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Jesus dizia a todos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me. Lucas 9:23.

27 outubro 2010

Igreja Playmobil


“Como é terrível conhecer, quando o conhecimento não favorece quem o possui!”
Sófocles, dramaturgo grego.

Se você já assistiu ao filme “The Wall”, produzido em 1982, pelo diretor Alan Parker, o qual é baseado no álbum de mesmo título da banda Pink Floyd, talvez se lembre de uma de suas cenas mais marcantes. Nela, vemos a imagem dos alunos, com máscaras de bonecos presas ao rosto, sendo empurrados numa esteira rolante em direção a uma máquina de trituração que os transformava em linguiças.

Era a dura crítica de que os alunos haviam se tornado manequins serializados, e não seres pensantes. A própria música “Another Brick in The Wall” – Um tijolo a mais na parede – tem em sua letra comentários mordazes quanto ao sistema de ensino inglês e aos professores. Em uma das estrofes, afirma de forma categórica: “Professores, deixem os alunos em paz!”.

Durante muito tempo, as escolas estiveram sob o domínio da Igreja, mas acabaram sofrendo profundas mudanças desencadeadas pelas novas necessidades dos processos de produção advindos da Revolução Industrial. Elas abandonaram o modelo ideológico religioso e se transformaram num local de disciplinamento e ordenação do saber.

Segundo Maria da Glória Silva, mestre em psicologia, “a partir do século XVIII, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, os ambientes escolares pareciam-se mais com quartéis, pois a instrução ficava em segundo plano, atrás da obsessão pela ordem e compostura”.

Ora, é justamente isso que acontece hoje com o nosso sistema de ensino na Igreja. Ele está profundamente equivocado! Reproduz muito do que se viveu nos séculos XVIII, XIX e XX no mundo fabril. Estamos serializando as pessoas, transformando-as em commodities religiosas.

O problema já começa nos seminários teológicos, muitos dos quais lembram apenas uma “sociedade de profetas mortos”. Ali, jovens enviados sem qualquer critério de seleção pelas Igrejas, sem a mínima experiência com Deus e nenhum conhecimento das Escrituras, são expostos a conteúdos profundos de autores diversos que os fazem, não raro, entrar em crise e perder a fé. Dali muitos sairão como “profissionais da religião”, mas jamais como pastores de ovelhas. Há exceções, mas elas estão cada vez mais escassas. 

Lembro-me do profeta Oséias: “O meu povo está sendo destruído porque lhe falta conhecimento”. O mais trágico, contudo, ainda está por vir. Baseados em rotinas didáticas superadas – por vezes demasiadamente ortodoxas, em outros casos profundamente liberais –, numa hermenêutica descentrada de nosso tempo e de nossa cultura, que insiste em fazer exumação da letra morta em vez de ressignificar os conteúdos para expansão e construção de uma nova consciência, a Igreja acaba criando, seja do púlpito, na EBD (Escola Bíblica Dominical), no ensino dos pequenos grupos ou nas reuniões de doutrina, um modelo fabril. É o triunfo de uma práxis religiosa que apenas constrói gente robotizada, autômatos “espirituais”, bonecos com máscaras no rosto, vendas nos olhos e tampões na boca e nos ouvidos.

Não é sem motivos que grande parte da sociedade nos considera alienados! Isso se dá não porque temos os ideais e os princípios do Reino, mas porque nossas ações são bizarras, caducas e, por vezes, perversas. Tornamo-nos “discípulos” que decoramos meia dúzia de doutrinas, muitas das quais sincretizadas pelos vários tipos de denominações diferentes pelas quais passamos, e agora arrotamos um tipo de conhecimento bíblico que não tem nada a ver com o Espírito do Evangelho de Jesus. Como disse Charles Dickens, romancista inglês, temos “uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada”.

Olho para a Igreja e sinto que ela se parece com um exército de Playmobil. Sabe, aqueles bonequinhos feitos na década de 1980, todos iguaizinhos, mas com roupinhas diferentes? Somos nós!

Crentes de mente cauterizada, falando e pensando as mesmas coisas, incapazes de nos conectarmos ao mundo que nos rodeia, com o coração petrificado e os nervos enferrujados. Somos a geração do “crente em série”, gente que engole o tiranossauro e colhe o mosquito, que se escandaliza com tudo, cheia de fricotes e de frescuras, de condicionamentos comportamentais, de julgamentos sociais, de restrições sacramentais, e por aí vamos.

Tornamo-nos bonequinhos forjados na Igreja-Fábrica, gente neurotizada, infeliz e incompleta, mas querendo mudar o mundo. Ah, quanta utopia!

E há solução pra isso? Sei lá! Talvez jogando uma bomba e destruindo este mar de hipocrisia e insensatez resolva... O que nos falta é paixão, é vida com Deus, é singularidade, é percepção do eu, das incompletudes do ser, das idiossincrasias, das falácias humanas, da trave nos olhos, de nos vermos do tamanho que somos.

Impossível não lembrar de Da Vinci: “Todo conhecimento se inicia com sentimento”.

É verdade: sem amor, o que poderá ser aproveitado?


Carlos Moreira

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