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Jesus dizia a todos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me. Lucas 9:23.

24 julho 2011

Respeito é Bom e Eu Gosto



Estes são os meus princípios! Se você não gostar deles, eu tenho outros...”.
Groucho Marx.

Daqui a alguns meses vou completar 25 anos de profissão, todos eles atrelados ao mercado de Tecnologia da Informação. Comecei digitando cheques em um banco e hoje sou um executivo, sócio de uma empresa de desenvolvimento de software.

Se há uma coisa que aprendi nestes anos é que, em se tratando de negócios, pelo menos neste País, tudo é possível. O mercado tem suas próprias “regras” e, a mais importante delas, é que não existe regra para nada. Eu sei que temos Legislação, Judiciário, Polícia Federal, Receita, Secretaria da Fazenda, Constituição, mas, acredite, dependendo de como você “mexa com as peças”, tudo pode ser feito.

Fato é que já há muito que a ética, o pudor, a honestidade, a verdade, a lealdade, a decência, a transparência, a palavra empenhada, e outros valores imprescindíveis foram banidos de nossa sociedade, e isto não apenas nos negócios, mas em todas as áreas do viver humano. Existimos em meio à total dissolução dos princípios que constroem o ser, fomos engolidos e diluídos por um “sistema” perverso que inverteu o direito, perverteu a justiça, relativizou o absoluto e absolutizou o relativo.

Hoje, os que estão buscando fazer a coisa certa se sentem como se andassem na contra-mão, no contra-fluxo, “remando contra a maré”. É por isso que eu vim aqui hoje para registrar o meu protesto, para dizer que exijo respeito, para expressar a minha indignação com o que vejo acontecer todos os dias.

Eu peço que você me respeite por eu querer falar a verdade, ainda que isto me custe, não raro, perder oportunidades, amigos, dinheiro, “prestígio”, “status”. É que eu entendi que a liberdade é filha da Verdade e desde há muito os grilhões que prendiam meu ser foram quebrados, tornei-me livre de tudo e de todos, sou apenas escravo do amor.

Eu peço que você me respeite por eu desejar ser leal, por buscar honrar minha palavra, mesmo quando ela não está num papel assinado, num contrato. Respeite-me por querer ser honesto, comigo, com outros, aceite o fato de que escolhi caminhar de forma transparente, que não desejo trair, enganar, “passar a perna” nem fazer nada as escondidas, pois tudo o que é trevas manifesta-se e eu, por ser filho da Luz, anseio que haja sempre claridade em minha alma e em meu ser.

Eu peço que você me respeite por eu não querer ganhar o mundo inteiro, por não colocar o dinheiro acima das pessoas, por não fazer de minha carreira meu maior objetivo na vida, por não ser capa de nenhuma revista, nem ter ações na bolsa, nem uma lancha no iate clube. Sim, respeite o fato de que meu sono é muito importante para mim e que, para dormir em paz, escolhi apenas “vencer o mundo” e não vencer no mundo.

Eu peço que você respeite o fato de estar com a mesma mulher há 27 anos, pois decidi muito cedo construir uma família, tornei isto uma prioridade, compreendi que os relacionamentos são eternos, mas os bens passageiros. Desta forma, não me sinto atraído por “invólucros”, não desejo trocar minha mulher de 42 anos por uma de 22. Nunca! Ela é minha amiga, minha amante, alguém que aprendi a admirar com o passar dos anos e o acumular das crises. Não estou disposto a arriscar o que vivemos por uma aventura, uma transa, um corpo bonito com uma cabeça vazia.     

Finalmente, peço que você respeite o fato de que eu temo a Deus, acredito na salvação do meu espírito, que é a essência do meu ser, na ressurreição do meu corpo, no juízo final e na vida eterna. Respeite a minha fé, a crença que tenho de que “Deus estava em Cristo se reconciliando com o mundo, não imputando aos homens os seus pecados”.

