem dimensões para além das etiquetas das prescrições regulatórias. Quem é do Evangelho, ouve essas palavras e se alegra, pois sabe que o Espírito sopra onde quer, mas quem é da religião se angustia, pois imagina que elas são um atentado contra o código da letra, que foi divinizado, pois quem não anda em fé e confiança, precisa de mapas e de bulas de salvação para viver...


O crente é um ser tão travado na existência, que quando se diverte com algo que não é feito pela igreja pensa estar em pecado ou ter ofendido a Deus. Sim, crente além de quase não ter amor, não tem também humor, esquece que o Pai, ao receber o filho pródigo, não fez uma vigília de oração nem culto de ações de graça, mas deu uma festa e celebrou a alegria do encontro e da vida até o amanhecer...


Os Evangélicos, que gostam de combater tudo e ser do contra, deveriam fazer seu próprio desfile de carnaval. Como agremiações carnavalescas, as denominações desfilariam impolutas na passarela da moral e dos bons costumes. No carro dos assembleianos, todos de paletó, no dos presbiterianos, a moçada de toga calvinista e no dos neopentecostais, gente vestindo Prada e Channel, com Thales puxando o samba gospel! Seria mesmo imperdível!


O mundo Gospel vem se tornando uma projeção paralela do mundo que “jaz no maligno”. É barzinho gospel, carnaval gospel, bebida gospel – sem álcool, e agora, filme pornô gospel! A religião imagina que, alterando a natureza das coisas, dando-lhes um aspecto de “santidade”, de glamour evangélico, de glacê teológico, elas se tornarão melhores do que são. Tolice. Quando Jesus afirmou que é a forma de olhar que muda o objeto que se vê, ele ensinou que o que está fora só pode ser verdadeiramente discernido pelo que há dentro de nós, ou seja, são os conteúdos que carregamos que nos permitem ver algo, e não a forma que esse “algo” possuí. Por isso Paulo afirma: “tudo é puro para os puros”, seguindo a mesma linha de raciocínio. O Evangelho não é um convite para melhorar o mundo, mas para transformar os indivíduos, de dentro para fora. Enquanto a igreja não entender isto, continuará tentando fazer maquiagem na existência, deixará de adorar a Momo, mas não se constrangerá de adorar a Mamon...


Quem entendeu que, em Jesus, toda geografia do sagrado foi extinta, não precisa subir em montes para orar. Na verdade, a única montanha a ser conquistada está em nós mesmos, no nosso coração, e é preciso escalá-la para romper com a vaidade, o orgulho e o egoísmo. Sim, em se tratando do Evangelho, subir a presença do Senhor é algo que só pode ser feito quando se desce em humildade e quebrantamento no interior do ser...


O ministério profético se encerra, como sabemos, em João Batista, e isso é óbvio, pois, diante de Jesus, não há mais necessidade de previsões, tudo se consuma e se completa, nele! Ora, quando Paulo fala em suas cartas em dom de profecia, não está tratando de adivinhações personalizadas nem de predições apocalípticas, mas de toda revelação que aponta e é conforme o Evangelho, aquela que converge, exclusivamente, para o que Jesus ensinou. Quem anda atrás de profecia ou vive por elas é menino na fé, gente que ainda guarda o sincretismo da cultura como herança religiosa, que se assemelha, em sua crença, ao paganismo dos ciganos, das cartomantes, dos astrólogos, dos místicos, feiticeiros e esotéricos. Eu não preciso saber de nada do meu futuro, pois o meu futuro já foi escrito na Cruz, eu não sou um cidadão do tempo, mas um ser da eternidade...


Na mecânica de toda religião há duas questões centrais: o que eu não devo fazer para não ofender a divindade, e o que eu devo fazer para ser recompensado por ela. O Evangelho, todavia, não nos propõe demandas, pois tudo, absolutamente tudo, está consumado. Por isso, toda fé baseada em proibições e recompensas é pagã, nada tem a ver com o que Jesus ensinou, ainda é a moral tentando obter o céu com suas doutrinas de causa e efeito...


O único sexo que não é pecado é aquele feito com amor. Sim, qualquer outro tipo, por mais ortodoxo que seja, ainda carrega os vícios da natureza caída do homem: o egoísmo tarado, que busca a satisfação plena em detrimento da aridez do tesão alheio; a fidelidade de ocasião, que faz reverência ao coito com o mesmo corpo, ainda que a mente tenha se viciado em trazer para a cama alguém que não deveria ali estar; e as prescrições da pseudo-moral-ascética, que estabelece os limites do “isso não” e do “aqui não” por medo de sentir desejo. Sexo, onde dois se amam, se respeitam e se entregam, não tem fronteiras, nem pruridos, nem não-me-toques, tudo é gostoso de fazer porque dá prazer ver quem se ama ser feliz...


O jejum, no meio evangélico, é uma espécie de “Espinafre do Popeye”, o sujeito faz uso dele como um suplemento espiritual com vistas a se fortalecer, tornar-se mais ungido, mas destemido na sua luta contra o diabo, é algo travestido de sobrenaturalidade, não obstante não passe de uma prática supersticiosa e vazia. Sim, o Jejum de Jesus foi feito como preparação para a oferta de si mesmo ao mundo, portanto, correlatamente, ele deve ser algo que aguça a consciência e fortalece o coração para a ação solidária e generosa com o outro no chão da vida. O jejum tem, sim, esse poder de nos mover para fora de nós mesmos, ele leva a fixar o olhar para o que está no entorno, para as realidades dramáticas que nos cercam, como a dor, a miséria e a injustiça contra aquele que é nosso igual. Isaías, no capítulo 58, já advertia a Nação de Israel quanto a esse jejum ascético, auto-indulgente e meritório, que visa fazer chantagem emocional com a divindade com vistas a tirar proveitos dela. Já ali, numa sociedade experimentando um desequilíbrio social grave, há a denúncia do abandono dos pobres em detrimento do exercício de uma espiritualidade oca, que imaginava que Deus desejava que o abastado se privasse de pão por um ou dois dias, enquanto o faminto agonizava sem ter o que comer. O único jejum que agrada a Deus é aquele que você faz para o benefício do outro, um jejum que remove a lepra da alma para torná-la sensível ao sofrimento humano, o jejum que traz algum proveito alimenta o coração de solidariedade, move mãos e pés na direção dos indigentes da terra, dos esquecidos e soterrados sem qualquer esperança. Tudo o mais, para mim, é só fuleragem, não é necessário se fazer um curso para aprender o óbvio! Com o que está dito aí, você já está diplomado em jejum, não precisa de mais nada...


Você pode ser possuído por dois tipos de espíritos: o dos demônios e o espírito do próprio homem. Sim, gente pode possuir gente para o bem e para o mal, pois todo encontro humano é, de certa forma, possessão. Portanto, tenha cuidado com quem você convida para entrar no íntimo do seu ser, pois a “variedade” promíscua ao invés de proporcionar experiência, fomenta, na verdade, a decadência da alma, exila o indivíduo para o mar do abandono dentro do seu próprio corpo. Pessoas que tem por hábito cultivar relacionamentos fortuitos, gente que se entrega a um rosto bonito ou um corpo esculpido, não percebe o mal que faz a si ao trazer para o coração uma mistura enorme de sentimentos, o que faz com que a mente se torne compulsiva pela busca de novas possibilidades. Tenho pena dos que imaginam que se entregam pelo prazer e que isso nada lhes custará, pois, mais cedo ou mais tarde, perceberão que perderam sua essência, diluíram-se dentro de si mesmos, já não possuem mais identidade nem unicidade, se você lhes perguntar o nome, tristemente, responderão: “meu nome é legião”...


Santa Ceia? É ser pão para o faminto e vinho - alegria - para o oprimido de alma. O resto é rito dominical elitizado para uma igreja cauterizada de mente e gangrenada de coração. O memorial que não aponta para a vida e não se faz carne e sangue no Caminho, para nada aproveita, é tradição religiosa que reverbera como piedade perversa. Jesus disse que era o verdadeiro Pão que havia descido do céu, e assim, arrematou: "A minha comida e a minha bebida é fazer a vontade de meu Pai".


Jesus, vivendo hoje, teria muita dificuldade de se tornar membro de uma das milhares denominações cristãs. Sim, o galileu, por seu estilo de vida e suas convicções de consciência, não se enquadraria na esmagadora maioria das agremiações religiosas deste tempo. Se não, vejamos: se Jesus fosse para a...

Assembleia de Deus,
seria considerado tradicional por não orar em línguas estranhas;
Batista,
seria considerado desviado por gostar de beber vinho;
Anglicana,
seria considerado fraco teologicamente por não se enquadrar na liturgia;
Igreja do Valdomiro,
seria considerado apóstata por não participar das correntes e campanhas;
Igreja Católica,
seria considerado protestante por não adorar imagens;
Metodista,
seria considerado liberal por não ser dado a sistematizações;
Igreja do Agenor Duque,
seria considerado endemoninhado por não se vestir com trapos;
Bola de Neve,
seria considerado careta e antiquado;
Adventista,
seria considerado mundano por não guardar o sábado;
Renascer,
seria considerado desviado por não ser gospel;
Igreja do R.R Soares,
seria considerado “deus de segunda” por fazer menos milagres que o evangelista;
Presbiteriana,
seria considerado herege por não ser calvinista;
Congregação Cristã,
seria considerado incrédulo por causa da barba e do cabelo;
Quadrangular,
seria considerado recalcitrante por não querer carregar a arca da aliança;
Universal, do Edir Macedo,
seria considerado infiel por não dar o dízimo;
Igreja do Terra Nova,
seria considerado insubmisso por não aceitar a autoridade do apóstolo;
Se não fosse para grupo nenhum,
seria considerado desigrejado pelos demais...

Curiosamente, todavia, Jesus seria bem vindo entre góticos, punks, nerds, gays, índios, grunges, hippies, roqueiros, ateus, agnósticos, místicos, e outros excluídos da sociedade...


“Vinde a mim todos os que estais cansados de carregar suas pesadas cargas, e Eu vos darei descanso. Tomai vosso lugar em minha canga e aprendei de mim, porque sou amável e humilde de coração, e assim achareis descanso para as vossas almas. Pois meu jugo é bom e minha carga é leve”. Mt. 11:28-30.

Havia dois fardos sobre o povo faminto e miserável da Galiléia, o fardo do Império – político – e o fardo do Sinédrio – religioso. O fardo político tornava a vida impossível, pois asfixiava o povo com pesados impostos para manter a opulência e a potência de Roma. E como todo fardo político, o dos dias de Jesus gerava uma legião de esquecidos e amputados, gente que estava à margem, que esmolava um pouco de pão e dignidade, que agonizava a céu aberto. O outro fardo que esmagava o povo era o fardo religioso, a Lei e as tradições, um conjunto de regras de cunho moral envolta em algumas centenas de costumes ascéticos e normativos dos Fariseus. Sim, o peso era tão grande que ninguém nunca pôde cumprir seus rigores, nem mesmo os religiosos mais ferrenhos eram capazes de ser justificados por aquela cartilha de morte baseada em ritos ocos e sacrifícios ineficazes. O que o poder político fazia por um lado, o poder religioso completava pelo outro, eram duas potestades a serviços da desgraça humana, da humilhação do indivíduo, do subjugamento de sonhos e esperanças, da castração da alma e do cerceamento do ser. Agora olhe para os nossos dias... e perceba que nada mudou. Hoje, a opressão vem do Estado e da “Igreja”, são as mesmas potestades de antes, apenas foram repaginadas, mas ainda estão a serviço da opressão do homem. O remédio, contudo, também continua sendo o mesmo, o Evangelho! Sim, a mensagem ainda é a mesma, que Jesus liberta-nos de todo os pesos impostos pela vida e convida-nos a um andar leve, livre, a sermos Gente da Graça, do Perdão e do Amor. Não se engane, não há mais tempo a perder! Diz as Escrituras que “os humildes ouvirão e se alegrarão”, portanto, está falando de nós, dos que não fazem parte do establishment nem religioso nem político, dos Cidadãos de um novo Reino, dos alforriados para viver a serviço do bem, dos “chamados para fora”, dos que foram comissionados a ser semeadores de sonhos, artesões de um novo mundo!


