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Jesus dizia a todos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me. Lucas 9:23.

12 junho 2012

Seja quem For, Seja Você!




É muito comum, em conversas pastorais, encontrar aqueles que se tornaram refém dos anseios e desejos de pessoas: pais, cônjuges, filhos, patrões, “amigos”. Eles afirmam que não possuem identidade, que se tornaram uma projeção de outros, um holograma material do que é imaterial e só existe como desejo reprimido, que acabaram encarnando um “personagem”, vivendo uma vida que não é deles, tudo com vistas a agradar aqueles que, sobre eles, alimentaram expectativas das mais variadas. Isso, creiam, provoca um sofrimento sem medida e um desgaste existencial sem precedentes...  

Neste contexto, encontro aquele que se casou com quem não gostava, aquela que exerce uma profissão para a qual não se sente habilitada, o que passou a assumir determinados pensamentos e comportamentos que lhes são estranhos, ou mesmo inaceitáveis, a outra que evita a polêmica, a exposição, o firmar posição, tudo em prol de jamais romper o “cordão umbilical emocional” que os torna, de certa forma, escravos psicológicos de outrem, uma vez que a consciência viciou-se em não ter sua própria “voz”. Desastrosamente, aqui temos algo que, por fim, estabelece um estado existencial em que a pessoa se torna prisioneira de um outro alguém em seu próprio ser! 

Analisando mais detalhadamente, percebi que muitas destas situações, não raro, estão associadas a questões econômicas, ao mundo competitivo em que nós vivemos, a essa sociedade movida pelo supérfluo, ao capitalismo que, segundo Bauman, estabeleceu a seguinte máxima: “consumo, logo existo”. Desta forma, em prol de manter vantagens e benesses, as pessoas acabam, às vezes sutilmente enganadas, se sujeitando ao imponderável.

É o filho que tem que assumir o próspero negócio da família, ainda que não tenha qualquer vocação para tal. É a moça que tem que agüentar situações constrangedoras e até assédio por causa do bom emprego que possui. É o cinquentão que tem de se submeter a situações vexatórias, pois, caso seja dispensado, não encontrará mais oportunidades no mercado. É o rapaz pobre, que se casou com a socialite rica, e, agora, tem de atender-lhe as demandas para poder manter privilégios. E por aí vai...

O resultado de tudo isto é o estabelecimento de uma sociedade movida a disfarces, a interesses, ao “jogo de empurra”, ao “toma lá, dá cá”, a cultura da vantagem, dos que vivem “em cima do muro”, do impessoal, do “politicamente correto”. Raramente vemos pessoas que se posicionam, que assumem riscos, que sejam firmes, que mantenham convicções e por elas estejam dispostas a ir as últimas conseqüências! Somos uma geração de homens e mulheres sem “palavra”, de caráter afrouxado, de valores relativizados, de comportamentos marionetizados. Sintetizando, como bem afirmou Groucho Marx: “esses são os meus princípios; se você não gostar deles, eu tenho outros...”. 

Quem é você? No que você acredita? Quais os disfarces que possui a sua face? Quantas pessoas existem dentro de você? São perguntas intrigantes, inquietantes. Respondê-las, inclusive, lhe expõe, faz com que seu pensamento seja conhecido, suas idéias venham à baila, sua opinião se torne pública. É perigoso demais! Para que fazer isto? Que vantagens algo desta natureza lhe trará?

Bem, reconheço que, de fato, você lucrará pouco ou quase nada se passar a fazer tais coisas ou, muito provavelmente, terá enormes problemas e dificuldades, mas, estou certo que, seja você quem for, é melhor que seja sempre você mesmo! No livro "Coragem para Mudar", utilizado no Al-Anon, encontramos “...jamais senti que pudesse ser eu mesmo perto das outras pessoas. Eu estava ocupado demais, tentando ser o que eu achava que os outros queriam que eu fosse, com medo de que eles não me aceitassem do jeito que eu era". Por isso, pense, não dói; fale, não é proibido; posicione-se, não é pecado!

Essa é justamente a questão que Jesus está tratando no texto abaixo: 
Pois veio João Batista, que jejua e não bebe vinho, e vocês dizem: ‘Ele tem demônio’. Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e vocês dizem: ‘Aí está um comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores.’”. Lc. 7:33-34. 