Por tudo isso, quero apenas lhe dizer o seguinte: eu tenho os meus princípios; se você não gostar deles, infelizmente, não tenho o que fazer, pois por eles decidi viver e morrer, e não há nada, nem ninguém neste mundo, que possa me fazer mudar a escolha que um dia fiz.

Carlos Moreira

 

21 julho 2011

Pra Sempre, Sempre Acaba



"Ele fez tudo apropriado há seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim este não consegue compreender inteiramente o que Deus fez
”. Ec. 3:11

Depois de certa idade você começa a entender que tudo na vida é passageiro, fugaz, demasiadamente breve. Hoje, existe; amanhã, quem sabe? Esta é uma das grandes chatices da vida, nada é pra sempre; pra sempre, como poetizou Renato Russo, sempre acaba...

Eu já vivi a ilusão de que algumas coisas na existência eram pra sempre. Ah, como isso me fazia bem... Mas não era real... Hoje penso que, às vezes, é melhor acreditar numa boa ilusão do que ter de encarar uma dura realidade. Pena que meu pragmatismo não me permita viver com tal regalia.     

Houve um dia em que eu pensei que seria jovem para sempre, mesmo que meu corpo viesse a sofrer os desgastes próprios do tempo. Hoje, na meia idade, percebi que o envelhecimento não tem nada a ver com a degeneração do físico, mas com a perda da inocência, da irreverência, da anarquia, da capacidade de sonhar sonhos impossíveis.

Houve um tempo em que eu pensei que os amigos seriam amigos para sempre. Ao depois, entretanto, percebi que as amizades acabam por tornarem-se circunstanciais, algumas, inclusive, são meramente calcadas em interesses, outras, desfazem-se quando mudamos de endereço, de telefone, de empresa, de igreja... Constatei que minhas amizades, quais pedras de barro, foram se esfarelando até tornarem-se apenas poeira que cobre os meus pés exaustos de tanto chão.

Houve um tempo em que eu pensei que a paixão seria para sempre. Mas paixão é “bicho” indolente, foi feita pra voar, não para viver presa, por isso não é possível aprisioná-la na “gaiola” do coração humano. A paixão é como foguete de São João, quando despertada, rasga o céu com exuberância e desenvoltura, depois, todavia, desvanece, silencia, some na escuridão da noite do ser.   

Houve um tempo em que eu “vivi a ilusão de que ser homem bastaria”. Mas aí eu cresci, senti a necessidade de ser gente, quis ser reconhecido, singular, irrepetitível. Ser gente é mais do que simplesmente ser homem, pois homens não duram pra sempre. Aos poucos, entretanto, percebi que meus sentimentos se complexificaram, que minha alma tornara-se “sofisticada”, que minha consciência, momentaneamente iludida, imaginara ter evoluído a tal ponto de prescindir do meu coração. Sendo gente, pensei, jamais serei esquecido, ignorei o fato de que tudo na existência ruma para o irremediável, sucumbe em silêncio e solidão.  

Houve um tempo em que eu sentia estas coisas... Tudo isto invadia minha alma como raios de sol que rasgam as frestas da velha janela, até que atentei para o fato de que o único absoluto da vida é Deus, tudo o mais, sendo relativo, é passageiro e finito. Deus colocou a eternidade como pulsação interior no coração do homem, mas este, não compreendendo as dimensões e implicações deste estado pós-matéria, tenta tornar eterno aquilo que é apenas temporal.

De fato, pra sempre, sempre acaba, pois, no final desta estrada na qual todos nós estamos caminhando, existe uma grande placa onde estão presentes os seguintes dizeres: “Fim da Linha! Bem vindo à eternidade!”. Nesta nova dimensão pós-existencial, pra sempre é pra sempre mesmo, pois Deus assim o diz, e Sua Palavra, para mim, é mais do que suficiente para me fazer crer. E para você?...

Carlos Moreira


13 julho 2011

Arranquei Jesus da Cruz!


Na próxima quinta-feira estarei sendo ordenado presbítero da Igreja Episcopal Carismática do Brasil. O arcebispo Paulo Garcia, que oficiará a cerimônia, é como um Pai, tem me ajudado e servido de referência desde minha conversão.