Esse é um tempo curioso, onde líderes religiosos conseguiram o impensável: transformar Deus no diabo e o diabo em Deus. Sim o Deus dessa gente é um ser persecutório, ensimesmado, raivoso, cheio de preconceito, impaciente, e o diabo deles uma divindade que tem poder, capaz de alterar o curso da vida, de realizar proezas, vasculhar consciências e interferir na salvação... Quando na igreja Deus vira o diabo e o diabo vira Deus, o resultado é o que está aí...


O desigrejado é alguém que está em busca de se igrejar. O desigrejado é o indivíduo que, pela sua consciência no Evangelho, partiu em paz de onde estava e está determinado a encontrar um novo lugar para desenvolver sua espiritualidade. Assim, "desigrejado" é uma condição temporal, não definitiva de alguém. Existir como um desigrejado é cultivar o trauma religioso ou o capricho raivoso quanto a instituição. Compreendo que alguém não se encaixe num sistema de industrialização da fé, mas não compreendo que alguém opte em caminhar sem se unir a outros que pensam e vivem como ele. O aleijão da igreja não pode ser um álibi para que eu justifique a minha falta de apetite em comungar dos dons dos meus irmãos e também por os meus dons a serviço do Corpo.


Enquanto a igreja insistir em ser uma casa da alta costura da religião, medindo o tamanho da saia, do biquíni, da barba, do cabelo, do brinco das pessoas, a sociedade olhará para ela não como um lugar de pacificação e graça, mas como uma indústria que produz medo e neurose em série...


O desafio da igreja é jogar os fiéis no mundo, tirá-los do conforto dos bancos para expô-los as dinâmicas da vida real. Uma igreja trancada numa catedral tem a mesma eficácia de um médico trancado dentro da farmácia do hospital enquanto os doentes agonizam no CTI. Quem não quiser descer para o "play", que vá brincar de outra coisa...


A vingança de Deus foi amar. Na Cruz, ele fez o acerto de contas conosco com toda sua compaixão. Sim, Deus não sabe o que é o mal, nem pode ser tentando por ele. A ira de Deus contra o pecado revelou a sua Graça e sua sentença contra a humanidade caída é a Misericórdia.


Minha arte é fingir... Finjo não me importar, finjo não sofrer, finjo não saber, finjo acreditar, finjo... E fingindo vou morrendo um pouco por vez, sem pressa, pois não há coisa pior do que fingir viver enquanto se está morrendo... Portanto, não se enfureça comigo, como se tudo fosse descaso, como se o acaso fosse razão, no fundo, qualquer pedaço da vida me corta o ser e se pareço não sentir é porque disfarço, finjo até sem saber, finjo para não sucumbir...


O pior tipo de alienação religiosa é aquele que lhe induz a pensar que você está agradando a Deus. Sim, a igreja é especialista em produzir agendas que promovam essa sensação, pois o indivíduo se torna um ativista em nome do sagrado, um robocop da fé, uma peça numa engrenagem que gira em torno de si mesma, com um apetite voraz de engordar sua própria pança. A ideia de que fazer coisas para Deus fará com que ele se agrade de você e, sendo assim, lhe abençoe, produz uma geração de pessoas movidas pela barganha, além de desenvolver o pensamento falacioso de que eu posso, por mim mesmo, satisfazê-lo. Ora, isso destrói, ao menos, dois pilares importantes da sã doutrina, como a suficiência do sacrifício de Jesus e a impossibilidade da auto-justificação. A aeróbica religiosa feita dentro de igrejas-fitness produz o que eu chamo de evangelho biônico, aquele que desenvolve um tipo de musculatura espiritual anabolizada, inflada pelo esforço humano e pela meritocracia religiosa, um viver pesudo piedoso que elimina o arrependimento, a confissão, a penitência e a dependência do Espírito Santo no processo de construção da consciência no Evangelho.


A tradição é boa quando não se constitui uma traição. Tenho sempre ouvido argumentos sobre a manutenção das tradições da igreja e como pensador deste tempo observo tudo com cautela, com a desconfiança de quem viu coisas boas se tornarem culto de si mesmas, não raro, para promover egos obesos e também para burocratizar a dinâmica eclesiástica. A tradição não pode ser a perpetuação de algo que se constituiu crime contra o Evangelho, ainda que tenha sido praticado pela Igreja Primitiva, ou pelos Pais da Igreja, pela Igreja Medieval ou, após o século XVI, pela Igreja Reformada. A tradição deve ser preservada quando ela é promotora da vida, ao apontar para as verdades da fé que foram encarnadas em Jesus, quando fomenta a solidariedade, o serviço generoso, na guarda da sã doutrina e no estabelecimento de tudo que promova como cerne o amor. Quando a tradição se torna establishment da elite religiosa, quando se designa a fazer diferenciação, a estabelecer privilégios, a promover devoção a ritos, liturgias, formas e modos, ela se transforma em traição, pois subverte a simplicidade e a pureza à qual nos chama o Senhor da Igreja, fere o bom senso e esmaga a razão. Jesus tratou a “Tradição dos Fariseus” como sendo algo perverso, pois era o acréscimo de ascetismos e reprimendas que só tornavam a Lei ainda mais sufocante do que ela já era. Ainda que os rituais estivessem sendo observados pela esmagadora maioria dos judeus, eles não passavam de expressões de obsolescência e caducidade de um tipo de religião que havia perdido todos os significados e implicações. Ora, da mesma forma, o fato de algo ser feito pela igreja não o torna, obrigatoriamente, legitimado por Deus! Pelo contrário, temos visto uma enormidade de procedimentos eclesiais que nada tem de respaldo na vida do Galileu. Portanto, guardar uma tradição é preservar a memória de tudo aquilo que pode ser convertido em vida, em graça e em misericórdia, é a promoção de um tipo de ação que glorifica a Deus, ainda que pelo uso de símbolos, confissões e ações concretas de serviço espontâneo e cheio de gratidão. O mais, para mim, é adoração a pano, vestes, imagens, móveis, utensílios, liturgias e tudo o mais que tem aparência de piedade, mas que, contudo, nem exalta a Deus, nem tem comunhão com a encarnação de Jesus, nem qualquer serventia como meio de manifestação da Graça e do Amor.


O Evangelho é um convite ao viver equilibrado, onde o “vinde” tem de ser seguido pelo “ide”, o culto desperta o desejo da missão, a santificação pessoal desemboca na solidariedade com o outro, a busca dos dons ganha significados pela encarnação dos frutos, a oração se reveste de propósitos para o exercício do serviço. Assim, toda busca do céu é para nos ajudar na forma como vamos andar no chão da vida, pois o entendimento da Palavra tem que produzir ação, a fé carece das obras! Quem caminhar desta forma encontrará sempre a paz e o bem, será como um jardim regado pela alegria e adubado pela misericórdia.


A bíblia utilizada...

como instrumento de explicação do mundo e da vida, gera Fundamentalistas

como manual para controle das inclinações da carne, gera Ascetas

como meio sagrado de manipulação das pessoas, gera Estelionatários

como aparelho de controle da conduta moral, gera Fariseus

como repositório de doutrinas e sabedorias, gera Filósofos

como literatura política para corroborar ações sociais, gera Marxistas

como escrito sincero dos homens antigos, gera agnósticos

como material de apoio a outras crenças, gera hereges

como artefato linguístico e histórico, gera Ateus

como revelação dissociada do Espírito da Verdade, gera ideologistas

como manual de controle de mentes, gera Fanáticos

como conteúdo maleável e adaptável a interesses, gera Politiqueiros

como meio de propagandas expansionistas e colonizadora, gera Marketeiros

como verdade que se ajusta a conveniências e interesses, gera Sofistas

como instrumento de culto a si mesma, gera Evangélicos

como adorno de prateleira ou objeto supostamente imantado, gera Católicos

como artefato que produz crenças sobrenaturais e metafísicas, gera Místicos

como instrumento da revelação de Deus aos homens e lida a partir da

Encarnação de Jesus, gera discípulos do Evangelho.

E eu poderia citar mais algumas dezenas... Portanto, cuidado como você lê e interpreta a sua bíblia...


As batalhas que travamos são de três níveis: o primeiro é o nível natural, ou seja, as batalhas que são travadas no chão dos dias, as batalhas que se materializam no cotidiano, que fazem parte da história humana. Assim foi, por exemplo, no Velho Testamento, com o povo de Israel em sua luta incansável pela sobrevivência contra filisteus, assírios, babilônicos, persas, dentre outros povos. A segunda “camada” das batalhas se desenrola no plano espiritual, ou seja, nas regiões e dimensões para além da matéria, onde habitam tronos e potestades de realidade meta-física. Demônios transitam por estas vias e mundos, influenciando o que acontece na existência tangível, se alimentando do “pó da Terra”, da produção do que de pior existe no indivíduo. O terceiro nível da batalha é intelectual, acontece na psique humana, é do lado de dentro, nas ambiências da alma. Essa, talvez, seja a luta mais intensa e difícil de ser vencida, pois lida com o pecado que nos habita. A Escritura fala dessa batalha constante entre a carne e o espírito, entre aquilo que sou e aquilo que devo me tornar. É a luta contra sensações e sentimentos, contra o egoísmo, contra a avareza, contra aquilo que se deteriorou em mim pela via da queda, o que me desumanizou e me tornou inimigo de Deus. Portanto, discirna de que natureza são as batalhas que você trava e lembre-se que, contra cada inimigo, existe uma arma poderosa. Nas lutas naturais use a Palavra da Verdade, pois ela é capaz de destruir sofismas e nos guiar pelo caminho seguro. Nas de dimensões espirituais, contra forças do mal, temos a autoridade do Nome de Jesus, ante o qual todo joelho se dobra e toda manifestação das trevas tem de ceder. Finalmente, nas batalhas contra o nosso homem interior, temos a Cruz e o Sangue do Cordeiro, que ataca mortalmente e, definitivamente, nossa natureza pecadora e tudo o que por ela é produzido.


É curioso como a religião tem a necessidade de estabelecer controles, uma compulsão ansiosa de colocar coleiras existenciais nas pessoas, criar mecanismos, ainda que psicológicos, que visem domesticar o indivíduo em suas manifestações públicas, uma vez que, na alma do sujeito, em sua mente, na esmagadora maioria dos casos, acontece todo tipo de calamidade e aberração. Sim, veja como a exacerbação, com vistas à piedade, ao invés de produzir santidade acaba produzindo insanidade. Por exemplo, a Escritura não sugere que você não beba, mas que não se embriague, nem diz para não comer, mas instrui a fugir da glutonaria, não recomenda que não se faça sexo, mas aconselha que ninguém se entregue a promiscuidade, ou muito menos que você não descanse, mas orienta que fuja de um viver preguiçoso. Tudo feito com equilíbrio e bom senso é santificado em você como dádiva do Pai, pois, como afirma Paulo, “tudo é puro para os puros!”, ou seja, a pureza não está naquilo que se faz, mas, sobretudo, no "por que" e no "como" se faz. Ninguém é chamado a seguir uma bula de salvação, mas ao exercício de uma consciência livre que não teme andar no chão da vida nem experimentar àquilo que o dia nos traz. Se devemos fugir de algo, nos desviemos de um olhar viciado das coisas, do preconceito, da maledicência, da generosidade culposa, que faz o sujeito ser dadivoso com fins de ser abençoado pela divindade mágica que ele mesmo criou. Ora, tudo de mais é muito, diz a sabedoria popular, até mesmo a santidade excessiva é presunção, pois a consciência do santo faz ele discernir o seu pecado e, sendo assim, ela o convida a cada manhã ao exercício do arrependimento sincero e da confissão que pacifica o ser. Até mesmo o amor, quando se torna excesso, faz mal, produz asfixia e dispneia de alma, pois overdose de amor é idolatria, gera doença e estraga a convivência. Ande buscando o equilíbrio e tudo de bom lhe sobrevirá, não tenha medo da vida, acolha tudo com gratidão e a luz estará sempre brilhando sobre a sua cabeça...