É certo que o Galileu nunca sofreu crise de identidade, não se dobrava aos interesses do Sinédrio, nem de Herodes, ou do Império Romano, nem de seu ninguém! Isso porque não tinha compromissos que lhe levassem para além de sua própria consciência e fé, estava disposto apenas a obedecer ao Pai, pois, até mesmo a Escritura se tornara relativa diante dEle uma vez que, Jesus, o Cristo, veio a se constituir a única chave hermenêutica através da qual a “letra” pode ganhar sentido e significado.

Essa passagem de Lucas nos trás uma situação corriqueira. Sua análise concentra-se no fato de que João Batista, que tinha voto de nazireu, ou seja, vivia como um ermitão, comia gafanhotos, mel silvestre, vestia-se de trapos, peregrinava pelo deserto, não era casado, não bebia vinho, orava, jejuava, pregava o arrependimento, mas, ainda assim, os religiosos diziam que ele tinha demônio! Ou seja, João, segundo Jesus, havia se tornado o maior de todos os homens nascidos de mulher, contudo, não era capaz de agradar àquela multidão.

Com o Nazareno, todavia, a questão era diferente! Comia, bebia, se alegrava, sentava com pecadores, ia à casa de publicanos, conversava com meretrizes, andava com samaritanos, curava em dia de Sábado, acolhia os enfermos, libertava os endemoninhados, quebrava as tradições, fazia tudo ao contrário de João, mas ainda assim era tido como subversivo, alguém andando na contra mão do “sistema”, um “rebelde” com causa, sendo condenado do mesmo jeito, porque o que as pessoas queriam era ver um boneco, um fantoche, um profeta de “brinquedo”. Mas Jesus “quebrou a banca!”. Boa!

O que sei é que quando você não é o que é, não há mais o que se possa ser! O que sei é que toda a sua vida se resume na busca de você tentar se encontrar com você mesmo, de “tornar-se aquilo que é”, e isso tem a ver com o propósito do que Deus planejou para que você experimentasse debaixo do sol, no solo árido da existência humana, pois, ou você é em Deus, ou você já se tornou não-ser, ou seja, algo que parece que é, mas que está longe de ser...   

Carlos Moreira


Preocupados com a Vida Eterna, os Cristãos Desprezam a Vida na Terra




Acho curioso como, tão escandalosamente, a religião se contrapõe à proposta de Jesus. Enquanto o Evangelho se propõe a pacificar o coração dos homens, a religião promove o seu distanciamento; um sugere a transformação da consciência, a outra uma mudança comportamental; um trata do perdão dos pecados, a outra da realização de obras meritórias; um chama as pessoas a reconciliação com o Criador, a outra tenta convencer o Criador a aceitar as criaturas.

Não é a toa que muitos filósofos e pensadores, olhando para a história da civilização humana, mantiveram diante da religião um olhar crítico, cético e por vezes, cínico. Heinrich Heine, escritor e poeta alemão, num tom sarcástico, afirmou certa vez: “bem-vinda seja uma religião que derrama no amargo cálice da sofredora espécie humana algumas doces, soníferas gotas de ópio espiritual...” Marx, pai do socialismo científico, não economizou “tinta”, e vociferou à seu tempo: “a religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração. É o ópio do povo”. Hegel, um dos mais respeitados filósofos, pai do idealismo absoluto, apesar de ter estudado no seminário protestante de Württemberg, era outro que via a religião como alienação da essência humana.

Friedrich Engels, um dos criadores da teoria do materialismo histórico e dialético, no século XIX, fez uma avaliação bastante lúcida sobre a religião cristã ao longo do tempo. Ele afirmava que, primeiramente, a cristandade foi uma religião dos pobres, dos desterrados, dos condenados e oprimidos. Todavia, não demorou muito para, no século III, se estabelecer como ideologia estatal do Império Romano. Em seguida, já na idade média, alinhou-se perfeitamente com a hierarquia feudal européia e, logo depois, a partir da revolução industrial, já na modernidade, amalgamou-se a sociedade burguesa.

Eu penso que uma das coisas mais imprescindíveis nestes tempos difíceis que vivemos é manter um olhar analítico e crítico a respeito de nossa própria história. Nosso objetivo deve ser repensar que papel nos cabe no mundo que vivemos, na sociedade na qual estamos inseridos, com vistas a materializarmos, com ações concretas, as propostas que possam vir a ressignificar o que afirmamos ser a fé em Jesus Cristo.