Na verdade, atuo como pregador do Evangelho há pelo menos 25 anos. Mas, do ponto de vista da instituição formal, só fui ordenado diácono em 2004. Canonicamente, deveria ter sido consagrado presbítero logo em seguida, mas toda vez que o assunto surgia eu acabava me esquecendo, e, assim, passaram-se 7 anos...

De fato, sempre acreditei que é Deus quem levanta homens e os capacita para a obra do ministério. Por isso nunca me preocupei em “costurar” ou “viabilizar” de alguma forma minha ordenação, sequer, tratei deste assunto com quem quer que fosse. Se hoje sou pastor, posso dizer, é pela vontade de Deus e pela imposição de mãos dos homens.

Como faço parte de uma Igreja de linha reformada – litúrgica, sacramental e carismática – que guarda a herança do cristianismo anglicano, procurei observar com atenção os detalhes da cerimônia para não fazer feio no dia. Foi desta forma que vi que existe um momento simbólico onde o presbítero recebe 3 elementos bastante significativos: uma Bíblia, a Estola Sacerdotal e um Crucifixo.

Bem, a Bíblia eu já possuo. Ganhei a primeira quando tinha 10 anos, de minha mãe. Hoje existe uma dezena delas na minha biblioteca. Aprendi a amá-la e utilizá-la para comunicar as verdades do Evangelho. Como ministro já ordenado, também tenho Estolas Sacerdotais, com as cores litúrgicas. Elas apontam simbolicamente para o fato de que eu estou cingido com o jugo de Cristo, ou seja, preciso carregar na consciência e no coração o fato de que o ministério nunca deve deixar de ser algo leve e suave, apesar de todas as dificuldades que lhe são inerentes.

Quanto ao crucifixo, dependendo do ramo da Igreja, pode assumir vários significados, sobretudo porque a cruz é um símbolo muito antigo e, ao contrário do que alguns pensam, não é patente dos cristãos. Para mim, todavia, a cruz que irei receber terá o propósito de trazer sempre a minha memória que foi o sacrifício de Jesus, através de sua morte, que proporcionou aos homens a possibilidade de se reconciliarem com Deus. 

Pois bem, como eu não tenho um crucifixo, fui hoje comprar um. Depois de ir a várias joalharias, e não me agradar de nada, resolvi visitar uma loja da Igreja Católica Romana onde existe farto material litúrgico. Lá encontrei um crucifixo muito bonito, mas com uma questão incômoda: havia nele a figura de Cristo pregada na cruz.

Ora, eu sou hoje um dos maiores defensores do retorno dos símbolos à Igreja. Os protestantes, sobretudo no Brasil, baniram de suas paróquias e congregações toda a beleza litúrgica por não quererem qualquer semelhança com os Católicos Romanos. Pura tolice, em minha opinião. Jogar fora 2.000 anos de tradição e história da Igreja por causa de algo tão pequeno e mesquinho chega a ser insano. Mas, fazer o quê?

Comprei o crucifixo, pois o achei de uma beleza incomparável, mas o meu Jesus não está pregado na cruz, ressuscitou, e isto para mim tem implicações profundas e um poderoso significado. Desta forma, lancei-me a tarefa de “descolar” aquele outro “Jesus” da cruz.

Com um objeto pontiagudo, fiz uma ligeira pressão sobre a peça e, tomado de surpresa, tive de agarrar “Jesus” com uma das mãos, pois “ele” praticamente “saltou” da cruz, como se quisesse se desprender dali há tempos...

Foi uma cena cômica, e eu comecei a rir descontroladamente. Fiquei imaginando a “agonia” daquele “Jesus” pregado naquele crucifixo desde o dia em que ele foi feito pelo artífice. Acho que minha atitude pôs fim ao seu grande tormento. Nunca imaginei que, um dia, iria arrancar “Jesus” da cruz!