O cristianismo, em geral, se preocupa muito com a corrupção que há no mundo, mas não percebe que a grande corrupção é feita daquilo que se corrompeu dentro de nós. Sim, o que ocorre como degradação está dentro, não fora, o que é exteriorizado já é a consequência do que aconteceu nas ambiências íntimas do ser, nos regaços da alma. É o olhar que se contaminou e agora só é capaz de percebe o mal, é o coração que se enrijeceu para o bem, é a consciência que se deixou estuprar pela perversidade da moral religiosa, a qual produz um indivíduo leproso de sentimentos, insensível a dor do outro, e tudo isso vai industrializando uma poluição no interior da gente com uma consequente perda da sustentabilidade do humano que deveria existir em nós. Combater os problemas do mundo é tentar solucionar os desdobramentos de um incêndio que é alimentado com as brasas vivas do pecado e da corrupção do homem, e esse fogo só se extingue pela via da pacificação que há no perdão produzido pela Graça de Deus, o qual refrigera os cômodos incensados pelo calor da maldade derramada como larva de vulcão na vida. O inimigo, portanto, está dentro, não fora, o inimigo, muito antes de ser o diabo, é você mesmo, é a sua incapacidade de perceber-se, com vistas a que aja, por intermédio do Espírito Santo, arrependimento e salvação...


O jejum é uma preparação para servimos e não para sermos servidos por Deus. Não é de hoje, a prática de muitos tem sido usar o jejum como instrumento de chantagem contra Deus, algo para sensibilizá-lo quanto ao que precisamos ou desejamos. As pessoas jejuam para arrumar um emprego, para arrumar um marido, para resolver uma pendência na justiça e por aí vai... É algo tão supersticioso quanto à macumba, onde o devoto oferece comida ao “santo”. No jejum cristão, o que se oferece é a fome como instrumento da barganha com a divindade que, compadecida, concretizará os pedidos do pedinte. Ora, isso é tão pagão que dá até vergonha! Isaías já denunciava este tipo de prática, quando afirmou que o verdadeiro jejum era a ação solidária às viúvas e aos pobres, a disponibilidade para a prática da justiça e do bem. Em Jesus, vemos o jejum como uma preparação para o serviço, pois, logo após deixar o deserto, ele iniciou seu ministério. Sim, o jejum produz uma sensibilização do coração para o amor em tempo integral, quebranta-nos para perceber as dores e as agonias da Terra, prepara-nos para discernir potestades e poderes espirituais que operam contra os homens, aguça-nos os sentidos para ouvir a voz do Espírito Santo. Tudo o mais é dieta religiosa que priva o indivíduo da comida, mas que não produz nenhum bem para a consciência e, muito menos, se desdobra em algo que seja consequente no chão da vida.


Quem nasceu da religião, sempre será um escravo na senzala-igreja e comerá as migalhas de doutrinas anabolizadas nas mãos de pastores-feitores. Os filhos do Evangelho, todavia, nascem alforriados e livres, vestem-se com o manto da justiça e enfeitam-se para a festa do perdão. Sim, eles podem ir e vir pelo Caminho, pois sempre haverá bom pasto para aqueles que se alimentam de esperança, para os que compreenderam que a alegria de existir está no fato de olhar para vida com a alma encharcada de fé e amor...


Igreja é a representação de um ajuntamento plural, não há igreja onde existe apenas um único indivíduo. Eu sou igreja com “dois ou três”, mas não posso ser igreja sozinho! Portanto, igreja implica comunhão, partir do pão, orações e tudo aquilo que ganha significado e singularidade como expressão de fé que se manifesta na troca com o outro e na adoração ao Pai. Individualmente, eu sou do Senhor e estou em Cristo Jesus, mas só posso ser igreja na coletividade, onde a representatividade dos filhos de Deus constituem a sua própria família.


Muita gente me procura dizendo que em sua cidade não tem uma igreja legal, de gente boa de Deus, que seja sadia na pregação do Evangelho e comprometida com os dramas deste tempo. Ora, eu pergunto, “E por que você não começa algo?”. As respostas, confesso, são constrangedoras: “Não tenho talento”, “Não tenho um espaço”, “Não sei pregar”, “Estou só”, “Não tenho recursos”... É curioso, contudo, ver como alguém que reclama da velha estrutura e do engessamento da instituição, sucumbe ao conformismo paralisante, uma vez que ele próprio continua cheio de condicionamentos e amputações. Sim, digo isso, pois se alguém quer mesmo começar algo do Evangelho, não precisará de templo, púlpito, órgão, dízimos, de teologia, nem nada que não seja um desejo sincero de amar e servir pessoas e uma paixão pelo anúncio das Verdades do Reino e da Salvação. Para tal, ninguém precisa ir ao seminário e virar “pastor”, aliás, se ele fizer isso, as chances de começar algo nos moldes caducos da religião será enorme! Então, se você quer ver alguma coisa legal em sua cidade, no seu bairro, comece você mesmo! Se precisar de comissionamento formal para fazer isso, dou-te agora: “Em nome de Jesus, levanta-te, larga tuas algemas e medos, deixa teus confortos e mazelas, abre-te a Luz e a Verdade e prega a Palavra da Vida!”. Pronto! Você já está ordenado. Pode ir e fazer o que tem que ser feito. O resto é conversa mole de quem é perito em desculpas e doutorando em dificuldades...


No Evangelho não há nem direita nem esquerda, não existem extremos. Jesus é a Pedra Angular, o vértice de convergência de todas as coisas, pois nele tudo ganha significado e propósito e aquilo que não aproveita é extinto em nome do amor. Portanto, o caminho do discípulo não é um caminho de ideologias, mas de fé, e a fé em Jesus nos desafia a experimentar a síntese de todas as crenças num só ponto, a saber, que Deus estava em Cristo na Cruz do Calvário onde não somente tudo se encerra, mas também, onde tudo se fez novo, pois ele é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim de todas as coisas que vieram a existir...


É curioso ver como existe nesse tempo uma fixação por seres celestes, sejam eles anjos ou demônios. Sim, a igreja está impregnada de práticas e mensagens que fazem alusões a estes entes como se sua manifestação fosse coisa necessária à vida e a fé. Jesus não negou a existência de anjos e expulsou demônios todas as vezes que se deparou com os tais, mas você não vê no Galileu nenhuma exacerbação do tema, nenhuma ênfase a buscarmos o sobrenatural e o extraordinário. Não! Em Jesus, a fé é coisa simples e cotidiana, se manifesta nos encontros humanos e nas expressões de solidariedade e misericórdia no trato humano, no anúncio da Boa Nova e da salvação, no resgate do indivíduo marginalizado e esquecido, no acolhimento aos excluídos da vida e aos expurgados pela própria religião. Toda espiritualidade que tem necessidade de aparições metafísicas é, em si mesma, infantil, pois impõe o sobrenatural ao natural da vida, leva-nos a olhar para os Céus e esquecer da Terra, a desenvolver uma crença calcada em assombrações e visões de camadas do mundo espiritual que existem, sim, e que precisamos discernir, sim, mas dando o lugar correto às suas manifestações como dinâmicas próprias da existência, as quais devem ser tratadas conforme as situações nos impõe, de forma equilibrada e com bom senso...


Não é a igreja que se reforma, são as pessoas! Lutero, Calvino, Zuínglio, foram homens que se abriram a Verdade e a Consciência do Evangelho, com toda a coragem e, por conta disso, tiveram suas existências ressignificadas. O impacto foi tão intenso que aquilo que se deu, inicialmente, como processo de individuação da fé, vazou pela vida, alcançou mundos, mudou estruturas, alterou gerações. Mas os “ecos” da Reforma foram morrendo, pois a genuína reforma tem de continuar a acontecer nos ambientes do coração das pessoas, mentes sendo reformadas, e não apenas liturgias e credos sendo decorados para confissões retóricas. A igreja foi perdendo o mover do “espírito” da Reforma porque perdeu, também, o mover do Espírito Santo na história! Hoje, o que vemos são tentativas infrutíferas de reformar a estrutura, mudar catecismos, repensar teologias, ou seja, querem mudar a organização sem que os indivíduos que a fazem sejam novamente regenerados pelo lavar do coração, o qual só pode se dar mediante o entendimento da Palavra Eterna, que é Jesus.


Evangelismo não é uma atividade, nem uma agenda, é uma transpiração do coração! Evangelizar é viver! A igreja transformou o anúncio da salvação num evento, num congresso, numa jornada, numa missão. Tolice. Fazer evangelismo parece coisa de agente publicitário do Reino, é tarefa, trabalho, não é a alegria de ser e de encarnar a fé como dádiva do amor e fruto da ressignificação da consciência. Criar um departamento de evangelismo na igreja é a coroação da burocratização religiosa, é a assunção de que o organismo vivo virou autarquia e que a mensagem virou ideologia.


Acho curioso o fetiche dos crentes em relação ao sobrenatural. Eles gostam de se masturbar com pirotecnias, reverenciam tremeliques e exaltam sessões de descarrego, vibram com pessoas rodopiando, rindo descontroladamente ou caindo no “espírito”. Contudo, nada sabem sobre potestades espirituais e poderes do mundo metafísico. Na verdade, o circo religioso lida com gente fraca de mente que, de tão carente que é, submete-se a “incorporar” Deus ou o diabo, não importa, pois a overdose de atenções produzida é tanta que a alma se satisfaz, ainda que tudo seja por demais bizarro. Jesus não brincava com o sobrenatural. No episódio do endemoninhado lunático, descrito em Mateus 17, logo após a transfiguração, ele se admirou por seus seguidores não terem sido capaz de expulsar o demônio. Sim, eles oraram, clamaram, fizeram salamaleques, mas nada aconteceu. O jovem se debatia e sofria grandemente. Uma ordem de Jesus, contudo, foi suficiente para resolver a questão. Inquerido, ao depois, pelos discípulos sobre o porquê deles não terem conseguido fazer o mesmo, o Galileu respondeu: “esta casta só sai com jejum e oração”. A resposta de Jesus é uma das mais mal interpretadas na bíblia, em minha opinião. Criou-se, a partir dela, uma espécie de bula de unção, pois todo aquele que jejua e ora fica poderoso para enfrentar potestades. Tolice! Jesus falava de uma vida piedosa, quebrantada, capaz de discernir as dores dos homens, não de um procedimento religioso indutor da liberação de porções mágicas de poder contra as trevas. O que faltou e o que falta, diante de questões de natureza espiritual, é amor! Sim, você não expulsa um demônio porque quer derrotar o diabo ou humilhar a pessoa possessa, isso não é um espetáculo, mas uma situação dramática. Você impõe as mãos e ora porque está sensível ao estado do outro, a sua dor e miséria, e isso, creia, não cresce em nós com transes e elevações de natureza mística, mas pelo aprendizado da dependência de Deus, o qual nos chega ao espírito pela confiança produzida pela oração e o aguçamento dos sentidos e da consciência, produzido pelo jejum.


A igreja "evangélica" faz a reedição da Torre de Babel, eles levantam templos faraônicos, mega-construções, todas bancadas às custas de um povo miserável, explorado e manipulado por feiticeiros do sagrado, gente que faz alquimia da mensagem, embala e vende como macumba que move a divindade a favor do cliente. Construções esplendorosas, onde milhões de reais são gastos, impressionam pela beleza e pela tolice. Sim, mesmo hoje, os homens ainda desejam tocar o céu com suas obras, tencinoam falar com Deus cara a cara, impressionar àqueles que observam suas "grandes pedras" enfileiradas. Jesus viu tudo isso e sabia que não passava de vaidade e devaneio, não se impressionou com o Templo de Jerusalém, nem lhe atribuiu significados que não fosse sua própria relatividade. É triste fazer parte de uma geração que ama mais tijolo que pessoas, que não percebe que num país de famintos de pão e indigentes de alma, erguer prédios suntuosos é pecado contra o homem e blasfêmia contra Deus...


