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Jesus dizia a todos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me. Lucas 9:23.

13 outubro 2010

Morte: um Tema para os Vivos


Diz o livro de Eclesiastes: “melhor é ir a casa onde há luto do que ir a casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens...”, ou seja, quando estamos expostos à ambientes de morte acabamos refletindo melhor sobre os aspectos que estão relacionados à vida. Por isso é melhor estar na casa onde há luto, neste lugar de aflição e dor, de perda e de pranto, porque nele nos depararemos com dimensões existenciais que não encontramos facilmente em outros lugares. É lá que vemos de forma visceral sentimentos como a solidariedade, o afeto, a compaixão, o quebrantamento e a misericórdia, sendo esboçados espontaneamente, irrompendo do íntimo das pessoas, jorrando das fontes do coração.

Diante deste tipo de situação é impossível não nos questionarmos sobre a vida, sobre quem somos, como temos vivido, com quem nos relacionamos, como gastamos o nosso tempo. Eu não sei, mas talvez você desejasse ler algo que lhe catapultasse para cima, uma “auto-ajuda evangélica”, mas eu acredito que morte é um tema mais do que oportuno para ser tratado com os vivos. E digo-lhe isto porque a morte está permanentemente presente em nosso cotidiano, pois vida e morte são coisas que não podem ser separadas.

Não obstante isto, segundo a psicóloga Maria Helena Bromberg, “cada vez mais as pessoas têm dificuldade em falar e vivenciar a morte; os rituais de luto estão sendo segregados aos CTIs de hospitais e às salas de velório, organizadas de forma a tornar o contato com o morto (e a morte) o mais indolor possível”. A sociedade de consumo tenta dar à morte – ampliando o tabu que a envolve – uma nova embalagem, mais ascética e aceitável, tentando com isto contornar o seu impacto, amenizar seu significado, reduzir os transtornos que ela possa acarretar. O avanço da ciência e o tecnicismo dos nossos dias fizeram com que crescesse no mundo contemporâneo uma cultura de negação da morte.

É justamente isto que expõe o pensador Ernest Becker, a idéia de que o homem, a qualquer custo, faz um movimento para evitar a morte, cujo medo é uma condição universal humana. Max Scheler, o filósofo dos valores, diz que no ocidente todos nós fomos educados pelas tradições científica, capitalista e filósofo-mecanicista a compreender a morte como morte dos outros, um fenômeno externo que nada tem a ver conosco. O escritor Philippe Ariés, numa análise mais histórico-antropológica, fala-nos da evolução do comportamento humano constatando que a partir do século XII, havia maior dramaticidade e individualidade na maneira de considerar a morte. No século das Luzes, a morte começou a ser “colorida” com matizes românticas. Mas só a partir da segunda metade do século XX foi que toda referência ao tema começou a ser camuflada. A morte precisava ser escondida, por isso foi banida do espaço familiar. Outro grande expoente no tema, a psiquiatra Elisabeth Kubler-Ross, trabalha a idéia de que uma das razões para fugir de encarar a morte, é que, hoje em dia, morrer é solitário, mecânico e desumano. As pessoas são removidas de suas casas para hospitais e a família acaba por afastar-se do enfermo, que fica cada vez mais desamparado e triste.

Meu olhar simplista sobre a existência tem me levado a constatar que o medo que temos da morte acaba por nos tornar irresponsáveis para com a vida. Nós vivemos como se este conjunto do qual somos compostos, corpo, alma e espírito, fosse eterno. Não pensamos na morte, não falamos da morte, sequer cogitamos morrer, a não ser em ironias e anedotas. Evitamos funerais, hospitais, doentes terminais, e tudo aquilo, ainda que de forma subliminar, nos remeta ao ocaso. Achamos que somos de aço, mas, na verdade, somos apenas constituídos de osso. Benjamin Franklin escreveu: “o homem fraco teme a morte; o desgraçado chama-a; o valente procura-a; só o sensato a espera”.

Há um homem na bíblia chamado Ezequias, rei de Judá, que viveu durante os anos do profeta Isaías, por volta de 716 a.C. Considerado como um dos reis mais piedosos era também reto e temente a Deus, íntegro, fiel e irrepreensível. Talvez, por conta disto, é que Deus, na sua infinita misericórdia, tenha lhe avisado, por intermédio do profeta, que sua morte era iminente O texto na sua íntegra descreve a situação da seguinte forma, “... põe em ordem a tua casa, porque morrerás e não viverás”. Is. 38:1.

Inevitável não pensar: se Deus me desse este aviso, se eu estivesse um dia deitado na minha cama, na minha casa, como faço todas as noites antes de dormir, orando ao Senhor, e Ele me dissesse para eu por as coisas em ordem porque eu iria morrer, como é que eu reagiria? O que é que eu faria? Metódico como sou, provavelmente elaboraria uma lista de coisas que precisariam ser providenciadas. No checklist estariam ações do tipo: comunicar aos parentes e amigos; analisar e organizar a situação financeira; preparar a empresa para minha súbita saída; despachar pendências urgentes; e, por fim, talvez como um regalo, realizar, quem sabe, algum último desejo.
               