Contudo e, tristemente, o que tenho visto, cada vez mais, é o entorpecimento, a alienação, a “massa manipulada”, a “teologia” do comodismo que sacrifica sobre o altar da conveniência, a substituição da singularidade da unidade pela burrificação da unanimidade. Vejo os cristãos preocupados com a vida eterna, “labutando” em busca de garantir o futuro, sonhando com o galardão prometido, enquanto a humanidade se esvazia por completo de qualquer possibilidade de encontrar na existência significados, e a Terra agoniza pela exploração de seus recursos cada vez mais escassos.

Olho as igrejas lotadas de gente, não raro, vazia, egoísta, vivendo uma espiritualidade adoecida, que olha para si mesmo, mas não é capaz de perceber o próximo. Os cristãos estão enredados com movimentos, programas, seminários, shows, cultos, atividades que são justificadas pela velha máxima: evangelizar os perdidos! Você dificilmente encontrará essa gente em passeatas que reivindiquem questões sociais importantes, ou engajadas em ONG´s e outras organizações que lutem por direitos dos menos favorecidos, ou participando de projetos que viabilizem o desenvolvimento sustentável do planeta. Não, o “negócio” dos “crentes” é buscar o sobrenatural! Deixa que o natural se acabe, se desmantele, se extinga...    

Eu cresci ouvindo chavões do tipo: “crente não se envolve com política”; “a Terra está sendo “entesourada” para o fogo eterno”; “temos de cuidar dos da família da fé”. Por isso os políticos evangélicos são os mais corruptos do Congresso Nacional, a Terra está sofrendo com "dores de parto", levada a superar todos os seus limites, e os que não fazem parte de nossa “confraria” agonizam pelas ruas, nas cracolândias da vida, nas sarjetas da existência, nos hospitais, nos presídios, nas favelas. Só de pensar tenho calafrios... "Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes". Mt. 25:41-43

Nossa religião é “espiritualidade” de ocasião, com choro de encenação e contrição de momento. Tiago, em sua epístola, escrevendo para os judeus da dispersão, gente ainda impregnada pela “religião de Israel”, afirmou que essa religiosidade calcada sobre a fé, mas que não possui boas obras, para nada aproveita. Parafraseando o apóstolo, poderia perguntar: “mostra-me onde estais, com a tua fé, e eu, com o meu engajamento em questões prementes da humanidade, te mostrarei a minha!”. 

Gramsci, filósofo e cientista político italiano do século XIX, analisando na sociedade contemporânea a cultura religiosa, concluiu que ela é “a utopia mais gigante, a mais metafísica que a história jamais conheceu, desde que é a tentativa mais grandiosa de reconciliar, em forma mitológica, as reais contradições da vida histórica”. Em outras palavras, a religião é artigo de luxo, serve apenas para “anestesiar a alma”, mas tem pouca ou nenhuma utilidade para o espírito dos homens.

Enquanto a “igreja” continuar alienada entre quatro paredes, embevecida com suas próprias obras, pensando na vida no além, o mundo padecerá com “cólicas” sociais, milhões morrerão de fome, de frio, de sede, de maus tratos, gente que não poderá ser “evangelizada” porque estará enterrada numa cova rasa! Sim, enquanto ficamos apenas “orando” e “louvando” ao “senhor”, os rios estão sendo poluídos, as matas devastadas, o ar contaminado, os animais extintos, a camada de ozônio destruída. “Aleluia irmãos!”...

Com a ajuda que estamos dando ao “diabo”, ele nem precisa se ocupar em fazer o que Jesus afirmou: “matar, roubar e destruir”. Pode tirar férias e ir para Boca Raton! Minha oração nestes dias é ver menos gente “entulhada” dentro da “igreja”, ou seja, aqueles que não fazem nada, não tem compromisso com nada, e mais gente em sindicatos, OSCIP´s, organizações de direitos humanos, gente que se interesse pelo que seu candidato evangélico está fazendo, gente que vá as ruas, que proteste contra tudo o que ferir a dignidade humana, que seja “Elias” em nosso tempo, profetas que denunciem a injustiça e a maldade, e não aspirantes de feiticeiros, adivinhando o futuro dos outros. 

Se eu creio na vida eterna? Claro que sim! Se eu a espero? De todo o coração! Se estou na expectativa da volta de Jesus? Oxalá fosse hoje! Mas até que tudo isso se torne realidade para mim, tenho muito o que fazer aqui na Terra pois, parafraseando Paulo, ainda não completei a carreira para poder guardar a fé e receber a minha coroa, a qual o Justo Juiz me dará naquele dia! Sim, afirmo com toda autoridade: quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz a Igreja! 

Carlos Moreira

 

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