Eu olho para Jesus e me alegro em ver como ele discernia a transitoriedade da vida. Sim, o Galileu nunca se preocupou em edificar nada, sua ambição eram corações, não construções. A leveza de Jesus nos revela que o chamado é para andar pelo Caminho, não para se esconder no átrio do Templo. Em Jesus, nós seguimos sem neuroses culposas pela produção do serviço sagrado, sem fixação geográfica que calcifique a alma no chão infértil. Quem está Nele não necessita de lugar para celebrar, pois o culto acontece na vida e a liturgia é a alegria de cada manhã, a qual faz despertar um espírito contrito e quebrantado. Em Jesus não há acúmulo de nada, tudo é gasto com quem se ama, no encontro solidário com a dor do caído, no abraço que acolhe os amputados de sonhos e sequestrados de esperança. Cada pousada é uma igreja, cada encontro uma família, dois ou três são mais do que suficientes! Em tempos de impérios religiosos e catedrais suntuosas, quase posso ouvir o meu Senhor a dizer: “Vês tudo isso? Não ficará pedra sobre pedra”. O Reino de Deus é um convite à simplicidade, pois o Reino é feito de consciência, não de opulência, desafia-nos a erguer mentes, não prédios, exorta-nos ao exercício da piedade, não a idolatria das pedras. E assim, todo aquele que é nascido de Deus vai, sem saber ao certo para onde, ou como, mas sempre com os pés no chão e os olhos encharcados de esperança. O justo, como se sabe, viverá sempre pela fé, com a alma entumecida de gratidão e o ser recoberto pelo orvalho que pacifica as dores e os medos dos homens. Com toda a reverência, Carlos Moreira.


Tristemente, não aprendemos nada com a transfiguração de Jesus. Pedro, como se sabe, não conseguiu realizar seu intento, mas hoje, no monte santo da igreja evangélica, há uma tenda para Lutero, outra para Calvino e uma terceira para Armínio.


O judaísmo criou uma cadeira para Moisés se sentar. O cristianismo, por sua vez, criou uma cátedra para o Papa se sentar. O Evangelho, todavia, fez com que o Trono da Glória Eterna se esvaziasse, o Rei resolveu viver entre os homens, sentar-se no chão para comer com pecadores.


Se, por acaso, alguém deixou de ser seu amigo porque você não crê num inferno com fogo e diabos com tridentes, porque você bebe, ou fuma, ou usa piercing, tatuagem, porque você gosta de ouvir Rock, ir pra balada e tem amigos gay, desculpe, mas essa amizade servia mesmo pra quê? Se você perdeu amigos quando mudou de "igreja", de doutrina, se gente se afastou de você porque você agora não é mais calvinista, ou reformado, porque agora você acredita que igreja tem que ter cérebros, muito mais do que células, então, sinceramente, essa amizade servia mesmo pra quê? Se os teus amigos não suportaram suas mudanças é porque eles eram amigos de um esteriótipo, não de uma pessoa, eles gostavam do teu padrão de comportamento, não de você. Então, dou-te um conselho, arrume amigos de beira de estrada, de mesa de bar, amigos sem "pedigree", mas amigos que sejam amigos, pois, acredite, amigo de igreja é foda mesmo, com raras exceções. Sim, eles sabem magoar e ferir desabrigados de alma, pois adentraram o terreno sagrado do coração. Portanto, perdoe, passe primeira e vá embora! A vida nos reserva muita coisa boa, outras paragens, companhias que trarão ares de festa e estrelas de prata. Então, seja feliz, mas aprenda a descartar toda bagagem que se acumulou no ser, livre-se de prazeres de segunda, sonhos de terceira e amigos de quinta categoria. Garanto-lhe: os dias serão muito melhores assim...


O Evangelho é a pós-religião, não é uma ideologia, é uma pessoa, não nos chama a cumprir regras, mas a andar em liberdade, não propõe liturgias, faz da vida culto, não impõe sacrifícios, pois tudo está pago. O Evangelho não é devoção cega, é reverência entumecida de razão, não é meditação teórica, mas encarnação de princípios, não nos convida a deixar a existência mundana, mas a transformar o mundo a partir de uma nova existência. O Evangelho não cabe num livro, mesmo que este livro seja a bíblia. A bíblia cabe no Evangelho, seu texto está contido na Palavra eterna, não o contrário. A Palavra encarna, o texto encana, a Palavra ressuscita, o texto, mata! Me deixe apenas com o Evangelho, e leve o resto, e ainda assim eu terei ficado com todas as coisas! Sim, a existência inteira cabe numa única frase: "está consumado!".


Em minha sala há quatro controles remotos, cada um de um aparelho diferente e cada qual com suas próprias funções, são dezenas de botões com números e nomes. Eu os aperto e coisas acontecem. Há uma variedade deles em todos os lugares, de todos os tipos e formatos, alguns anatômicos, outros, virtuais. Eles estão no meu aparelho celular, no computador, no painel do meu carro, no elevador, nos bancos, nas lojas, nas ruas. Há botões em todo lugar! Sem nos aperceber, estamos tocando mais em máquinas do que em pessoas e isso está nos dessensibilizando. Em alguns países do mundo, se você tocar em alguém pode ser processado por assédio sexual. Há um prurido latente que disciplina o abraço, o beijo e o aperto de mãos. Na verdade, quanto mais impessoal você for, melhor. Esse é um tempo onde é mais natural tocar em plástico ou vidro do que na pele das pessoas, é mais simples tocar no “cérebro” das máquinas do que no coração dos indivíduos. E assim, lentamente, estamos nos transformando em seres de lata, com nervos de aço. Respondemos a comandos, não a afetos, reagimos mecanicamente, não temos sensações, agimos de forma racional, perdemos nossas emoções. Na era da virtualidade, tudo é feito a distância e isso, nos desumaniza ainda mais. Falamos com máquinas para fazer reclamações, conversamos com “amigos” através de caracteres de texto e é até somos capazes de realizar cirurgias sem tocar no doente, por intermédio dos braços mecânicos de robôs. Em breve, acredite, vamos fazer sexo sem toque, pois, sem paixão, já fazemos há muito tempo. Triste era essa em que vivemos, onde há tanto desenvolvimento tecnológico e tanta regressão psicológica, onde crescem as possibilidades da ciência e diminuem as alternativas para o amor.


Durante muitos anos eu investi numa leitura científica da bíblia. Digo isso, pois a leitura era baseada no método, no olhar sistêmico, no trato plurifacetado do ponto de vista da epistemologia. Quanto mais lia, mais ficava “sabido”, ao mesmo tempo que ficava, também, vazio. Eu era rigoroso com todos os passos da hermenêutica clássica, realizava uma boa exegese, ia ao original grego, ou ao hebraico, usava dicionários, fazia transposições interlineares, usava versões em mais de um idioma, tanto protestantes quanto católicas. E lá ia eu, tentando me tornar um doutor em bíblia, conhecedor de passagens, dos contextos históricos, sociais, culturais, religiosos e políticos. Cada personagem era tratado com os rigores de seu tempo, cada texto com seu contexto, e ainda existia a possibilidade de criar links com o passado, com o presente e com o futuro. Sim, eu acumulei certo conhecimento, mas ainda não havia chegado a Palavra, estava apenas lendo o texto. A Palavra está dentro do texto, mas não é preciso ciência para entendê-la, é preciso iluminação do Espírito! É a Palavra que faz o texto ganhar significados, e não o contrário. É certo, todavia, que eu estou tratando da essência de tudo, do Verbo, da Palavra que sempre existiu, mesmo antes do texto, e que se materializa em Jesus e passa a habitar entre nós. Você precisa ter alma para ler a Escritura, e não apenas, mente. Quando assim for, sua leitura será incomparável e, provavelmente, você lerá muito menos do que lia antes. A bíblia é para ser degustada, não devorada, é um livro para leitores pacientes, para se ater aos detalhes, em cada versículo pode haver um tesouro escondido! Quem lê a bíblia com essa paixão, com este tipo de olhar, verá a profecia se utilizar da poesia para cumprir seus propósitos, em tudo se perceberá uma beleza singela, capaz de afagar-nos a cabeça e entumecer-nos o coração de esperança e fé. Sei que os instrumentos que aprendi tem sua aplicação, mas já há muito que minha leitura é feita apenas de devoção e reverência e os resultados, acredite, são extraordinários. Há cerca de 10 anos minha leitura mudou... Eu leio a bíblia enquanto a bíblia me lê, e o texto, antes restrito as páginas, salta livre do livro, anda pela sala, pelo quarto, pelo caminho de cada dia, me convida a viver a experiência de sentir como a Palavra encarna verdadeiramente na vida, pois, se não for assim, para o quê ela servirá?


Nossa comunidade está contratando! Sim, estamos selecionando desapegados, voluntários, generosos de todos os tipos e anônimos vocacionados. Urgente! Precisa-se de pessoas humildes, de gente com talento para fazer o bem, de ajudadores de velhos e professores de crianças pobres. Estamos em busca de cantores de congregação, que fiquem no banco, de pregadores que anunciem a Verdade sem púlpito, apenas com a vida, de mestres que ensinem seus filhos a ter caráter. Busca-se, com sofreguidão, altruístas, indivíduos que se sacrifiquem por uma boa causa, gente que sofra pelo outro, lavadores de pés e abraçadaores profissionais capazes de dar carinho a gays, doentes, deprimidos e diferentes de todo tipo. Procuramos, ainda, liberais de afeto, teólogos do amor, filósofos de botequim que tragam alegria, pirilampos que saibam rodopiar, gente que nos ajude a sorrir das dores da vida, palhaços e contadores de piada, dançarinos que nos ensinem a festejar o fim de um dia qualquer, poetas que declamem versos de esperança e pintores que nos encham os olhos de cores vívidas. Se você for um destes acima, nossa igreja está a sua procura! O salário? O salário é um punhado de Graça com gratidão e o sorriso simples das crianças. Pra quê mais?


Casamento, conforme as Escrituras, não se faz nem no cartório, nem na igreja, casamento não é nem civil, nem religioso, não é nem pagão, nem cristão. Casamento é encontro de propósitos, é consciência apaixonada, é latência do coração enternecido, são olhos que se encontram, bocas que se tocam. Casamento é uma união de espírito, homem algum pode celebrar isto, papel nenhum legisla no sagrado da alma de duas pessoas que desejaram se dar por inteiro, uma a outra, sem que nada os sequestre desta entrega despudorada, insana e intensa. Casamento é abrir mão, é dar prazer, é dar-se de si, do melhor do que se tem, é alegria na alegria alheia, é sofrimento conjunto, é partilha da dor, é lágrima que semeia esperança, e carinho que afaga a pele e faz molhar até as entranhas do ser. Por favor, não me chame para lhe casar, nem me faça propostas para celebrar suas núpcias com as pompas deste tempo presente, nesta sociedade das aparências, com todos os requintes da festa que acontece do lado de fora, mas que não se projeta para dentro por total falta de entendimento do que se está fazendo. Não, eu não sou contra a celebração, mas sou contra toda comemoração que aconteça apenas para os holofotes da sociedade, e não parta das dinâmicas que acontecem nos ambientes interiores, onde apenas Deus pode, de fato, fazer soar a música e brotar a alegria. Ora, eu penso que quando esses pressupostos não se estabelecem como verdade e fé, de tal forma que o que se exteriorize seja apenas a significação do que já acontece no íntimo do ser, o que está sendo feito é apenas uma encenação social. É um enorme equívoco acharmos que algo possa ser sagrado sem proceder do coração, pois sagrado é tudo aquilo que reverencia a Deus no íntimo, e vaza pela vida em expressões de amor e gratidão. Tudo o mais é liturgia oca e sem propósito, é apenas o badalar do címbalo que retine, mas que não produz música para acalentar a alma, nem o prazer desejoso e amante que apaixona os apaixonados.