E você, o que faria ? O que estaria na sua lista? Você tem pendências? A quem avisaria? E as contas, como estão? Tem algo para consertar? Alguém para pedir perdão? E o trabalho? O compositor e cantor Paulinho Mosca, há alguns anos atrás, fez uma música para uma minissérie da Globo chamada “O Fim do Mundo”, onde cantava: ”o que você faria se só te restaste um dia ?”.

E é justamente aí, na hora do desfecho, no fim do trilho, no último lampejo de luz, que eu e você precisamos acordar e cair na realidade. É nesta hora, no momento de rever como se viveu a vida, porque a morte veio bater a porta que, não raro, um profundo vazio existencial toma conta de nós e um desespero sem precedentes nos invade.

Seria legítimo pensar: o que vou levar comigo quando o momento chegar? Separo roupa de inverno ou de verão? Levo dinheiro, cheque, cartão de crédito? Coloco na minha maleta escrituras de imóveis, contratos, algum carnê? Talvez o currículo atualizado, com os recortes de jornais e revistas onde apareci? Carrego algum pertence valioso ou algo de estimação? No dia da minha morte, levarei algo comigo?

Como seria bom que toda morte fosse como a morte de Ezequias, com conhecimento antecipado e tempo de preparação. O problema é que a morte normalmente não dá aviso, não manda recado e nem põe anúncio no jornal. Por isso lhe digo que há um grande equívoco quando pensamos que nós não vamos levar nada desta vida. Esta é uma frase que não reflete a verdade bíblica. Nós temos bagagem sim, e precisamos ter consciência disto, pois, quando Ele nos chamar, não teremos tempo para providenciar absolutamente nada.

Há três coisas que você levará consigo no dia da sua morte. Por isso, quero tentar lhe ajudar a prestar atenção na forma como você está arrumando a sua “mala”. Em primeiro lugar, segundo Mt. 16:27, VOCÊ LEVARÁ TODAS AS COISAS BOAS E RUINS QUE TIVER REALIZADO POR INTERMÉDIO DO CORPO. “Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então retribuirá a cada um segundo as suas obras”. Nós que nos dizemos “reformados” temos a empáfia de afirmar que não fomos salvos pelas obras, mas pela fé. É verdade. Mas fomos, segundo Tiago, salvos para as obras, pois sem obras, do que vale a nossa fé? Temo por aqueles que se afadigam em muitos “trabalhos” eclesiásticos, pois esquecem-se que “o obedecer é melhor do que o sacrificar”. Senhor, em teu nome fizemos isto, aquilo, e aquilo outro, e mais ainda... E Ele vos dirá: “apartai-vos de mim vós que praticastes a iniqüidade”. O pensador nos afirma: “possuis apenas aquilo que não perderás com a morte; tudo o mais é ilusão”.

Em segundo lugar, conforme 1a. Co. 13:8, VOCÊ LEVARÁ O BEM E O MAL QUE TIVER VIVIDO EM TODOS OS SEUS RELACIONAMENTOS. “O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará”. Relacionamentos são eternos! Jesus deu a sua vida por pessoas, não por instituições ou por qualquer religião ou filosofia. É por isso que “o próximo”, na Bíblia – o outro – aquele que está ao meu lado, é tão precioso para Deus, seja ele mulher, esposo, filho, amigo, irmão, ou o mendigo agonizante, o cego na beira do caminho, a prostitua acuada no flagrante da multidão, o leproso excluído da sociedade. Não esqueça a segunda parte do grande mandamento: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”!

Finalmente, em último lugar, conforme 1a, Co. 15:10, VOCÊ LEVARÁ CONSIGO TUDO AQUILO QUE VOCÊ SE TORNAR. Ricardo Gondim usa uma alegoria interessante para tratar deste tema. Ele afirma que no último dia, no último instante, tudo o que você é, tudo o que alcançou como construção no ser, tudo o que está impresso em seu caráter se cristalizará, como se uma foto fosse tirada de todas as suas dimensões existenciais, física, emocional, psíquica e espiritual e, naquele momento, cessasse o relógio de sua vida aqui na Terra, parassem todos os seus feitos. O filósofo diz: “quando morremos, deixamos atrás de nós tudo o que possuímos e levamos tudo o que somos”. Não é a toa que Paulo, aos Efésios, nos fala para caminharmos até chegarmos à dimensão da “Estatura de Cristo”, e em Romanos, nos oferece o alvo que temos que atingir uma vez que fomos predestinados para ser conforme a imagem do Filho. Você nasceu desconfigurado em relação aos propósitos de Deus, mas através do novo nascimento, depois de receber o Espírito, tem progressivamente sua consciência refeita para se tornar aquilo para o qual foi um dia sonhado pelo Pai, para produzir obras que dignifiquem o arrependimento.  

O livro de Eclesiastes nos ensina que a alma não cresce sem dor, e não se mantém sem alegria. Viver uma vida abundante é justamente isto: não se alienar nem fugir de dor alguma, mesmo que seja a dor da morte, mas, a partir de seus matizes, produzir significados que construam um ser melhor, com uma nova consciência e um coração pacificado na graça. Eu não sei o dia em que vou morrer. Aliás, não estou preocupado com isto. Me contento com o que diz Emil Cioran: “a morte é a coisa mais segura e firme que a vida inventou até agora“. Ademais, Jesus me ensinou que, no caminho, o importante não é como se morre, mas, sobretudo, como se vive.

 Carlos Moreira

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