Em toda essa história, verídica, diga-se de passagem, há duas lições preciosas. A primeira, é que Jesus foi crucificado e, naquele madeiro, ficou preso até a morte, só sendo retirado de lá depois de ter sangrado e agonizado pelos pecados de todos os homens em todos os tempos. A segunda é que a morte não pôde retê-lo, pois ele ressuscitou ao terceiro dia, como havia dito, deixando tanto a cruz quanto o túmulo vazios.

Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”. Gl. 2:20.

Eu, não raras vezes, esqueço que estou crucificado com Cristo, “desprego-me” da cruz, e começo a viver conforme a minha própria vontade. Ele, todavia, tomou sobre si a minha iniqüidade, incluiu-me na sua morte para que eu pudesse usufruir da sua vida, do poder da sua ressurreição, pois pela fé estou assentado com ele nos lugares celestiais e nada, nem ninguém, pode me remover de lá ou alterar o que ele fez por mim.

Carlos Moreira 

08 julho 2011

Só Leia se Desejar Aprender a Ser Feliz


Hoje é sexta-feira, dia em que tiro à tarde para aconselhar pessoas na igreja. Eu recebo também aqueles que precisam de ajuda no meu escritório, e estes se constituem a maioria. Acho que as pessoas não gostam de ir ao gabinete pastoral para não serem vistas, afinal, é bom sempre manter as aparências. Ou não...

O bom conselheiro é aquele que ouve muito e fala pouco. Não raras vezes, as pessoas falam por 30 ou 40 minutos e eu uso apenas 5 para me colocar. Acho curioso quando, ao final, depois de orarmos, ouço o seguinte: “pastor, foi maravilhoso vir hoje aqui, o Sr. me ajudou muito”. Dou um pequeno sorriso e despeço-me cordialmente. Na verdade, em nossa sociedade, as pessoas precisam apenas ser ouvidas...  

Curioso, mas todo mundo que vem para o aconselhamento trás uma questão em comum: deseja ser feliz. É legítimo, razoável, desejável, mas, quase nunca, alcançável, pelo menos não do jeito que eles imaginam. É que a felicidade, ao contrário do que se pensa, não é um estado perene na existência, mas uma estação sazonal. A vida é mais feita de dores e perdas do que de risos e conquistas. E isso, eu lhe garanto, se você ainda não aprendeu, aprenderá. 

Gosto muito do livro de Eclesiastes. Acho que, no velho testamento, é um dos meus preferidos. Construído em linguagem poético-sapiencial, escrito por um sábio com consciência epicurista, Eclesiastes nos chama a analisar a vida como ela é, sem disfarces, sem contornos religiosos, sem melodramas, tudo preto no branco.

É nesta perspectiva que, no capítulo 9, o filósofo-religioso nos dá alguns conselhos para alcançarmos a felicidade. Não sei se servirá para você, acostumado aos “10 passos para isto ou aquilo”, ou aos manuais de auto-ajuda, ou a teologias complexas, mas, para mim, pobre de espírito, quebrantado de coração, caiu como “uma luva”.

1º. Conselho – “Portanto, vá, coma com prazer a sua comida, e beba o seu vinho de coração alegre, pois Deus já se agradou do que você faz”. Em outras palavras, o melhor da vida está nas coisas simples. Comer é privilégio para poucos, pois nem mesmo os ricos o podem fazer. Estes estão sempre apressados, quase não tem tempo para se alimentar, comem no fast food, no Mcdonalds, pedem comida Chinesa, entregue numa caixa de papelão, e se alimentam na mesa de reunião do escritório.

Comer pão e vinho nos remete a simplicidade, e o simples, como sabemos, é o contrário do fácil. Além do mais, eles representam elementos cúlticos, ou seja, comer é dádiva de Deus, se alimentar é resultado do esforço do homem. O pão dos justos Deus o dá enquanto eles dormem, diz o salmista.