Eu congrego, porque preciso. É simples assim. Não se trata de uma demanda da agenda da religião nem de uma compulsão culposa que tenta suprir a outros com os dons que o Espírito me concedeu. Não é obrigação ministerial, que almeja galardão futuro, ou sacrifício pseudo piedoso que busca uma santidade parida a fórceps. Eu congrego, porque preciso, porque escolhi não prescindir do ajuntamento que torna família, gente distante, e comunidade de iguais, os diferentes. Congregar é juntar corações para desfrutar da multiforme sabedoria de Deus, é unir consciências em torno do nome de Jesus e da causa do Evangelho. Eu congrego porque escolhi um dia e um lugar para adorar com os que creem igual a mim, porque tenho alegria em partir o pão conjuntamente e reverência em celebrar o perdão generoso que me alcançou como graça inestimável. Eu congrego porque gosto de gente, de abraço, de sorriso, de poder servir o meu semelhante de forma qualificada, congrego para fazer da vida uma oferta e da oferta uma ação consciente e solidária da minha fé, a qual precisa se materializar em ações concretas. Sim, eu preciso congregar para fazer parte de algo, para ser Corpo e não membro amputado, para abençoar e ser abençoado, para amar e ser amado. Eu congrego não só porque as Escrituras afirmam que assim devo fazer, mas, sobretudo, porque eu não quero ser um errante andando sozinho num tempo onde não há mais amor para se partilhar. E assim, para mim, melhor é serem muitos do que um só, pois onde há comunhão e generosidade de espírito, ali, certamente, há a presença do Senhor.


Um povo que se escandaliza com o casamento homossexual, mas acha normal o casamento da igreja com o estado, uma geração que se escandaliza com um beijo gay numa novela, mas aceita de bom grado o beijo da morte que lhes é dado por lobos em seus púlpitos, uma gente que se dói com o protesto de um transexual pregado numa cruz e convive, complacentemente, com a corrupção, a miséria e a fome, não tem nada, absolutamente nada a ver com Jesus e o Evangelho. Eles são filhos da religião do Sinédrio, foram paridos por escribas e doutores da lei, criados nos corredores do templo, onde a barganha e o comércio do sagrado é coisa comum. Sim, esses "fiéis" carregam a cruz como adereço no pescoço, mas jamais como entendimento da misericórdia e da graça no coração, eles fazem da fé uma ideologia e das doutrinas uma cartilha de condenações. Longe está deles a piedade e o perdão, eles são ortodoxos com a moral e frouxos com a injustiça, enchem seus bolsos de dinheiro e andam esvaziados de solidariedade humana e bem fazer. Eu não tenho parte com isso, sou um louco andando na direção contrária, um errante anunciando a salvação de todo homem que deseje ouvir sobre o Deus que morreu pelos pecadores e indigentes da Terra, dentre os quais, eu sou o principal. Anuncio que, em Cristo, há espaço para o caído e o oprimido, na sua mesa cabe gay, puta, adúltero, sonegador, corrupto, hipócrita e o que mais vier, pois não há justos debaixo do sol, apenas gente que, pelo Espírito Santo, entendeu que há esperança e salvação na reconciliação com o Pai de todo amor.


“Por causa da dureza do vosso coração…”. Essa foi a resposta de Jesus sobre o fato de Deus ter feito uma concessão quanto à questão do divórcio. Na verdade, a vida não é como ela deveria ser, mas como ela pode ser. E Deus, em sua misericórdia, achou por bem nos fazer concessões, pois, se assim não fosse, a existência se inviabilizaria. Ora, é certo que essa é uma situação de exceção, não uma regra. Não se trata de um convite a licenciosidade, nem uma banalização daquilo que é justo e desejável. Mas nós precisamos compreender que existimos em meio a um sistema caótico, num mundo imperfeito, onde o que deveria ser não é, mas apenas o que é possível ser! Então, meu papel como discípulo de Jesus, não é inviabilizar a vida, mas torná-la uma possibilidade num mundo caído. E assim, como o divórcio foi uma concessão, pois o princípio de Deus é o casamento sem dissolução, outras situações da existência carecem da mesma coisa, ou seja, a tolerância que perdoa e pacifica. Mas a “igreja”, como disciplinadora da pseudo-moral, não é capaz de discernir e aplicar a Palavra no sentido mais amplo, ou seja, de promoção da paz e do bem do indivíduo. Daí surgem as amputações, as segregações, os preconceitos, as invasões de consciências, o desmatamento da privacidade, a jactância sobre a alma do outro, enfim, o poder do homem contra o seu semelhante, e tudo isso respaldado pela enorme falácia de que está sendo feito em nome de “deus” e da “fé”.

“Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados...”. Tg. 5:16

Há uma confusão enorme quanto a esta passagem e, não raro, muito problema gerado pela sua má interpretação. A confissão é uma terapia para a alma, é a oportunidade de tirar do baú do coração todo o entulho que se acumulou na dureza dos dias. Quando você fala de sua angústia para outro, você reparte o fardo pesado que estava carregando e recebe o imediato alívio para sua dor. Confessar, contudo, é um ato espontâneo, deve ser feito sempre que o indivíduo sinta-se confortável para tal e, jamais, sob coação, constrangimento ou obrigação. Sobretudo, quem confessa algo a alguém, deve avaliar se aquele que vai ouvir tem os predicados necessários, ou seja, maturidade, para lidar com a questão, e integridade, para guardar sigilo sobre o que vai escutar. Pecados devem ser confessados a Deus, que nos garante, por intermédio de Jesus Cristo, o perdão incondicional a tudo que fizemos, seja por obras, pensamentos ou omissões. Feito isso, você tem a garantia de que sua falta está perdoada para sempre, pois “se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados...”. 1ª Jo. 1:9. A busca de um conselheiro(a) é sempre uma via alternativa que temos para apaziguar nosso desconforto e ansiedade. Ela pode e deve ser usada, mas sempre guardando-se o que expus acima. Fora isso, cuidado com aqueles que espreitam pecados alheios, que se colocam na tribuna para julgar os irmãos, que se arvoram como ungidos e intermediários entre o pecador e o sagrado. Homem algum tem essa autoridade, pois só há um que pode assumir esta posição e ele afirma: “aquele que vier a mim, jamais o lançarei fora”.


Se a bíblia fosse um livro moral, conforme a moral da religião, teria nos poupado das histórias bizarras que nela estão registradas, com todas as cores, sem imunizar nada nem ninguém. Sim, não há no texto sagrado a necessidade de livrar os seus leitores das dinâmicas que são próprias da existência humana, antes, pelo contrário, elas estão expostas com relevo e singularidade, para que saibamos de que “material” nós somos feitos. É por isso que podemos ver irmão matando irmão, irmão estuprando irmã, filha transando com pai, mulher traindo o marido, filha enganando o pai, sogro enganando genro, pai matando o filho... São crimes, adultérios, assassinatos, traições, manipulações, discórdias, ciúmes, maledicência, inveja, lascívia, todos os sentimentos que habitam o coração dos humanos caídos, e tudo está registrado para que saibamos que todos nós estamos, de alguma forma, sujeitos aos mesmos sentimentos e problemas e, portanto, precisamos cuidar para que nossos pés não resvalem e nossa alma não se perca nas agruras da vida.


Quem eu sou? Eu sou o filho pródigo, sou o filho que disse que não ia e foi, eu sou o publicano que bateu no peito e reconheceu sua indignidade, a ovelha perdida que foi encontrada e Zaqueu, o agiota arrependido e contrito. Eu sou a mulher adúltera, surpreendida em sua fraqueza, o Samaritano, sem pedigree, o aleijado do Tanque de Betesda, pois me arrastei na beira do tanque da vida por muito tempo. Eu sou o leproso que caindo em si voltou para agradecer a cura e o Gadareno, liberto das amarras e das correntes dos condicionamentos. Sim, eu sou o cego de Jericó, tendo sido chamado para sair do acostamento da vida, sou Pedro, que negou o Senhor e Paulo, que em sua cegueira temporal, amou mais a letra do que o Espírito que a vivifica. Eu sou a representação de todos estes anti-heróis, sou pecador, filho de pecador. Só não esqueçam de uma coisa: aquele que disse para mim: "Carlos, levanta-te e anda" é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo aquilo que eu possa imaginar. A Ele, portanto, glória e louvor para sempre, amém.


“... Não despertem nem incomodem o amor enquanto ele não o quiser”. Cantares 3:5

A sabedoria ensina que a vida é feita de estações. No que diz respeito ao amor, como observador da existência, percebi que há, pelo menos, 3 momentos em que ele não deve ser despertado. O primeiro é quando se é muito jovem, pois a falta de maturidade produzirá, inexoravelmente, um desequilíbrio emocional. O segundo é quando se sai de uma relação, pois a alma precisa de um tempo para se desapegar daquilo que foi vivido. Assim, não recicle o amor, não requente emoções, dê um tempo para a vida. O terceiro é após a perda do outro, uma vez que é necessário viver as estações outonais do luto para que a terra do coração seja novamente arada com vistas a abraçar com ternura uma nova semente de paixão.


O Evangelho é a pós-religião. Se fosse religião, ainda seria um sistema humano, calcado em meritocracia, sacrifícios, liturgias. O Evangelho aboliu tudo isso na Cruz, pois sua única proposição é: "Está Consumado!". Quem crê, e entende, descansa. Quem não crê, vira filho de alguma doutrina da Terra, de alguma religião dos homens, de um "...ismo" qualquer. Simples assim...


Aí o indivíduo ouviu que tem que orar. Ele ficou informado que a oração pode realizar "qualquer coisa". E então ele começou a orar. Iniciou lentamente, poucos minutos por dia. Daí foi "engrossando", acrescentando mais tempo, mais vezes, mais intensidade. E passou a fazer isso todos os dias, incessantemente, semanas e meses. Agora sim, ele é um "homem de oração", ele ora de si para si mesmo, sua oração é um método, segue uma rotina, é um clamor vazio, é um grito de uma alma sem impressões, é um orgasmo aflito de uma consciência que não sabe de Deus, mas quer consumir a Deus como se consome um ansiolítico. Mas ele continua a orar, a clamar pelos céus, a decretar o que será, a dizer, no final da reza, o mantra: "em nome de Jesus, amém". E o tempo passa, e a rotina cansa, e as "respostas" não veem. Aí ele desanima, parece que Deus não responde a orações, o passo-a-passo não deu certo, quem sabe cometeu algum erro no experimento, e assim a vida segue... Bem, oração é apenas um tempo de boa conversa com Deus, tempo de falar e de ouvir, um derramar de coração, um compartilhar de sentimentos e sonhos. Não é uma forma de convencer Deus a resolver os seus problemas, nem uma maneira de seduzi-lo para realizar a sua vontade. Quem ora faz isso como culto da vida, faz orações em todo lugar e enquanto caminha, no quarto e no ônibus, no encontro do domingo e na sala de aula, no pequeno grupo e na mesa do trabalho. É simples assim... E os simples entenderão...


Na época áurea do profetismo de Israel, a denúncia de Isaías, Amós, Miquéias e Oséias era a de que o povo havia se esquecido do Deus que desejava uma fé consequente, uma ética consciente, associada à justiça social, para adorar a uma divindade que se satisfazia com oferendas, peregrinações e sacrifício de animais. Era a religião que nivelava Deus ao nível dos deuses cananeus, satisfeito com cultos no Templo e dons e talentos ofertados pelos homens. Mas você sabe o que gerou tudo isto? O desenvolvimento de Israel no século VIII a.C, fruto de um intenso e surpreendente crescimento da agricultura e da indústria. Foi essa “prosperidade” que fez com que o povo trocasse verdades e valores, por regras e costumes, tudo tão semelhante aos nossos dias. A teologia da prosperidade fomenta apenas o crescimento material do indivíduo, não há nada voltado para a coletividade, não há uma preocupação com o outro, com a miséria, a fome ou a injustiça. É a religião do “salve-se quem puder”, ou seja, se para mim estiver bom, os outros que se virem para “agradar” a deus e receber o mesmo que eu recebi...


Houve um tempo em que os missionários precisavam deixar a igreja e ir ao mundo para anunciar o Evangelho. Hoje está mais fácil, eles não precisam deixar a igreja, podem evangelizar os perdidos que estão sentados em seus bancos, assistindo regularmente os "cultos", sem qualquer entendimento de quem seja Jesus ou da salvação...