A verdade é que nós complexificamos muito a vida. Tornamos o essencial relativo, e o supérfluo essencial. Tenha certeza de uma coisa: se você conseguir se livrar da metade das contas que paga por serviços e produtos que não lhe farão falta, viverá muito melhor do que vive hoje. Bertrand Russell escreveu: “Não possuir alguma das coisas que desejamos é parte indispensável da felicidade”. Sim, se vivermos assim, Deus se agradará das nossas obras.

2º. Conselho – “Esteja sempre vestido com roupas de festa, e unja sempre a sua cabeça com óleo”. Traduzindo: viver deve ser algo prazeroso, mas, tome cuidado, a falta de equilíbrio pode fazer da existência uma experiência doentia e patológica.

Deus gosta da alegria, da festa, da música, da dança, do prazer, do riso e da satisfação. Quem disser o contrário, não o conhece, tem por referência um holograma caricaturado da sua própria projeção psicológica do sagrado, talvez associada a uma figura de autoridade próxima, não raro, um pai dominador, severo e inafetivo.

Ora, a vida nos foi dada para que a experimentássemos em todos os seus matizes, para que pudéssemos nos realizar e ter prazer e alegria. O cristianismo, infelizmente, mudou esta perspectiva que, notadamente vemos em Jesus, transformando-se numa religião asceta, que busca a ataraxia, a mortificação do eu, a sublimação do ser. Mas o que sei é que a Verdade liberta, torna-nos seres em expansão, não só do pensamento mas das sensações, pois “tudo é puro para os puros”.

O problema não está em viver com “vestes de louvor”, cingido de alegria, envolto com “ares de festas e luas de prata”. Não. O problema está no exagero, no excesso, na extravagância, no prazer pelo prazer, na tentativa de fazer a alma se saciar com aquilo que não gera a paz nem produz o bem. Por isso nossa cabeça precisa estar untada com óleo, pois óleo, neste texto, significa aquele elemento que produz cura, que sara feridas, que protege nossa consciência e nos traz de volta a razão. É o óleo do Espírito, derramado em nossos corações, que sara as seqüelas produzidas pelas experiências dolorosas da existência humana. Por isso, no que depender de você, nuca permita que ele deixe de cair sobre sua fronte.

3º. Conselho – “Desfrute a vida com a mulher a quem você ama, todos os dias desta vida sem sentido... Pois essa é a sua recompensa na vida pelo seu árduo trabalho debaixo do sol”. Aqui a intenção do autor é nos alertar que a coisa mais preciosa que temos são as relações de amor que construímos. Relacionamentos são eternos, perpassam da vida para a eternidade, tudo o mais fica aqui, pois diz o sábio, “ao morreres levarás tudo o que és e deixarás tudo o que tens”.

Apaixonar-se por alguém é o que há de melhor na vida. As pessoas mais felizes que conheço são aquelas que construíram relações duradouras, que conseguiram unir o amigo e o amante na mesma cama. Por isso o sábio diz que nem mesmo aquilo que o dinheiro pode comprar é capaz de sobrepujar-se a satisfação de se ter alguém a quem amar, alguém a quem se possa entregar a alma, o copo e a vida.

4º. Conselho – “O que as suas mãos tiverem que fazer, que o façam com toda a sua força, pois na sepultura, para onde você vai, não há atividade nem planejamento, não há conhecimento nem sabedoria”. Aqui o sábio nos chama a um encontro com o inevitável, a um encontro com o Deus Eterno!

A vida é feita de escolhas. Devemos e podemos realizar tudo aquilo que nos for possível, mas sem perder a referência de que tudo isto um dia passará e, portanto, nosso coração não deve estar naquilo que produzimos, mas em quem estamos nos tornando. Se esta perspectiva não for assumida na vida, se nossa existência se resumir a vivermos para trabalhar, e não a trabalharmos para viver, o que nos espera será apenas o nada, o não-ser, pois existir fora de Deus é tornar-se absurdo.

Para mim, isso é inferno. Inferno não é um lugar, mas um sentir. Todo texto sobre o tema é metafórico, recortado por alegorias. Quem imagina o inferno como um caldeirão com óleo fervendo e um “capeta” lhe espetando com um tridente não tem qualquer entendimento sobre a bondade e misericórdia de Deus.

Sabe o que é inferno? É toda existência que ignora a graça, é viver para si mesmo, é nunca perceber-se necessitado de perdão, é endurecer-se a tal ponto que a centelha que produz o arrependimento nunca possa ser acesa. Há tanta gente que “ama” a Deus com medo do inferno que, se chegar ao céu e descobrir que ele não existe, pelo menos do jeito que imaginam, irão reclamar de Jesus por não terem vivido a vida, mas apenas amordaçado o ser.

5º. Conselho - Já me disseram que se conselho fosse coisa boa não era dado e sim vendido. De fato, depois de 30 anos de caminhada, isso me faz todo sentido. Mas como eu recebi de graça, de graça também quero repartir. Gandhi afirmou: “Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.” Por isso, se o que disse lhe servir para alguma coisa, aplique a vida, faça o caminho, e o Caminho se fará em você. Se não te aproveitou em nada, sigas em paz.

Carlos Moreira

01 julho 2011

Cotidiano em Branco e Preto




Não me venha com tua mesmice, tuas críticas cruas que rasgam meu ser. Por vezes sinto tuas unhas se cravarem em minha carne como garras de aves de rapina, arrancam minha pele sem derramar uma gota de sangue. Sim, tu és cirúrgico demais, mesmo para mim...

E eu te pergunto: o que estás esperando? Que eu seja o Super-Homem? Que me sinta com a obrigação de salvar a humanidade inteira, fazer tudo certo, todo o tempo? Achas que sou um Quixote enfrentando moinhos de vento?! Ora, tu bem sabes que desprezo olhares tortos e passo ao largo de quem tem imaginação retilínea.

Deveras, tens de compreender, tuas teorias me entediam e me dá cansaço essa complacência com o descaso. És daqueles que tudo realizam, mas sempre no mundo das ideias... platônico demais para o real. Portanto, deixe-me ser, e saias do caminho!

Queres que eu confesse? Sim, os pecados são to-dos meus, não estou disposto a dividi-los com ninguém. Desejo o teu desprezo e que nunca descubras o que escrevo. Evites escutar o que falo, pois sou ácido e ávido, corto que nem navalha! Como já sabes, adoro o preto, mas detesto o ócio.

Um dia, não queiras enganar-me, pensaste que já sabias tudo. Mas te vejo calado, quieto, inseguro. Espreitas por entre portas entreabertas, por onde a vida passa cálida. O que te peço? Que afastes de mim tua compaixão, pois jamais desejei obter a caridade de quem me detesta. Se perguntarem por mim? Diz que fui por aí... com um punhado de sonhos nas mãos e lágrimas requentadas por perdas ínfimas.

Queres me surpreender? Então conta segredos sobre coisas que eu ainda não saiba. Tira as velhas roupas dos cabides, esvazia o armário e faze uma faxina na alma. Revira tuas ideias ao avesso, deixa o hermético de lado, é démodé o traço perfeito. Não me traga mesmices, não me canse com tagarelices, pois tu sabes o quanto gosto de fotos coloridas, mas, o real, esse tem mesmo de ser branco e preto.

Eu tenho um problema e tu o conheces. Estou andando nessa estrada já faz algum tempo. Sei onde estão os atalhos, as curvas e ondulações. As paisagens, são sempre as mesmas, não importa de que lado do caminho você esteja, indo ou voltando, são todas iguais. Por isso, faço uma trilha só minha, onde não haja pegadas, corro riscos, sinto medo, vejo os contrastes, tiro os disfarces, piso no chão com pés descalços, deixo o ar entrar pelo corpo e arejar os cômodos do meu ser.

Ademais, no íntimo de cada um há moinhos abandonados, ruas desertas, velas apagadas e copos vazios. Pudesse teu olhar penetrar mais fundo, como luz que vaza a cortina de seda fina, roubando da penumbra teus disfarces, se te fosse possível ir ao âmago, adentrar lugares escondidos, verias que interiores são feitos de poesia e que, na melancolia do ser, há paixões recolhidas e pétalas em flor.