O cristianismo, impregnado que está pelo pensamento grego, a lógica aristotélica, além das influências do cartesianismo, produziu a religião do método e o Deus que funciona como uma central de atendimento a clientes. Eles oram ao Pai como se estivessem escolhendo opções de um menu - clique 1, para cura, 2, para problemas financeiros, 3, para problemas conjugais, e assim por diante. Imaginam que, seguindo os ritos, fazendo as prescrições, o "atendente", do outro lado da "linha", irá resolver as questões demandadas. A religião do método mata toda a espontaneidade, transforma relação em religião, altera os significados da fé, faz do Deus de Amor um "deus do processo", burocratiza a espiritualidade, congestiona a consciência, destrói qualquer possibilidade de saúde espiritual.


Acredite: se a salvação fosse paga, muito mais gente se interessaria por ela. Vivemos num tempo onde nada de graça tem valor, nem mesmo amor e misericórdia se aproveitam. O indivíduo prefere pagar para ter a sensação de que valeu a pena, de que foi um investimento.


Hoje já existe a "Bíblia do Obreiro", a da "Mulher Vitoriosa", a da "Batalha Espiritual e Vitória Financeira". Agora estão lançando a do "Pr" Lucinho, da (Batista da Lagoinha), e aí vai começar a série das bíblias personalizadas: a do Macedo, a do Malafaia, a do Valdomiro, etc. Mas, o grande lançamento mesmo, aguardado por muitos, vem até o final do ano: a "Bíblia do Otário"! Vai vender que nem banana na feira...


Igreja e Estado, Fé e Política, amigos inseparáveis. Perceba como nossas estruturas estão contaminadas: "PRESIDENTE da união de mulheres", "MINISTÉRIO de louvor", "DEPARTAMENTO infantil", "REVERENDÍSSIMO". E pensar que Jesus disse que era apenas necessário dois ou três... O templos estão cheios, mas será que o Senhor está entre nós?


Me perguntaram se eu sou contra o dízimo. Bem, respondi, não sou. Mas sou contra a taxação obrigatória, sou contra o imposto da fé, sou contra estabelecimento de percentual de oferta, sou contra o uso perverso de textos das Escrituras para assustar incautos, sou contra a barganha com o sagrado, sou contra a generosidade meritória, sou contra a liberalidade inquisitória, sou contra o bondadismo religioso. Sou ainda contra igreja ter aplicação financeira, sou contra compra de propriedades com custos vultosos, sou contra construções faraônicas e confortos desnecessários. Complementarmente, sou contra estruturas obesas, sou contra salários de pastores exorbitantes e sou contra o comprometimento das receitas para pagar "obreiros". Finalmente, sou também contra a falta de planejamento, sou contra a inexistência de projetos sociais relevantes, sou contra a falta de transparência com a arrecadação, sou contra haver necessitados na comunidade, sou contra equipamentos de primeira e mantimentos de quinta qualidade e sou contra quem concorda com tudo isso e tem consciência no Evangelho e não contribui. Tirando apenas isso, sou a favor de todo o resto... E por favor, não me canse com seu ti-ti-ti teológico porque eu já não tenho mais energia para discutir com Doutores da Lei...


"Fazei isto em memória minha", disse Jesus. Aí o sujeito repete o rito, na eucaristia, mas não compreende que o ato do Senhor apontava para algo muito maior, que era dar a vida pelos outros. Semana após semana, ano após ano, o indivíduo faz o "árduo" caminho do banco até o altar, toma a sua ceia e volta ao seu lugar. E tudo isso, creia-me, não tem qualquer implicação e nenhum significado para Deus...


Olhe para dentro de você, faça uma visita a cômodos esquecidos, busque os sabores dos sonhos que adormeceram. Sim, não se pode construir o amanhã desprezando aquilo que um dia foi, pois é certo que ninguém visita o passado impunemente. Creia, há certos encontros que mudam interiores, fazem o sol entrar pelas frestas das janelas, esgaçam a alma para ser perpassada pelo bem que ainda virá.


Uma das tragédias da religião é a construção de uma fé infantilizada, carregada de elementos mágicos, apegada a crendices e superstições. Não raro, encontro gente casando em Caná da Galiléia, ou sendo batizada nas águas do rio Jordão, ambos em Israel. Mesmo dizendo-se cristãos, eles nada entenderam do Evangelho, são seguidores de mitos, cultuadores de lugares. Para estes não bastou Jesus ter afirmado que o sagrado não pode se tornar refém de geografias - "nem neste monte nem em Jerusalém", nem a afirmação de João Batista - "eu vos batizo com água, mas virá um, maior do que eu, que vos batizará com o Espírito Santo", fazendo clara alusão àquilo que é simbólico e que aponta para algo maior que é o que se faz presente no coração para o bem da vida. Nem a água é mágica, nem o lugar enfeitiçado. Mas os que andam conforme o Evangelho, estes sim, já passaram das fábulas juvenis para a fé adulta que justifica o que crê.


Você tem poder espiritual? Ter esse poder significa estar revestido de graça e misericórdia no trato com as pessoas. Esse tipo de poder só se faz presente em nossas vidas quando nós o ofertamos no chão de cada dia. Portanto, esqueça essa conversa de gente arrogante que diz estar cheia de "poder", um "poder" que gira em torno delas mesmas, que serve para exaltação do homem e não para glória de Deus. Quando Jesus enviou os seus discípulos de dois em dois, ele lhes deu poder para curar, para expelir demônios, para anunciar a salvação. Tudo era para os outros, nada para eles. O ganho estava na alegria de ver o bem sendo realizado sem qualquer tipo de preconceito ou discriminação. Portanto, desconfie de todo aquele que diz estar cheio de "poder", pois este tipo de "poder" mata! Quem anda conforme o Evangelho está sempre vazio, pois o que recebeu foi semeado com amor no Caminho. E assim, esvaziado de tudo, pode-se ir a Fonte e receber mais, um pouco a cada manhã, de tal forma que sempre haja paz e bondade para distribuir aos que possuem fome e sede de justiça.


O Velho Testamento fala no diabo 35 vezes, aproximadamente. O Novo Testamento, por assim dizer, cita-o 7 vezes mais, cerca de 140 ocorrências. Na verdade, o diabo foi se "sofisticando" tanto mais o pensamento humano foi evoluindo, foi crescendo tanto mais as percepções e inquietações humanas se adensaram. Assim, o homem tem feito o diabo a imagem e semelhança do que pior existe em si mesmo, pois o diabo de cada homem varia de acordo com os "diabos" que existem dentro dele. O diabo do homem é do tamanho de sua culpa. É por isso que gente perdoada, que bebeu nas fontes da misericórdia, não teme assombração.


Não nego a existência do mal, nem tão pouco a de Satanás, mas não acredito em quase nada que lhe é atribuído pela religião. Esse diabo da "igreja" é por demais caricato, é o diabo de Dante Alighieri, feito para assustar gente tola. O diabo, de fato, é muito mais sofisticado e sutil e, por isso, tão mais perigoso. A Escritura não se refere a ele com chifres e tridentes, mas como um anjo de luz. Sim, tem gente que se assustaria se visse o diabo como ele é, não de medo, mas de estupefação...


Os condicionamentos da religião são tão poderosos que o indivíduo os projeta desta vida para a que virá. Sim, na eternidade dos "crentes" ainda é preciso realizar o serviço do sagrado, com louvor e oração, como se Deus estivesse ávido por receber este tipo de "culto" para todo o sempre! É, portanto, compreensível, ver que a grande maioria dos cristãos não se anima ao falar da eternidade pois, para os tais, ela será uma grande chatice. É a total falta de criatividade para imaginar novas dinâmicas! Talvez seja por isso que não vejo ninguém afirmar, como Paulo, "para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro!". No fundo, todo mundo deseja o Paraíso, mas quer mesmo é viver para sempre aqui na Terra...


O "pão nosso" é aquele que nos basta para cada dia, de tal forma que o coração não se aflija para além das demandas do hoje. Mas a nossa ansiedade transforma a justa necessidade em compulsão consumista, é o surto da alma que se aflige com o amanhã, com o pão da semana, o pão do mês, o pão do ano...


Minha vida é maior do que minhas mensagens. Minhas mensagens são um reflexo da minha vida, mas a grande mensagem que prego está fora dos púlpitos, no chão de cada dia. Ande comigo e você poderá ouvi-la...


10 Dicas para você se tornar uma Unanimidade!

1- Não diga nada que não seja óbvio. Sua opinião só deve ser expressa quando ela estiver enquadrada no senso comum.
2- Não entre em discussões de qualquer natureza. Nelas sempre haverá polarizações e isso lhe desgastará frente aos outros
3- Não escreva nem filme nada. Essa mídia vai suscitar admiradores apaixonados e críticos contumazes, dividindo seu público.
4- Fuja de polêmicas! Há muitas outras coisas que você pode fazer ao invés de tratar questões nevrálgicas.
5- Concorde sempre com outras pessoas iguais a você. Elas se utilizam destes mesmos critérios para serem unanimidades.
6- Seja um teórico! Sempre que questionado a abraçar alguma causa, diga que está analisando, ponderando, olhando todos os pontos de vista.
7- Sorria sempre, mesmo quando não estiver bem. As pessoas adoram gente sorridente.
8- Aprenda a lidar com sua consciência. Esse será um de seus maiores desafios! Quando ela incomodar muito, vá dormir.
9- Temas religiosos são polêmicos por natureza. Resuma tudo ao amor e você não terá qualquer dificuldade.
10- Ser uma unanimidade requer cuidados. Você precisará se esquivar de tudo para se manter incólume.

Sigas estes passos que já será um bom começo.
Quando a mim? Bem, tenho que confessar que fracassei nesta tarefa...


A maioria dos cristãos que conheço está comprometida com uma "guerra de travesseiros". Sim, suas lutas são, no máximo, diversão juvenil. É que eles pensam que a única batalha que importa é aquela contra o diabo, a dita "luta espiritual". Tolinhos... Se eles soubessem que o diabo está sentado nos bancos de suas igrejolas, dando risadas das aloprações que presencia, sentiriam vergonha deste tipo de espiritualidade que torna a alma deficiente e aleijado o coração...


A verdadeira páscoa, a qual Deus nos convida em Jesus pelo Evangelho, é a passagem da escravidão dos ritos e mitos da infância da fé, para uma terra onde o chão é a consciência. Sim, trata-se da libertação do Egito que habita dentro de nós, da escravidão do pecado e do medo, para a Canaã existencial, que se torna um lugar de liberdade e amor, não representado materialmente, nem por dogmas, nem por bandeiras ideológicas, mas apenas pela Verdade Eterna de Deus, Cristo Jesus. É essa Verdade que cria um caminho no deserto da vida e se faz caminho para todo aquele que vive e anda em misericórdia. Quem compreende isso, jamais conseguirá viver escravizado por doutrinas, sacerdotes ou templos, porque passou da morte para a vida e aguarda o Novo Céu e a Nova Terra.


A religião burrificou de tal forma as pessoas que não há nada de novo debaixo do sol. Estamos no século XXI e continuamos a usar a teologia do século XVI. E mais ainda... Imaginamos que calvinismo e arminianismo põem um selo no pensamento cristão, pois ninguém lembra que a igreja viveu a maior parte de sua história sem nenhum deles. Esse é um tempo de mentes infartadas, onde pensar parece representar oposição a Deus. Quem ousa correr algum tipo de risco, logo será chamado de herege. Que triste ver que a igreja contemporânea se transformou num teatro de mambembes, orquestrada por pirilampos aloprados que enfeitiçam a massa mórbida de zumbis industrializados...


A porta estreita, nem de longe, é a porta da igreja. A porta estreita, da qual Jesus fala, é a porta para a vida, ela abre para fora, não para dentro, ela convida para uma experimentação da existência, ela nos desafia a viver com um novo coração, com um novo olhar, com uma nova devoção.


O mundo espiritual e o mundo material estão interconectados. Um retroalimenta o outro, um influencia o outro, um molda o outro. Os fenômenos reverberam, criam espirais mais ou menos intensas, se aprofundam e silenciam. Imaginar que o mundo espiritual molda o natural é platonismo. Imaginar que o mundo natural molda o espiritual é esoterismo. A igreja, neste tempo, ou cai num engano ou cai no outro.


No texto religioso, o princípio é sempre mais importante do que a história. A história é local, o princípio é universal, a história é cultura, o princípio é ética, a história é literal, o princípio é arquetipia.


O Éden do Gênesis me fala muito mais de uma “geografia” interna do que externa. Aquele “jardim” mais se parece com o meu coração, onde os conflitos entre bem e mal acontecem todos os dias, onde as escolhas precisam ser feitas, tanto para a vida, quanto para a morte. A mecânica da queda de Adão e Eva é arquetípica, é a maquete que reproduz como o fenômeno se dá e se projeta de um homem para todos os homens.


Existem pessoas que possuem luz própria e ainda refletem luz sobre outros. Há, todavia, aqueles que são sombras. Sim, sombras do pai, da mãe, da família, da casa. Tem gente que existe como sombra, como projeção da ambiência na qual vive ou viveu. E quanto mais intensa foi esta convivência, tão mais doente a pessoa se tornou, pois inspirou o pó daquilo que de pior se produz na convivência humana.


Quem sempre viveu em "gaiola" acha a liberdade uma prisão, um fardo insuportável a ser carregado no chão dos dias. Sim, a alma que se acostumou ao exílio não consegue seguir livre no caminho, sem satisfações a dar a quem quer que seja, sem nada a temer além da própria consciência.


No inferno, o castigo dos homens será a perpetuação daquilo que lhe envenenou o ser. O amargo se consumirá na sua amargura, o egoísta devorará a si mesmo, o avarento possuirá tudo e não terá nada, o falso não conseguirá enganar a mais ninguém, o perverso será punido pelas memórias daquilo que fez, sem chance de arrependimento. Sim, eu acredito que o fogo do inferno é a imagem simbólica daquilo que consome e não se extingue, pois não há nada pior para o homem do que conviver consigo mesmo sem ter esperança de ser redimido e salvo.


Não dê "anestésico" a quem precisa de um choque de realidade, você vai matar ele de tédio e torpor. Para curá-lo, diga-lhe verdades aguadas, jogue-lhe os fatos na cara, não seja tolerante com a complacência, o amor tem que ser firme. Creia, há certos tipos de ajuda que promovem apenas a morte compulsória da consciência do indivíduo.


Em se tratando do Evangelho, não conte comigo para enganar pessoas, nem entretê-las, nem massagear egos inflados, nem bajular gente com grana, nem fazer negociatas eclesiásticas, nem planejar estruturas arcaicas, nem pajear melindrosos, nem adular acomodados, nem ensinar cauterizados de mente, nem sensibilizar anestesiados de coração, nem sonhar sonhos de gente sem paixão por Jesus e pelo Reino. E mais... Eu estou piorando a cada dia... uma vez que cheguei a um ponto onde não me interesso mais por cargos, nem pompas, nem status, nem poder, nem projeção, nem reconhecimento, portanto, se quiser mesmo que eu colabore, dê-me apenas uma bíblia e não me canse com conversa mole...


O acaso, para mim, não existe. O acaso é um bumerangue trazendo no cardápio dos dias aquilo que foi semeado pelo caminho. Para quem foi bom, e agiu com ternura para com o outro e a vida, será servido no banquete da graça paz e misericórdia. Para quem foi mal, e agiu com indiferença a dor do outro, a degustação começará pelo imponderável e pela calamidade, pois ali haverá choro e ranger de dentes...


Ao contrário do que a religião prega, quanto mais santo o indivíduo, mas humano ele se torna. Um santo sublimado, acético, extático e místico para nada aproveita, serve a si mesmo, não percebe o outro e, sendo assim, também não pode perceber a Deus...


É curioso ver como a religião distorce as coisas. Em Jesus, e no Evangelho, santidade é um processo de aproximação do mundo, de percepção das dores da Terra e dos homens. O santo, portanto, mergulha na existência, é chamado a vida, a ser participativo, solidário, comprometido com a agenda da humanidade. Mas o que nós vemos na prática? Vemos as pessoas se afastando do mundo, negando suas dinâmicas, tendo ojeriza dos homens, desejando uma espiritualidade monástica, solitária, impermeável, blindada ao sofrimento, distante da alegria, aleijada do existir.


Eu não posso ser santo sozinho. A santidade implica relação, troca, partilha. Eu sou santo no trato com o outro. Devoção a Deus que não implica em reverência para com o meu próximo é religião de ocasião. O isolamento não produz um santo, mas um alienado.


Ora, se até mesmo o Divino se humanizou, por que eu, para receber o Divino em mim, deveria me desumanizar? A santificação não é um processo de mortificação do que de humano há em meu ser, mas de ressignificação da minha humanidade. Em Jesus, eu sou não só um outro homem, mas, sobretudo, um novo homem!


A experiência religiosa polui o olhar, impregna a mente e azeda o coração. O religiosa sempre olha para a vida com pré-conceitos, com restrições, com filtros, nunca com espontaneidade e graça. No Evangelho, todavia, Jesus afirma que se o olhar for bom, haverá saúde para todo o corpo. Sim, olhar para a existência com as lentes do amor muda tudo, e que grande mal é olhar para o mundo e não ter esperança. Estou certo de que o religioso é, antes de tudo, um fatalista, pois a fé da religião só age em proveito próprio, nem se mistura nem se desdobra para a vida.


Jesus não era um homem do Templo, mas das ruas. No Templo de Israel, a experiência do sagrado era elitizada, o povo ficava no átrio externo, do lado de fora, e o templo afunilava, se espremia, com sua arquitetura ensejava filtros sociais e religiosos, dava acesso a uns e tolhia a outros. Por fim, no “santo dos santos”, apenas o sumo-sacerdote entrava, uma vez a cada ano, para fazer expiação pelo pecado da nação. Em Jesus, todavia, o sagrado se expande, sai do Santuário de Deus, do Trono da Majestade Eterna, inacessível e transcendente, e entra na dimensão do humano caído, finito e falível. Sim, em Jesus, a experiência é sensitiva, imanente, está no olhar, no abraço solidário, na mão estendida, no beijo sincero. Em Jesus não há restrições éticas, estéticas, nem nada ligado ao pedigree, é possível tocar e ser tocado. Em Jesus, o sagrado não mais está associado a lugares, não é preciso erguer altares, pois sagrado mesmo é a alma do homem e, para ele, não há altar melhor do que um coração arrependido e um espírito sincero.


Não espere me compreender apenas usando os sentidos. Sim, você precisará de uma alma para poder decifrar o que carrega a mensagem, porque para além dos sons e grafismos, há sertões inteiros a desvendar, labirintos a percorrer, e só o coração sincero e sensível será capaz de discernir as miudezas singulares da vida.


Na lousa da vida, escreva suas vitórias com giz e suas derrotas com cutelo. Com o tempo, as vitórias se apagarão, e você se sentirá desejoso de buscar novas conquistas. As derrotas, todavia, permanecerão lá para sempre, elas lhe ajudarão a não cometer outra vez o mesmo erro, servirão de pedagogia para se caminhar no chão dos dias...


Tenho muito medo de quem tem uma solução "espiritual" para tudo. Sim, tenho medo de "sopas de versículos" aplicados à vida, não raro, totalmente fora de contexto. Tenho medo dos "amigos de Jó", desejando, em nome de Deus, esmagar a alma que está quebrada, arrotando uma fé impressa em livro, sem calo nos pés e marcas nas mãos. Eles se sentam junto aos aflitos e exercem uma piedade perversa, um tipo de espiritualidade que é ofensiva ao outro, que não discerne o gemido de quem está prostrado no chão da sua dor.


Gosto de quem anda pelo meio do barro, sem mapa, sem bússola, sem medo, sem planos. Sim, gosto de quem procura por algo, de quem é inquieto, insatisfeito. Gosto de quem quer ver o que há detrás do muro, de quem tem muitos “porquês” e quase nenhum “concordo”. Gosto de gente que habita em “tendas”, desalojada, apaixonada pela “estrada”, que sempre está a caminho, ainda que nunca pareça chegar. Gosto de coisas incompletas, de ponto e vírgula e de pedaços. Gosto de começos, de levantar “paredes”, plantar esperanças e alimentar devaneios. Portanto, não me coloque num banco, num canto, não me peça para seguir scripts ou amar rotinas. Não tente me convencer com velhos conceitos, nem me seduza com o que já está superado. Não tente me levar por onde todos já passaram, dia após dia, seguindo um caminho que leva sempre ao mesmo lugar. Se você quer me mover, mostre-me uma folha em branco, uma frase sem sentido, uma canção só com dois acordes ou uma ideia sem propósito. Me traga coisas que ainda não são que eu posso te devolver coisas que podem vir a ser.


Conte-me segredos sobre coisas que eu ainda não saiba. Tire as velhas roupas dos cabides, esvazie o armário e faça uma faxina na alma, revire as idéias ao avesso, deixe o hermético de lado, é démodé o traço perfeito. Não me traga mesmices, não me canse com tagarelices, ainda que eu goste de fotos em branco e preto, o real tem mesmo de ser colorido. É que eu já andei nesta estrada faz algum tempo... Conheço os atalhos, as curvas, as ondulações. No fundo, as paisagens são sempre as mesmas, não importa de que lado do caminho você está, tanto indo, quanto vindo, elas sempre são iguais. Por isso, faça uma trilha só sua, onde não haja pegadas, corra riscos, sinta medo, veja os contrastes, tire os disfarces, pise no chão com pés descalços, deixe o ar entrar pelo corpo e arejar os cômodos do ser. Mas se tu já vais, antes de sair, apague a luz e feche calmamente a porta. Estou acordado, mas necessito de um pouco de sono. Sim, sono com sonhos bons e sinos tocando. Não seja ranzinza, nem tente me privar de um pouco de devaneio, de torpor consciente, estou farto de realidades e coisas concretas, quero menos tecnologia e mais melancolia. Desencantei-me com os computadores, máquinas e motores, quero mesmo é jogar pião, bola de gude, brincar de polícia e ladrão. Preciso voltar! Deixe-me ir visitar meu passado, pois cansei do presente e tenho medo do futuro. Não quero nem o agora, nem o ainda não...


Não me venha com tuas mesmices, críticas cruas que rasgam meu ser e, como garras de aves de rapina, arrancam minha carne sem derramar uma gota de sangue sequer. Tu és cirúrgico demais pra meu gosto... O que estais esperando? Que eu seja o Super-Homem? Que tenha o compromisso de salvar a humanidade inteira, ou de fazer tudo certo, todo o tempo, como um Quixote enfrentando moinhos de vento?! Tu bem sabes que desprezo olhares tortos e passo ao largo de críticas retilíneas - pálidas, foscas, sombrias. Deveras, tua teoria me entedia, me dá cansaço essa complacência com o descaso. És daqueles que tudo realizam, mas sempre no mundo das idéias... platônico demais para o real... Deixe-me ser, e saia do caminho! Os pecados são todos meus, não estou disposto a dividi-los com ninguém. Desejo o teu desprezo e que nunca leias o que escrevo. Evites também escutar o que falo, pois, esse sou eu, sempre ácido, sempre ávido! Adoro o preto, mas detesto o ócio. Um dia pensastes que já sabias tudo, mas te vejo calado, quieto, inseguro, espreitando atrás da porta por onde a vida passa cálida. Afasta de mim tua compaixão, jamais desejei obter a caridade de quem me detesta. E se perguntarem por mim: diz que fui por aí, com um punhado de sonhos nas mãos e lágrimas requentadas por perdas ínfimas.