Se quiseres, dou-te um conselho: quando tiveres que cortar a carne, faça o serviço com faca amolada, pois há decisões na vida que são quais amputações, salvam o ser da desgraça, mas produzem um aleijão na alma. E mais... se tens de fazer, então não perca a hora! Faze logo hoje, depressa, agora! A gangrena da consciência é pior do que o enfarto do coração.

Eis que encontrei uma coisa terrível debaixo do sol: o cotidiano! Ele passa a existência sentado no muro das ponderações. Faz contas, analisa, constrói gráficos, faz cálculos, imprecisas ponderações. Mexe, remexe, vira, não chega a lugar algum.

Mas deixa estar... Feliz é quem já se estrepou numa estrada de barro batido, tomou prumo pra lida, rasgou a roupa que camuflava a imagem e o orgulho que vestia a hipocrisia. Isso sim, muda a gente!

Dor é coisa preciosa. Quando não mata o “cabra”, quebra o tédio de seguranças pasteurizadas. Feliz é quem sofre, quem acumula rugas no rosto e certezas no olhar. Sofrer é acalento de gente grande, faz a lágrima escorrer pelo canto do rosto e leva embora sonhos embebidos em esperanças póstumas.

Dá-me, então, minha porção de sofrimento, pois é calejando os pés nas pedras do caminho que poderei ir mais longe. Mas não me canse com melancolias nem me venhas com doçuras ou canduras.

Se quiseres me ajudar, traze um balde com a lama que escorreu pela calçada por onde a tristeza desfilou impoluta. Com ele, mais um pincel de pintor, colorirei a tela da vida, sem mazelas ou pieguices, tudo preto no branco, vívido e verdadeiro, tudo como tem que ser.

Houve um tempo em que eu era idealista... Depois, a realidade se enraizou até os ossos, entrou pelas veias, entranhou-se na alma. No meu mimetismo, sempre busquei camuflar as imperfeições, disfarçar antigas contradições.

Mas o tempo devora tudo, muda a essência, transforma a existência. Hoje, confesso, cansei de “caras e bocas”, da “estética”, da plástica social, dos traquejos, das políticas e dos manejos.

Na verdade, nunca fui bom nisso, e agora fiquei irreparável. Hoje só me interessa aquilo que é, o que vaza da alma em direção à vida, que borbulha do caldo das incongruências e medos e se espalha pela tapeçaria dos dias.

É que chega o tempo em que o belo é torto, penso e díspare. Farto de tanta perfeição, você para e suplica: dá-me um pouco de ilusão! Faze isso e te serei grato pelo resto de meus dias. Sim, dá-me essa tal ilusão, faze uma alquimia qualquer, ainda que no fundo, ela seja a mais pura realidade...

Carlos Moreira

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É importante esclarecer que este BLOG, em plena vigência do Estado Democrático de Direito, exercita-se das prerrogativas constantes dos incisos IV e IX, do artigo 5º, da Constituição Federal. Relembrando os referidos textos constitucionais, verifica-se: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato" (inciso IV) e "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" (inciso IX). Além disso, cabe salientar que a proteção legal de nosso trabalho também se constata na análise mais acurada do inciso VI, do mesmo artigo em comento, quando sentencia que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença". Tendo sido explicitada, faz-se necessário, ainda, esclarecer que as menções, aferições, ou até mesmo as aparentes críticas que, porventura, se façam a respeito de doutrinas das mais diversas crenças, situam-se e estão adstritas tão somente ao campo da "argumentação", ou seja, são abordagens que se limitam puramente às questões teológicas e doutrinárias. Assim sendo, não há que se falar em difamação, crime contra a honra de quem quer que seja, ressaltando-se, inclusive, que tais discussões não estão voltadas para a pessoa, mas para idéias e doutrinas.

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