Os homens e seus espelhos mágicos tentando a tudo perscrutar. Eles podem perceber as rugas que aparecem no rosto, mas são incapazes de discernir marcas tatuadas na alma. Sim, no íntimo de cada um de nós há sombras e solidão, moinhos abandonados, ruas desertas, velas apagadas e copos vazios. Por isso, não te precipites a julgar ninguém nem te apresses a sentenciar o teu semelhante, pois muito do que vês é apenas miragem, paisagem pálida exposta na janela onde a vida passa passiva. Pudesse teu olhar penetrar mais fundo, como luz que vaza a cortina entreaberta, roubando da penumbra seus disfarces, se te fosse possível ir ao âmago, adentrar cômodos íntimos, verias que interiores são feitos de poesia e que, na melancolia do ser, há paixões recolhidas, pétalas em flor.


Se tiver que cortar a carne, então vá afiando a faca, pois há decisões na vida que são quais amputações, salvam o ser da desgraça, mas produzem um aleijão na alma. E mais... Se tens de fazer, então não perca à hora! Faz logo hoje, depressa, agora. A gangrena da consciência é pior do que o enfarto do coração. Eis que encontrei uma coisa terrível debaixo do sol: o indeciso. Ele passa a existência sentado no muro das ponderações. Faz contas, analisa, constrói gráficos, faz cálculos, imprecisas ponderações. Mexe, remexe, vira, não chega a lugar algum. É que o vivente nunca soube o que é despencar no asfalto da realidade, quebrar a cara, o queixo e de quebra a coluna, que ademais sustentava vãs filosofias e falsas ideologias. Mas deixa estar... Feliz é quem já se estrepou numa estrada de barro batido, tomou prumo pra “lida”, rasgou a roupa que camuflava a imagem e o orgulho que vestia a hipocrisia. Isso sim, muda a gente! Dor é coisa preciosa: quando não mata o “cabra”, quebra o tédio de seguranças pasteurizadas. Feliz é quem sofre, quem acumula rugas no rosto e certezas no olhar. Dor, é acalento de gente grande, faz a lágrima escorrer pelo canto do rosto e leva embora sonhos embebidos em esperanças póstumas. Portanto, dá-me, então, a minha porção de sofrimento, pois é calejando os pés nas pedras do caminho que poderemos ir mais longe na jornada proposta. Por isso, peço-te por piedade, não me venhas com doçuras ou canduras. Traga-me um balde com a lama que escorreu pela calçada por onde a tristeza desfilou impoluta. Com ele, mais um pincel de pintor, colorirei a tela da minha vida, sem mazelas nem pieguices, tudo preto no branco, vívido e verdadeiro, tudo como tem que ser.


A mesquinhez humana não tem limites... A multidão clama pela desgraça alheia, senta-se na cadeira e se constitui “juiz” sobre a terra, árbitros de seus iguais, distribuindo sentenças maliciosas, desalmadas. É a turma do “deixa pegar fogo”, do “quanto pior melhor”! Desgraça maior é ver que tem muito “crente” escondido por trás desta fanfarra, gente que só ama em dia de domingo – a estranhos – que estabelece agenda para a bondade e horário para a misericórdia. No resto da semana eles não passam de simulacro, fazem estelionato da paz e contravenção do bem, tudo no palco das dissimulações. Jesus falou de gente assim... Disse que eles esmagam os quebrados da vida, trucidam quem já não tem forças para a defesa nem argumentos para “razões irrefutáveis”. São opositores imbatíveis, sentados em suas “torres” de empáfia sentem-se absolutamente inculpes. O Galileu também destacou os que apagam a pequena luz que ainda reluz na alma de gente miúda, os que se tornaram especialistas em lançar trevas sobre o coração dos que sucumbem em solidão e desespero. Para lhe ser franco, meu mano, tenho pavor desta moçada que fica aqui no Facebook fazendo apologia da religião, citando versículos e pousando de bacana, com a cara limpa e a vida suja, palavras bonitas e consciência cauterizada. Sim, tenho ojeriza de ditadores de aparências, escravos da imagem, viciados em estéticas existenciais, os quais, contudo, são esvaziados de conteúdos para o ser. Eles desprezam os pequeninos, exilando-os aos labirintos da culpa que não tem perdão. Para os tais, não tenho dúvidas, muito em breve está reservado o acerto de contas com Aquele que perdoa dívidas impagáveis, mas faz com que se pague até o último centavo a quem for implacável com seu semelhante, com os que estão se arrastando sob o chão pedregoso da vida.


Nada é pior para o ser do que uma religião que não convida a alma a um asseio ético, que não instiga a consciência a ressignificar sua matriz de valores. Sim, esta fé calcada em regras de caráter moral, que tenta tornar o homem palatável a Deus, é o inferno existencial dos humanos caídos. Tolo fui eu em pensar que algo desta natureza pudesse ser de algum proveito, pois houve um tempo em que imaginei ter me tornado sem nunca ter sido. Desfilando pelas passarelas das indulgências, abracei a justificação produzida a fórceps pelo meu suor. Embriagado com minhas “boas obras” perdi o senso, o sentido, perdi-me de mim mesmo. O tempo, todavia, que a tudo traduz, trouxe-me, num certo dia, a misericórdia à porta. Com ela brindei a chegada do outono, a estação onde as folhas caem e as árvores ficam nuas, em flagrante delito! Só então, despido daquela pesada “armadura”, percebi que toda minha espiritualidade tornara-se apenas vitrine, encantava cegos e servia de moldura para a fachada, camuflando com requinte a podridão que se escondia no camarim da vida. Se desejas, contudo, saber do desfecho, digo-te que foi à Verdade que me conduziu a liberdade, guiando-me com segurança até o penhasco de onde eu pulei! A queda só me esmagou por inteiro porque eu caí para dentro, do alto do palco das representações para a calçada da realidade. E assim, desfeito de quem era, fui refeito inteiro, singular, ganhei um motivo para existir e um propósito pelo qual morrer. Hoje, quando olho para trás, sinto uma estranha alegria em ter “fracassado”, em não ter conseguido me tornar aquilo que tanto desejava, mas que, paradoxalmente, me devorava as entranhas.


Tem gente que vive com a alma do outro, a cara do outro, o jeito do outro, as idéias do outro. Na sociedade da imagem, copiar é coisa banal, quase original, plágio é chique! Mas convenhamos: é triste o sujeito passar pela vida e não se achar, não saber quem é, ter no máximo conseguido se tornar a projeção de outros, holograma material de ilusões imateriais. Não tem nome, nem rosto, não tem conteúdos nem qualquer singularidade. Massificado, serializado, tornou-se uma “porca” na engrenagem que come as pessoas e devora o ser, a máquina de engolir gente! Ele existe de si para si mesmo, nada percebe nem é percebido, incólume, passa como a notícia do jornal do dia que o vento leva pela calçada mastigada pelas pegadas dos transeuntes. Na sua ilusão, pensa que foi, mas nunca se tornou; imagina que é, sem jamais ter sido. E pode? Tal qual quem delira, ilude-se que ainda será! E eu me pergunto: como? Quem não veio a ser, ainda é esboço, necessita saltar da tinta rabiscada no papel das divagações para tornar-se pincel que esculpe pinturas na tela da vida real.


“Gente “santa” demais, “boa” demais, “honesta” demais, “amiga” demais é demais para mim... Prefiro companhias “malditas”, gente mal quista, mal vista, “pé de chinelo”. É pouco provável que, de quem nada se espera, possa vir um “soco na cara” ou um “pontapé no estômago”. Aprendi que os que “matam” a gente são aqueles que possuem etiqueta, intelectualidade, requinte e senso crítico. Eles nos remetem ao desprezo, ao exílio do convívio, estrangulam idéias, asfixiam consciências. Falam de suas fórmulas e teorias como se fossem arautos da “verdade”, mas são incapazes de sujar as mãos com o barro da dor que virou lama no chão da vida. Fuja de gente assim, mais cedo ou mais tarde te farão um mal irreparável...”.


Desconfie de tudo o que é muito perfeito. Nem mesmo os grandes pintores projetaram nas telas a perfeição. São geniais justamente por isso... A plástica contemporânea envolve parecer o que não se pode crer, aparecer sem ser. Mas não adianta disfarces, a humanidade é imperfeita, a terra produz “cardos e abrolhos”, o “mundo jaz no maligno”. Por isso, não me venha com linhas retas e paredes lisas, irretocáveis, estou farto do teu discurso oco. O publicano bateu no peito e confessou sua miséria; saiu justificado do templo. O fariseu, todavia, amargou continuar sendo simulacro, existir apenas para fora. De coração, cuidado com quem te mostra a boca e te esconde os pés! Quem não pode ser o que é e tenta ser o que não é acaba sendo o que não se pode ser. Portanto, seja quem for, seja você! Quem gostar, gostou...


No início era tudo idealismo... Depois se enraizou no ser, entrou pelas veias, entranhou-se na alma. Houve um tempo em que achava bonito, depois ficou denso, cor de chumbo, com gosto amargo, difícil... Melhor seria se fosse de outro jeito, mas já era tarde demais... Virou mania... Não, não espere confetes, nem aplausos ou reconhecimento. O máximo que se consegue é meia dúzia de curiosos e pra lá de nem sei quantos desafetos. Vou insistir por pura teimosia, se fosse inteligente, faria de outra forma. Decerto, continuarei amando a verdade, acreditando em mudanças, sonhando com o impossível. Manterei a petulância de ser leal a minha consciência, coerente com minha história, com o que abracei no chão da vida como princípio, valores inamovíveis. Enfim, por fim, aqui estou: escravo da razão, amante da justiça, entusiasta da ética, de quem faz o que é certo e olha as pessoas nos olhos, de frente. Ainda assim te digo, decerto, não espere muito de mim, sou ser por fazer-se. De equívocos? Entendo bem. Erros? Já os cometi, todos os que podia e ainda sobrou um tanto de troco... Diga-me, então, o que falta para que, enfim, eu seja eu mesmo? Aí reside a minha angústia, a minha busca, o meu destino, meu desatino, minha paixão.


É triste, mas há muitas pessoas “casadas” que jamais se casaram. Elas se “deram” no papel, mas não se entregaram no coração, juntaram coisas, mas não partilharam sonhos, conviveram, mas não compreenderam o significado de conjugalidade, habitaram o mesmo ambiente, mas nunca os "cômodos" da alma um do outro, fizeram sexo e não amor, geraram filhos, mas não puderam criá-los tendo o casamento como referência de relacionamento.


No meu mimetismo, sempre busquei camuflar as imperfeições, disfarçar as contradições. Mas o tempo devora tudo, muda a essência, transforma a existência, altera a aparência, consome até a persistência. Na meia idade, cansei de “caras e bocas”, da “estética”, da plástica social, dos traquejos, das políticas, dos manejos. Se já não era bom nisso, fiquei irreparável. Hoje só me interessa aquilo que é, tudo o que vaza da alma em direção a vida, que borbulha do caldo das incongruências e medos e se espalha pela tapeçaria dos dias. Sim, chega um tempo onde o belo é torto, penso, dispare e pálido. Estou farto de tanta perfeição, de tanta ficção, estou farto de realidades, linhas retas, cores vivas. Dê-me um pouco de ilusão e te serei grato pelo resto de meus dias, ainda que essa ilusão seja, no fundo, a mais pura verdade...


Me perguntaram se na Nova Vida recebo homossexuais. Respondi, sim, recebo. Recebo não só eles, mas as lésbicas, os mentirosos, os adúlteros, os fofoqueiros, os arrogantes, os perversos, os viciados de todos os tipos, os deprimidos, os solitários, os sonegadores, os contraventores, os estelionatários, recebo quem ninguém quer receber, acolho todo aquele que desejar ouvir o Evangelho. Sim, no dia que não puder receber um pecador na comunidade em que sirvo, não poderei mais entrar nela, pois, de todos os que lá estão, eu sou o principal. Mas faço como Jesus, o meu Senhor, que era amigo de publicanos e pecadores, acolho com respeito e misericórdia todos os que querem ouvir a Palavra. Não me sinto no direito de fazer juízo de meu semelhante, pois isso só cabe ao Pai fazê-lo. Aprendi com a vida que não há santo sem passado, nem pecador sem futuro.

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